Há já alguns meses que «Carlos», de Olivier Assayas, era um dos filmes bastante aguardados por estes lados, sobretudo pela curiosidade histórica que esta personagem mítica do século XX desperta. A desilusão surge logo no início do filme, quando uma mensagem alerta para o facto de dificilmente a vida de uma personalidade destas poder ser conhecida com detalhe. Mas ao menos não nos podemos queixar que não nos avisaram. «Carlos» é de facto um retrato do terrorista de origem venezuelana, também conhecido como Chacal, que serviu a causa palestiniana (ou a sua própria causa, nunca se chega a perceber, muito menos com o filme de Assayas).
Talvez um dos problemas de «Carlos» para cinema, filme que se baseia numa mini-série para televisão com mais de cinco horas, seja mesmo o que ficou de fora. Não o posso comparar, pois apenas vi a versão curta de duas horas e meia, que foi a que chegou às salas. E nota-se que falta muita coisa, mas que não sei se estará na versão televisiva. A começar, o filme apenas se centra nos anos 1970, passa ao de leve pelo início dos anos 1990 com a queda do Muro de Berlim e as consequências de um novo mundo que resultam desse acontecimento histórico e tem uma longa parte final em 1994, no Sudão, onde Carlos é apanhado pelas autoridades francesas que o levam preso. O resto não é abordado, inclusive os anos 1980, como se nesse período Carlos e o seu grupo estivesse inactivo, o que não aconteceu de facto. Aliás, praticamente só uma das suas acções, talvez a mais espectacular (se assim se pode designar um acto terrorista) é que é explorada: o rapto dos ministros da OPEP em Viena. Ou seja, mesmo que fosse um retrato completo do terrorista, seria incompleto.
De louvar a interpretação de Édgar Ramírez no papel de Carlos, num daqueles papéis que apenas aparecem uma vez na vida e que o actor, curiosamente também venezuelano como o terrorista, protagoniza de forma magistral, com falas em várias línguas e com caracterizações diferentes consoante a fase do terrorista. Pena que o retrato acabe por se tornar quase como uma caricatura de Carlos, o que justifica as palavras pouco simpáticas que o visado proferiu quando visualizou a sua história contada por Olivier Assayas. Menos mal no retrato fica a banda sonora e a forma como «Carlos» está filmado, quase sempre de câmara na mão. Falta agora ver a versão longa para saber se o retrato de Carlos ficou de facto bastante bom, como muitos dizem que ficou. A versão para cinema falha o objectivo de contar um período bastante interessante do século XX que continua nebuloso.
Nota: 3/5
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