Para o meu regresso nada melhor do que um texto sobre um dos filmes que mais gostei de ver nos últimos tempos. Falo de «Um Lugar Para Viver» o mais recente de Sam Mendes, cineasta que não me tem defraudado e de cuja obra apenas me falta ver «Caminho Para a Perdição». Dez anos depois da sua estreia com o muito recomendável «Beleza Americana», Sam Mendes brinda-nos com uma bela história de um jovem casal no início dos 30 anos, com poucas perspectivas de futuro, que se vê a braços com uma gravidez inesperada. O que nós vamos vendo é o percurso deste estranho par - o aluado Burt Farlander (John Krasinski) e a sua amada com os pés mais assentes na terra Verona De Tessant (Maya Rudolph) - à procura de um rumo para as suas vidas.
Esta busca passa por diversas etapas que correspondem a lugares que o casal percorre para tentar identificar o seu 'lugar para viver'. (Nota: esta não é a tradução literal do título. Uma vez mais as distribuidoras resolvem 'inventar' títulos. No original «Um Lugar Para Viver» é «Away We Go», que nos remete para os 'capítulos' que Sam Mendes utiliza para segmentar o filme: Away to Montreal, Away to Tucson, etc.)
Pelo caminho vão tendo conversas e vivem alguns dias com amigos e familiares mais ou menos estabelecidos na vida, que lhes dão uma imagem do que eles podem vir a ser. Sempre num tom de comédia agridoce, a lembrar alguns filmes de cinema independente que volta e meia temos a sorte de ver em sala. Estou a lembrar-me de «Uma Família à Beira de um Ataque de Nervos» ou «Juno», apenas para me focar em dois exemplos mais recentes. E um dos pontos de contacto com «Juno» é a excelente banda sonora. Apesar de recorrer a um estilo de música diferente, as músicas de Alexi Murdoch, nome que não conhecia e foi uma agradável surpresa ficar a conhecer, caem muito bem.
Para rematar, este filme é uma óptima surpresa, com um Sam Mendes a regressar ao cinema mais simples, apostando em actores pouco conhecidos do cinema. Tirando Jeff Daniels e Catherine O'Hara, que interpretam os pais de Burt, e Maggie Gyllhenhaal, são poucas as caras conhecidas. O próprio par protagonista é desempenhado por duas figuras que vêm da televisão dos EUA: ele é uma das caras da versão norte-americana do «The Office» e ela é proveniente da fábrica «Saturday Night Live».
E é curioso que estamos perante um filme bastante actual, à semelhança do que já se podia constatar com «Nas Nuvens», de Jason Reitman. O que este casal atravessa e as questões que enfrentam devem passar pelas cabeças de inúmeros casais dos dias de hoje. Se daqui a uns anos a minha opinião em relação a «Um Lugar Para Viver» mudar não me admiraria muito. Mas que este, tal como «Nas Nuvens», é um filme realizado na altura certa, não haja a menor das dúvidas. Por enquanto é um dos meus favoritos de 2010.
Nota: 5/5
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