quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Drácula de Bram Stoker, de Francis Ford Coppola (1992)

Quando revemos filmes que gostávamos bastante quando éramos mais novos por vezes corremos o risco de ficar desiludidos. Acabou de me acontecer isto ao rever «Drácula de Bram Stoker», a adaptação do romance gótico de Bram Stoker assinada por Francis Ford Coppola, realizador que admiro bastante. Não quero com isto dizer que o filme seja mau. Antes pelo contrário, é um grande filme de terror e faz justiça à obra que pretende adaptar. Mas vinte anos depois pareceu-me um filme que envelheceu mal, perdoem-me os fãs do filme.

Drácula é uma daquelas personagens que já chegou ao cinema através de inúmeros olhares. Dos mais clássicos «Nosferatu» ou «Drácula», realizados por F. W. Murnau e Tod Browning, respectivamente, aos mais recentes «Drácula 2000» (Patrick Lussier) ou «Lust for Dracula» (Tony Marsiglia). Em 1992 foi a vez de Francis Ford Coppola pegar na obra de Bram Stoker e filmar a história do vampiro, interpretado magistralmente por Gary Oldman, um dos melhores actores a interpretar vilões (o que neste caso até pode ser discutível). Os acontecimentos do filme centram-se na ida de Drácula a Inglaterra para ir ao encontro de Mina (Winona Ryder), a noiva do advogado Jonathan Harker (Keanu Reeves), que foi à Transilvânia levar um contrato de compra de propriedades em Londres a Drácula. As semelhanças de Mina com a esposa do conde, cujo trágico destino ficamos a conhecer no início do filme e que fez com que Drácula se torna-se no que é, levam o vampiro a seguir para Londres para a tentar conquistar. O resto é conhecido, com a perseguição levada a cabo por Van Helsing (Anthony Hopkins) para apanhar o seu inimigo.

Um dos grandes pontos fortes desta adaptação do romance de Bram Stoker é a recriação da época e do ambiente gótico, que se nota em inúmeros pormenores: desde o castelo de Drácula às ruas de Londres, passando pelo hospício onde está internado o louco Reinfeld (Tom Waits), servo de Drácula, e até na caracterização dos actores. O que acaba por desiludir são alguns efeitos especiais, que apesar de não serem maus, ficaram datados e ofuscam um bocado os pormenores góticos tão bem conseguidos. E a própria forma de filmar é um pouco distante do melhor Coppola, que no início dos anos 1990 era um realizador um pouco à deriva. Mesmo assim este é capaz de ser um dos seus melhores filmes, senão mesmo o melhor, desta fase.

Nota: 3/5

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terça-feira, 29 de novembro de 2011

Inquietos, de Gus Van Sant (2011)

Já aqui referi a estreia de «Inquietos», a mais recente longa-metragem de Gus van Sant, a propósito de «50/50». O tema é semelhante, mas a forma como é tratado nos dois casos não podia ser mais distante. Se o último é uma comédia dramática, sobre um jovem que enfrenta o cancro como uma luta, tentando ser positivo com a ajuda dos que lhe são próximos, «Inquietos» é o completo oposto, apesar de mesmo assim as personagens não verem o cancro como uma fatalidade, mas algo que infelizmente acontece. Como se se resignassem ao facto de uma das personagens poder morrer devido à doença e não ter muito a fazer se não aguardar a morte.

E é um grande filme. Arriscaria mesmo dizer que a história de amor entre Enoch (Henry Hopper, filho de Dennis Hopper, a quem este filme é dedicado) e Annabel (Mia Wasikowska, cada vez mais um talento em crescendo) captada por Gus van Sant é um dos mais belos filmes do ano. Ambos os protagonistas são jovens que vivem uma fase complicada da vida e o encontro entre os dois vai dar-lhes uma oportunidade para ultrapassarem os seus problemas juntos. Mesmo sabendo que alguns são inultrapassáveis. Enoch tenta afastar o luto pela morte dos pais e Annabel a doença que sabe ser fatal. Durante aqueles poucos meses em que ambos se apaixonam e vivem uma relação intensa tudo parece ser possível.

Com uma bela fotografia e uma bem conseguida banda sonora assinada por Danny Elfman, «Inquietos» não é um dos filmes mais experimentalistas de Van Sant, como «Elephant», «Gerry» ou «Last Days», mas antes um filme mais simples quando comparado com algumas obras recentes do cineasta. No campo da interpretação, é bom ver que Dennis Hopper deixou descendência à altura, apesar de se notar que Henry ainda precisa de evoluir mais. Mas neste primeiro papel já fez lembrar um pouco o pai quando era mais novo. Quanto a Mia Wasikowska, nada a apontar, a não ser que esta é uma das melhores jovens actrizes que tem surgido nos últimos anos. A versatilidade das suas interpretações volta a ser posta à prova neste filme onde, uma vez mais, consegue brilhar.

Nota: 4/5

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segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Banda Sonora: Two of Us, de The Beatles

«Two of Us», de The Beatles - Banda Sonora de «Inquietos», de Gus van Sant

sábado, 26 de novembro de 2011

As Consequências do Amor, de Paolo Sorrentino (2004)

Quando realizou «Il Divo - A Vida Espectacular de Giulio Andreotti» em 2008, um retrato do ex-presidente italiano Giulio Andreotti movido a anfetaminas, o realizador Paolo Sorrentino tornou-se um dos nomes mais conhecidos da cinematografia italiana recente. Mas foi com a sua segunda obra «As Consequências do Amor», realizado quatro anos antes, que começou a cimentar o seu espaço na Sétima Arte. Em comum a ambos os filmes encontramos pelo menos dois aspectos: Toni Servillo como actor principal e um modo de filmar bastante peculiar, com movimentos de câmara que por vezes parecem estranhos mas que se adequam perfeitamente à narrativa e à banda sonora, em tons de electrónica.

Em «As Consequências do Amor» travamos conhecimento com Titta di Girolamo (Toni Servillo), um homem com perto de 50 anos que vive sozinho num hotel situado na Suíça. Homem de poucas palavras e com uma maneira um pouco distante de ver o mundo e de lidar com todos os que o rodeiam, Titta acaba por se apaixonar por Sofia (Olivia Magnani), a empregada do bar do hotel onde vive, e o castelo que pensava ter erigido começa a desmoronar-se. Tal como ele já tinha previsto ao escrever uma nota, num dos momentos onde tenta evitar contacto com Sofia para não se ligar a ela, onde diz para não subestimar as consequências do amor.

É a história deste homem solitário, filmada através da tal forma peculiar de Sorrentino, estilo que será aprofundado mais tarde em «Il Divo...», que faz de «As Consequências do Amor» um filme que mesmo não sendo um dos grandes filmes italianos dos últimos anos, merece uma vista de olhos. Quem gostou do já citado «Il Divo...» vai de certo gostar de ver o início de carreira do realizador e pode contar com mais uma grande interpretação de Toni Servillo.

Nota: 3/5

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sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Os Tenenbaums - Uma Comédia Genial, de Wes Anderson (2001)

Um dos realizadores norte-americanos da actualidade que mais aprecio, como já aqui tive oportunidade de referir quando escrevi sobre «O Fantástico Sr. Raposo», é Wes Anderson. E o grande culpado é este grande (para não dizer enorme) filme, realizado no início da década passada e que deve ser, muito provavelmente, o filme que mais vezes vi e há-de ser sempre um dos meus favoritos. Não só é um grande filme sobre uma família disfuncional, cujo 'chefe de família' Royal Tenenbaum é um dos melhores personagens a quem Gene Hackman deu vida (apenas uma no historial deste actor que tem andado um pouco afastado da ribalta), mas também porque todo o filme faz parte de um universo muito bem criado. Esta capacidade de criar universos bastante peculiares é precisamente uma das características que mais me agrada na obra de Wes Anderson.

Falando particularmente de «Os Tenenbaums - Uma Comédia Genial», esta é a história de uma família meio estranha cujos alicerces começam a ruir quando Royal decide separar-se da esposa Etheline (Angelica Huston), decisão que vai ter grande influência negativa no crescimento dos três filhos prodígio do casal: Chas (Ben Stiller), um génio da alta finança, Richie (Luke Wilson), um ás precoce do ténis, e Margot (Gwyneth Paltrow), filha adoptiva do casal e autora de diversas peças de teatro. Depois de um genial início onde a história da família é contada como se fosse o prólogo de um livro (aliás o filme está precisamente separado por capítulos como se fosse mesmo um livro que estamos a ver em vez de ler), regressamos ao presente, quando Royal descobre que a sua esposa (o casal nunca se chegou a divorciar de facto) está prestes a receber uma proposta de casamento de Henry Sherman (Danny Glover), o contabilista da família. Royal planeia então regressar a casa e tentar redimir-se e recuperar o tempo perdido, inventando um cancro que lhe daria poucos dias de vida.

É este regresso do pai 'pródigo' que espoleta um conjunto de reacções em cadeia que mexe com todos os três filhos e faz deste filme um daqueles momentos mágicos de cinema onde tudo está no lugar certo. A história, os personagens, a fotografia, a banda sonora e por aí fora. Até Owen Wilson, actor que não consigo ser grande fã, a não ser precisamente nos filmes filmes de Wes Anderson, e que aqui assina também o argumento (o que não é inédito na obra do realizador), consegue estar à altura do filme. E tem um dos finais que mesmo sendo triste consegue ser ao mesmo tempo belo e irónico (e não são todos os filmes de Anderson um pouco irónicos?) como poucos conseguem ser. Que nos deixa com uma lágrima no canto do olho e com um sorriso nos lábios. Este é mesmo um daqueles filmes para ver e rever, vezes sem conta.

Nota: 5/5

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quinta-feira, 24 de novembro de 2011

50/50, de Jonathan Levine (2011)

(crítica com spoilers)
Abordar um tema como o cancro não é fácil. Curiosamente estrearam recentemente dois filmes com esta temática: «Inquietos», de Gus van Sant, e «50/50», de Jonathan Levine. Se o primeiro tem um teor mais dramático (não posso abordá-lo demasiado por ainda não o ter visto, algo que deverá estar para breve), o segundo é uma comédia dramática sobre a luta pela vida de um jovem de 27 anos que descobre ter um cancro bastante raro e cujas hipóteses de sobrevivência são 50/50.

Protagonizado por Joseph Gordon-Levitt, com uma interpretação à altura do que nos tem vindo a habituar, o terceiro filme de Jonathan Levine vai um bocado no caminho do anterior «Wackness - À Deriva», ao ser um daqueles filmes indie feel good com uma boa história que acaba por se perder no caminho. «50/50» falha sobretudo por ter demasiados clichés que o tornam bastante previsível e infelizmente não traz muito de novo. Já sabemos por quem a personagem principal se vai apaixonar, que os seus companheiros de quimioterapia mais velhos são levados da breca, etc., etc.

A interpretação de Gordon-Levitt está fabulosa, como já referi dentro do registo normal deste grande actor que tem conseguido gerir uma boa carreira entre o cinema independente e um cinema mais popular, e a presença de Seth Rogen como melhor amigo de Adam (Joseph Gordon-Levitt) foi uma boa escolha, pois nota-se mesmo uma grande empatia entre os dois actores. E não nos podemos esquecer que a presença de Rogen é sempre garantia de bons momentos divertidos, que balançam com os períodos mais complicados da vida de Adam. O esforço de ambos merecia ter sido mais bem recompensado, num filme que acaba por não ser mais do que um feel good movie com muito potencial perdido. E Jonathan Levine volta a não convencer-me, apesar de ter o mérito de ter conseguido não cair num tom mais lamechas que o tipo de filme que «50/50» é facilmente poderia ter.

Nota: 3/5

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Em Cartaz: Semana 24/11/2011

Imortais, de Tarsem Singh
Um Método Perigoso, de David Cronenberg
Arthur Christmas, de Sarah Smith
Habemus Papam - Temos Papa, de Nanni Moretti

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Nos Idos de Março, de George Clooney (2011)

Seis anos depois de «Boa Noite, e Boa Sorte», um dos melhores filmes dos últimos dez anos vindos dos lados de Hollywood, George Clooney volta a realizar um filme político. Infelizmente, o resultado fica bastante longe do título protagonizado por David Strathairn sobre o 'confronto' entre o jornalista Edward R. Murrow e o senador Joseph McCarthy, em plena época da caça às bruxas (comunistas). Mas há alguns pontos de contacto entre os dois: um grande elenco, sobretudo a nível de secundários (Marisa Tomei, Paul Giamatti, Philip Seymour Hoffman ou o próprio Clooney), a temática política e até, apesar de ser um aspecto pouco abordado, um certo olhar sobre os Media.

«Nos Idos de Março» é a história de Stephen Meyers (Ryan Gosling, um dos melhores actores da actualidade, para mim, e que está a atravessar um período de estado de graça), um homem com cerca de 30 anos que é um dos principais responsáveis pela campanha eleitoral do governador Mike Morris (George Clooney), um dos candidatos democratas à Casa Branca. O filme relata um período específico que remonta às primárias do partido realizadas no estado do Ohio, considerado fundamental para as aspirações dos dois candidatos.

Mas não é a campanha em si que está no centro do filme, antes os meandros dessa mesma campanha e os jogos de bastidores, nem sempre muito claros, que acabam por colocar Stephen no olho do furacão: quando surgem várias pequenos incidentes que podem pôr em causa a campanha de Morris ou mesmo a carreira de Stephen, todos se começam a mexer para aproveitar a situação. Uns melhor do que os outros, como sempre, e com mais ou menos escrúpulos. Esta faceta está muito bem representada e talvez «Nos Idos de Março» possa ser visto como um certo olhar desiludido sobre a política norte-americana e os tais jogos de bastidores um pouco obscuros.

Tudo o resto peca por ser pouco explorado. As várias histórias que vão ocorrendo acabam por ser despachadas à velocidade da luz, sobretudo à medida que o filme se vai aproximando do filme, e dois dos principais secundários (Giamatti e Seymour Hoffman) estão um pouco mal aproveitados, quase como que para encher um buraco. Resta uma boa interpretação de Gosling e um ou outro achado, mas não chega para fazer um bom filme.

Nota: 3/5

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segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Jovem e Inocente, de Alfred Hitchcock (1937)

«Jovem e Inocente» foi o penúltimo filme de Alfred Hitchcock feito no Reino Unido e já nessa altura o realizador mostrava azo de vir a ser um dos mestres do suspense. Este filme, de 1937, não foge à regra ao contar a história de Robert Tisdall (Derrick De Marney), um homem que se vê acusado do homicídio de uma célebre actriz, que apenas vemos no início do filme: quando tem uma discussão com o seu marido e mais tarde numa excelente sequência onde Hitchcock nos baralha com um braço que parece pertencer a um banhista a nadar, até que acabamos por nos aperceber que o braço pertence ao cadáver da actriz a dar à costa.

Uma pequena confusão provocada por duas jovens que acusam Robert de ter fugido do local do crime, quando apenas pretendia alertar as autoridades, faz avançar uma trama bem conhecida dos fãs dos filmes de Hitchcock: a fuga de um inocente enquanto tenta provar a sua inocência com a ajuda de uma companheira. Neste caso trata-se da filha de um dos chefes da polícia que está no encalço de Robert, o que acaba por causar problemas a todos. E, uma vez mais, o que acaba por interessar a Hitchcock é a relação entre o par e não necessariamente o assassinato da actriz, que facilmente sabemos quem foi.

Dois grandes momentos de «Jovem e Inocente» dão também mostras do gosto que Hitchcock tinha em deixar a audiência em suspense: a cena da mina, quando Erica (Nova Pilbeam), a amada de Robert, está prestes a cair nas profundezas, e todo o final do filme, quando encontramos o assassino e o seu tique que acaba por ser a marca que nos ajuda a identificá-lo. A forma como esta sequência está feita mostra toda a genialidade do mestre Hitchcock.

Para os curiosos, o filme pode ser visto no YouTube, o link está aí em baixo.

Nota: 4/5

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Banda Sonora: Love Like A Sunset Part I, de Phoenix

«Love Like A Sunset Part I», de Phoenix - Banda Sonora de «Somewhere - Algures», de Sofia Coppola

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

TCN Blog Awards 2011: A Última Sessão nomeado na categoria de Melhor Artigo

Acabam de ser conhecidos os nomeados da edição deste ano dos TCN Blog Awards, iniciativa promovida pelo blogue Cinema Notebook que visa distinguir o que de melhor se faz na blogosfera portuguesa dedicada ao Cinema e Televisão. Tal como no ano passado, quando este cantinho recebeu uma nomeação, que confesso que muito me orgulhou, na categoria de Melhor Novo Blogue, «A Última Sessão» volta a estar no lote dos nomeados, desta vez na categoria de Melhor Artigo, pelo texto «Para onde vão os espectadores do Cinema português?». A concorrência é demasiado forte, e tal como no ano passado, não conto ganhar. De qualquer forma, as votações arrancam amanhã no Cinema Notebook e convido-vos a conhecer os restantes candidatos, alguns muito mais fortes do que o meu texto, e a votar. Aproveito também para dar os parabéns aos restantes candidatos em todas as categorias, que merecem tanto ou mais do que eu. Os vencedores vão ser conhecidos no próximo dia 7 de Janeiro.

Banda Sonora: Fantastic Mr. Fox aka Petey's Song, de Jarvis Cocker


«Fantastic Mr. Fox aka Petey's Song», de Jarvis Cocker - Banda Sonora de «O Fantástico Senhor Raposo», de Wes Anderson

Em Plena Selva, de Tod Browning (1928)

Tod Browning e Lon Chaney, não há que enganar, formaram uma das grandes duplas do cinema mudo. O primeiro como realizador e o segundo como actor, fizeram 10 filmes em conjunto durante os anos 1920 e a parceria só não deu mais frutos, inclusive na versão de «Drácula» assinada por Browning, que queria ter Chaney no papel do conde, devido à morte precoce do actor aos 47 anos. O azar de uns, abriu portas a outros e a mítica adaptação do romance de Bram Stoker feita por Tod Browning para a Universal acabou por dar à Sétima Arte uma outra lenda dos filmes de terror: Bela Lugosi.

«Em Plena Selva» («West of Zanzibar», no original) foi o nono dos dez filmes de Browning protagonizado por Chaney e uma vez mais somos transportados para ambientes à margem da sociedade e de certa forma com tons onde reina o macabro e o estranho. Tudo começa quando o mágico Phroso (Lon Chaney) descobre que a sua esposa e companheira de palco Anna (Jacqueline Gadsden) vai fugir com o amante Crane (Lionel Barrymore, outro actor conhecido dos fãs do realizador). Antes da fuga propriamente dita e numa luta entre os dois Phroso cai de uma altura elevada e fica paralítico.

É nesta condição que o encontramos passados alguns anos, em plena selva a Oeste de Zanzibar como refere o título original do filme, onde se tornou líder de uma tribo local. E é neste cenário que planeia a sua vingança contra o homem que lhe destruiu a vida e a da sua antiga esposa. Tal como em «O Homem Sem Braços», também de Browning, Chaney mostra aqui uma vez mais alguma versatilidade em encarnar um personagem que tem de se adaptar à falta de condições físicas para conseguir sobreviver e levar a cabo os seus planos. O resultado é um excelente filme de terror do período mudo, onde Chaney e Browning provam porque foram uma dupla de sucesso: o primeiro por ter criado uma nova personagem que consegue impressionar o espectador, apesar de no fundo ainda ter alguma réstia de humanidade, como se vê no final do filme, e o segundo a criar um ambiente fantástico, que nos leva a mundos reais, mas que muitas vezes são escondidos à generalidade das pessoas. Mundos que foram a base do cinema de Browning, um cineasta que merece ser descoberto para além do bastante conhecido «A Parada de Monstros». À falta de trailer no YouTube, deixo-vos a sequência inicial.

Nota:4/5

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domingo, 13 de novembro de 2011

O Fantástico Senhor Raposo, de Wes Anderson (2009)

Declaração de interesses: o autor deste blogue é um grande fã da obra de Wes Anderson. Há mistérios na distribuição em Portugal que não se percebem. Um dos maiores dos últimos tempos foi como é que este filme não teve direito a chegar às salas de cinema. Isto apesar de ter sido realizado por um dos grandes cineastas norte-americanos da actualidade, na sua estreia no mundo da animação, de ter sido nomeado para o Óscar de Melhor Filme de Animação (o que nos dias que correm até nem é grande justificação, mas sempre podia ser um chamariz para as bilheteiras), de contar com um elenco de luxo encabeçado por George Clooney e Meryl Streep e, finalmente, por ser um grande filme, que, como a maior parte dos filmes de animação recentes, tanto atrai um público infantil como um público mais adulto.

«O Fantástico Senhor Raposo» é, até à data, o último filme de Wes Anderson, cineasta que foi homenageado pelo Estoril & Lisbon Film Festival deste ano com uma retrospectiva integral da sua obra. O realizador só não esteve presente no evento, apesar de ter feito pequenos vídeos de apresentação para cada um dos seus filmes projectados, por estar a finalizar a sua próxima longa-metragem. Baseado num livro de Roald Dahl, «O Fantástico Senhor Raposo» foi o primeiro filme de Anderson em animação, feito na técnica de stop motion. Nele assistimos à história do Senhor Raposo (George Clooney), uma raposa que acede ao pedido da sua companheira (Meryl Streep) de deixar uma carreira de sucesso como ladrão de galinheiros para se dedicar à família, numa altura em que a sua parceira anuncia estar grávida.

Alguns anos mais tarde, o senhor Raposo, farto da monotonia do seu trabalho de cronista num jornal local, resolve regressar ao activo para um último golpe: roubar três quintas, cada uma especializada em produtos diferentes. Depois de convencer o seu amigo Kylie (Wallace Wolodarsky), um dos personagens mais deliciosos do filme, ambos partem para novas aventuras, que acabam mal, com a retaliação dos donos das quintas que põe em causa toda a vida animal da região.

Além desta história, que mistura alguma acção, há também a relação do senhor Raposo com o filho e a família e com a restante comunidade de animais, cada um com as suas características próprias e com as vozes de actores que habitualmente encontramos nos filmes de Wes Anderson, que vem dar alguma moral ao filme. E findo o filme, ficamos agarrados e cativados por estas estranhas criaturas, que no fundo apenas querem sobreviver e se comportam como humanos. E continuamos sem perceber, como é que este filme não chegou às salas.

Nota: 4/5

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sábado, 12 de novembro de 2011

O Labirinto do Fauno, de Guillermo del Toro (2006)

Durante os primeiros dez anos deste século se houve alguém que conseguiu levar o cinema fantástico às massas esse nome foi Peter Jackson, autor da brilhante adaptação da trilogia «O Senhor dos Anéis» ao grande ecrã. Mas dentro deste género houve um outro nome, talvez não tão conhecido, mas que também pode ser considerado um mestre nesta área, chamado Guillermo del Toro, que nos trouxe uma grande obra. Trata-se de «O Labirinto do Fauno» e é um filme extraordinário que mistura o fantástico, alguns pozinhos de horror e até traços de filme de época, pois a acção decorre durante a Guerra Civil de Espanha. Cenário que já tinha sido palco de outro excelente filme do mexicano, este um pouco mais de terror, mas também com alguns aspectos do género fantástico, chamado «Nas Costas do Diabo».

Mas centremo-nos em «O Labirinto do Fauno», filme que conta a história de Ofelia (Ivana Baquero), uma criança órfã de pai que vai com a mãe Carmen (Ariadna Gil), grávida em estado avançado, viver com o padrasto, o capitão Vidal (Sergi López) do exército franquista que foi destacado para uma região montanhosa para derrotar os rebeldes comunistas. Quando o filme arranca parece que estamos perante um drama de guerra, mas o livro que Ofelia leva consigo, onde ela lê uma estranha lenda, e o surgimento de um estranho insecto que a rapariga confunde com uma fada vai ser o ponto de partida para que uma outra lenda comece a ganhar forma e Ofelia se veja envolvida num conjunto de missões para fazer cumprir essa mesma lenda.

Não sendo um filme que possa agradar a todos, sobretudo os que não gostam de muita fantasia, «O Labirinto do Fauno» é sem dúvida uma das obras mais peculiares dos primeiros anos deste século. Não só a nível do próprio fantástico, que está bem presente numa grande história com ambientes e criaturas bastante bem conseguidas, que ainda hoje continuam a deliciar como há cinco anos (não foi à toa que o filme ganhou três Óscares em categorias técnicas nesse ano), mas também pela própria prestação dos actores. Aqui, o destaque vai para o capitão Vidal, um personagem bastante sádico interpretado de forma magistral por Sergi López, e também para Maribel Verdú, que interpreta uma das criadas do capitão que ajuda os rebeldes e se torna das poucas amigas de Ofelia num ambiente hostil para a criança, que vê na história do fauno um escape para a realidade. E com Guillermo del Toro vamos com Ofelia em busca de um mundo melhor.

Nota: 5/5

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quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Ukbar Filmes apresenta 1º teaser de «Florbela»

A Ukbar Filmes acaba de colocar on-line o primeiro teaser para «Florbela», o segundo filme de Vicente Alves do Ó, realizador de «Quinze Pontos da Alma». Com estreia prevista para Fevereiro de 2012 e protagonizado por Dalila Carmo, Albano Jerónimo e Ivo Canelas, o filme é apresentado como um retrato íntimo de Florbela Espanca, uma das maiores poetisas portuguesas do século XX.

Eis o teaser, para aguçar o apetite:

Em cartaz: Semana 10/11/2011

O Bom Coração, de Dagur Kari
Alta Golpada, de Brett Ratner
Inquietos, Gus Van Sant
Nos Idos de Março, de George Clooney
Sem Tempo, de Andrew Niccol
Histórias de Shanghai - Quem Me Dera Saber, de Jia Zhang-ke

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Os Amantes da Ponte Nova, de Leos Carax (1991)

Outro dos nomes que está a ser homenageado na presente edição do Estoril & Lisbon Film Festival é Leos Carax, cineasta francês com escassa obra (quatro longas e cinco curtas em 30 anos de carreira, desde «Strangulation Blues», a primeira curta, realizada em 1980) mas com um enorme culto. Razão mais do que suficiente para aproveitar e ver um ou outro título seu.

Protagonizado por Juliette Binoche e Denis Lavant, o filme retrata a história de Alex, um vagabundo que vive na Ponte Neuf de Paris durante as obras de restauração da ponte, que se apaixona por uma jovem pintora, também sem-abrigo, que um dia aparece na ponte e tem como particularidade sofrer de uma doença que poderá torná-la cega dentro de pouco tempo. Ao longo do filme vamos vivendo com esta dupla uma história de amor entre duas pessoas inadaptadas que acaba por ter um destino trágico quando Alex descobre um pouco mais sobre o passado da sua companheira e a separação está iminente.

Além de ser uma bela história, com duas grandes interpretações, «Os Amantes da Ponte Nova» tem alguns pontos de contacto com a longa de estreia de Leos Carax, «Boy Meets Girl»: a personagem principal é interpretada pelo mesmo actor, ambas têm o mesmo nome, toma medicamentos semelhantes e vive o amor de uma forma bastante forte. Denis Lavant é, aliás, presença constante na obra de Carax e volta a ter aqui uma grande presença neste caso.

Não conhecendo a restante obra do realizador, apenas assisti ao já referido «Boy Meets Girl» e a «Merde», um dos três episódios do filme colectivo «Tóquio!», deu para reparar que Carax gosta de filmar personagens à margem da sociedade. E em pelo menos dois dos filmes, histórias de amor complexas, com cenas muito belas. Na memória ficaram pelo menos duas, uma de «Boy Meets Girl» e outra de «Os Amantes da Ponte Nova»: no primeiro, quando Alex sai de casa com um antepassado dos velhinhos leitores de cassetes e enquanto ouve uma música de David Bowie («When I Live My Dream», banda sonora desta semana, ali ao lado) cruza-se com um casal que se beija numa ponte e em paralelo a personagem feminina dança no seu quarto (pode ser vista aqui); em «Os Amantes da Ponte Nova» é também uma cena passada numa ponte, quando o par dança pela primeira vez, durante um fogo de artifício que abrilhanta os céus de uma Paris nocturna (a cena pode ser vista aqui). Para quem não conhece, a obra de Leos Carax merece ser conhecida.

Nota: 4/5

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Banda Sonora: When I Live My Dream, de David Bowie

«When I Live My Dream», de David Bowie - Banda Sonora de «Boy Meets Girl», de Leos Carax

domingo, 6 de novembro de 2011

Killer Joe, de William Friedkin (2011)

Longe vão os dias de ouro da carreira de William Friedkin, autor de dois grandes clássicos dos anos 1970: «Os Incorruptíveis Contra a Droga» e «O Exorcista», este um filme que apesar de ter influenciado bastante cineastas da área do terror acabou por ficar datado. A última vez que um filme de Friedkin chegou ao cinema foi em 2006, com o estranho «Bug». Este ano regressou com «Killer Joe», que, tal como o anterior, é baseado numa peça de teatro da autoria de Tracy Letts. Mas desta vez o resultado final é mais acessível.

O filme conta a história de uma família do Texas que vive num parque de roulotes e cujo filho Chris (Emile Hirsch) convence o pai Ansel (Thomas Haden Church) a matar a sua mãe, que não vive com eles, para assim conseguirem ter direito a um seguro de vida que será entregue à filha mais nova do casal Dottie (Juno Temple). Para tratarem do assunto contratam Joe Cooper (Matthew McConaughey), também conhecido como Killer Joe, um polícia corrupto e com poucos escrúpulos que tem uma carreira de assassino profissional nas horas vagas. Mas, como seria de esperar, nem tudo corre como previsto e a falta de dinheiro para pagar o contrato coloca a jovem Dottie no meio da trama, como caução. A relação entre Dottie e Joe acaba por espoletar o resto do filme, que oscila entre a comédia e o drama para contar a história das relações bastante peculiares de uma família e um grupo de pessoas que não tem onde cair morta e faz tudo por dinheiro.

Sendo baseado numa peça de teatro, nota-se também alguma teatralidade em «Killer Joe», o filme, sobretudo quando se tratam de cenas passadas na casa da família. A principal diferença em relação a «Bug» é a presença de um maior número de personagens em cena. E, tal como no anterior filme de Friedkin, as interpretações são o ponto forte, com grande destaque para Matthew McConaughey, muito, mas mesmo muito longe daquilo que estamos habituados a ver, e Thomas Haden Church, num daqueles papéis que irá ficar para sempre na memória de quem vir «Killer Joe». Não será um dos melhores filmes de sempre, mas é muito provavelmente o melhor filme de William Friedkin, cineasta que está a ser alvo de uma homenagem na edição deste ano do Estoril & Lisbon Film Festival, em muitos anos.

Nota: 4/5

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sábado, 5 de novembro de 2011

Eragon, de Stefen Fangmeier (2006)

Quando «Eragon» chegou às salas de cinema, já a versão da trilogia «O Senhor dos Anéis» filmada por Peter Jackson tinha alguns aninhos. Curiosamente, o livro que serve de base a este filme foi publicado pelo então jovem Christopher Paolini no ano em que estreou o terceiro capítulo daquela saga. Mas o único ponto de contacto entre as duas obras é apenas o facto de decorrerem num universo fantástico. A história é um pouco diferente. Eragon é um jovem camponês que encontra um misterioso objecto numa das suas idas à floresta. Passados alguns dias descobre que esse objecto é um ovo de dragão e começam aqui as suas aventuras.

Encabeçado por um elenco com nomes sonantes (Jeremy Irons, Robert Carlyle, John Malkovich ou Djimon Hounsou), «Eragon» não é tão grandioso como a trilogia de Peter Jackson, mas acaba por ser um filme que até se vê bem. A história é chapa 4: o herói fica sem família e é o escolhido para levar a cabo uma missão onde tem de derrotar uma ameaça do passado na companhia de um grupo de guerreiros e mágicos. O principal defeito do filme, contudo, é a falta de espessura das personagens, pois o argumento de Peter Buchman não nos dá suficiente informação sobre o passado das mesmas. O que, com um elenco destes, é pena. Os actores quase não têm oportunidade de se expandir. Não sei se o objectivo seria aprofundá-las em sequelas, mas estas nunca chegaram a ser feitas e pelos vistos não há planos para o fazer, apesar do sucesso dos livros de Christopher Paolini. O próprio actor principal (Ed Speleers, no seu primeiro papel no cinema) ainda não demonstra muito à vontade neste papel.

Pelo contrário, onde Stefen Fangmeier marca pontos é no campo dos efeitos especiais, que não ficam atrás de outros filmes dentro deste género. O facto de a especialidade do realizador, que tem em «Eragon» o seu filme de estreia na cadeira de realizador, ser originário desta área talvez seja a justificação para que a melhor parte seja mesmo esta. A forma como o dragão interage com as restantes personagens e a batalha final estão muito bem conseguidos. Faltou o resto para que este fosse o primeiro filme de mais uma trilogia de sucesso.

Nota: 3/5


Site do filme no IMDB

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Dois anos

Passam bastante depressa. E cá estou eu a comemorar o segundo aniversário do blogue. Não sei bem como é que cheguei aqui, nem se vou continuar. Como devem ter reparado, nas últimas semanas as actualizações foram escassas. A falta de tempo, um pouco de preguiça e dúvidas em manter ou não este espaço têm sido os principais responsáveis por esta paragem. Já tinha acontecido no passado e provavelmente esta fase irá ser ultrapassada, mais dia, menos dia. Até porque não tenho estado necessariamente parado na blogosfera. Criei um outro blogue (aqui), um pouco mais pessoal e onde falo de tudo, incluindo cinema.

Lembro-me que quando criei «A Última Sessão» fi-lo por duas razões: porque gosto de Cinema e porque gosto de escrever. Estas duas paixões, felizmente, continuam vivas. Por isso, penso que vou voltar a actualizar o blogue com alguma regularidade, só ainda não sei em que moldes. Quero aproveitar esta data para agradecer aos meus seguidores (50, segundo o contador ali ao lado, número que me deixa bastante contente) e a todos os visitantes do blogue. Sem vocês, muito provavelmente já o tinha encerrado. Mas acho que passado algum tempo e quando vemos que temos pessoas que nos acompanham e gostam do nosso trabalho, temos a 'obrigação' de os respeitar. Mais uma razão para este espaço regressar em breve aos eixos.

Aproveito também para agradecer a quem me segue no Facebook, assim como a todas as pessoas que tenho conhecido por lá, nomeadamente no grupo dos bloggers cinéfilos, algumas das quais têm sido companheiras de sessões que combinamos regularmente. Penso que não vale a pena referir nomes, porque vocês sabem quem são. E como esta mensagem já está demasiado grande, resta-me acabar por desejar parabéns a mim e que venham mais aniversários para comemorarmos aqui. Obrigado a todos e até já!