quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Cães Danados, de Quentin Tarantino (1992)

Se Quentin Tarantino é um dos realizadores mais aclamados nos dias de hoje, tal deve-se sobretudo a «Pulp Fiction», filme que lhe abriu as portas da Sétima Arte em 1994 quando conquistou a Palma de Ouro em Cannes e três nomeações para os Óscares (Melhor Filme, Realizador e Argumento Original, assinado a meias com Roger Avary), das quais ganharia uma estatueta. Mas foi dois anos antes que o ex-empregado de um videoclube que afirma nunca ter estudado Cinema (assim reza a lenda) começou a dar nas vistas no Festival de Sundance, a Meca do cinema independente, onde apresentou «Cães Danados».

Tudo o que vemos nesta obra de estreia (oficialmente, pois há quem diga que Tarantino fez um outro filme nos anos 1980 mas que é hoje renegado por ele próprio) vamos encontrar mais tarde na restante obra do realizador. Em primeiro lugar temos uma homenagem a um género específico. Neste caso trata-se de um policial de série B que retrata o rescaldo de um assalto a uma joalharia que corre mal, pois um dos elementos do grupo de assaltantes traiu o golpe avisando a polícia. Outro dos aspectos reconhecíveis na filmografia de Tarantino são os diálogos, escritos de forma imaculada e quase perfeitos. Logo o primeiro, quando os assaltantes falam sobre «Like a Virgin», de Madonna, indicia mais um dos amores de Tarantino: as grandes bandas sonoras de autores meio perdidos no tempo, mas que ficam no ouvido. É também através destes diálogos que o realizador homenageia os seus ídolos. Para os mais atentos, em «Cães Danados» encontramos um diálogo sobre Pam Grier, actriz que mais tarde foi escolhida para interpretar «Jackie Brown».

A forma como a história é contada, através de inúmeros flashbacks que servem para apresentar as personagens, é outra das imagens de marca do realizador, que irá ser aprofundada mais tarde nos filmes seguintes. Por fim, temos as personagens sui generis e os actores escolhidos para as interpretar. Neste primeiro filme ainda não temos grandes estrelas, mas encontramos nomes com algum estatuto: Harvey Keitel, Chris Penn, Michael Madsen, Steve Buscemi ou Tim Roth, por exemplo. «Cães Danados» não é um filme perfeito, mas está lá perto. Foi a primeira grande homenagem que Tarantino fez a um certo tipo de Cinema que o realizador gosta e que continuaria a fazer ao longo da sua carreira quando abordou filmes Blaxploitation («Jackie Brown»), filmes de ninjas (o díptico «Kill Bill»), grindhouse («À Prova de Morte») ou um certo tipo de western spaghetti adaptado à II Guerra Mundial («Sacanas Sem Lei»). E este é um daqueles filmes que quase pode ser visto como uma declaração de interesses de um realizador estreante, que resolve mostrar as cartas e ao que vai logo na primeira obra.

Nota: 4/5

Site do filme no IMDB

9 comentários:

  1. Um óptimo filme naquilo que tenta fazer, muito tenso, com personagens e diálogos inesquecíveis.

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  2. Na época assisti o filme no cinema e tive uma grata surpresa.

    Tarantino era um desconhecido que estreou da melhor maneira possível.

    Abraço

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  3. Narrador, nem mais. Está tudo no lugar certo e aqui já conseguimos mesmo ver o que viria depois.

    Hugo, infelizmente não tive oportunidade de o ver em sala, mas acredito que deve ter sido uma grande surpresa na altura.

    Cumprimentos aos dois

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  4. Parabens pelo blog. Gostei muito.
    E a propósito, o filme tambem é ótimo, tanto pelos personagens como por seus dialogos em cena. Caracteristica certa nos filmes de Tarantino.
    Abraço!

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  5. Obrigado e bem-vindo.

    Cumprimentos e volte sempre

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  6. Juntamente com Pulp Fiction o meu preferido dele.

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  7. Eu nos últimos tempos tenho andado com sentimentos mistos em relação ao Tarantino. Já foi o meu realizador favorito, mas quando revejo os filmes dele, sobretudo os mais recentes, parece que já não gosto tanto, apesar de continuar a gostar. É estranho.

    Abraço

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  8. Ainda não tive essa sensação mas rever acho que só os 2 primeiros que são precisamente os meus favoritos como disse.

    Mas vi há pouco tempo o Inglorious Basterds e adorei.

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  9. Eu acho que são sempre filmes que vale a pena ver e rever. A questão é que quantos mais filmes vejo e todas aquelas referências que ele faz nos filmes dele acaba por não me dar tanto gozo, porque no fundo não é nada de novo. Uma coisa que ele faz muito bem é recriar géneros e isso ninguém lhe pode tirar o mérito

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