sábado, 11 de junho de 2011

Carlos, de Oliver Assayas (2010)

Há já alguns meses que «Carlos», de Olivier Assayas, era um dos filmes bastante aguardados por estes lados, sobretudo pela curiosidade histórica que esta personagem mítica do século XX desperta. A desilusão surge logo no início do filme, quando uma mensagem alerta para o facto de dificilmente a vida de uma personalidade destas poder ser conhecida com detalhe. Mas ao menos não nos podemos queixar que não nos avisaram. «Carlos» é de facto um retrato do terrorista de origem venezuelana, também conhecido como Chacal, que serviu a causa palestiniana (ou a sua própria causa, nunca se chega a perceber, muito menos com o filme de Assayas).

Talvez um dos problemas de «Carlos» para cinema, filme que se baseia numa mini-série para televisão com mais de cinco horas, seja mesmo o que ficou de fora. Não o posso comparar, pois apenas vi a versão curta de duas horas e meia, que foi a que chegou às salas. E nota-se que falta muita coisa, mas que não sei se estará na versão televisiva. A começar, o filme apenas se centra nos anos 1970, passa ao de leve pelo início dos anos 1990 com a queda do Muro de Berlim e as consequências de um novo mundo que resultam desse acontecimento histórico e tem uma longa parte final em 1994, no Sudão, onde Carlos é apanhado pelas autoridades francesas que o levam preso. O resto não é abordado, inclusive os anos 1980, como se nesse período Carlos e o seu grupo estivesse inactivo, o que não aconteceu de facto. Aliás, praticamente só uma das suas acções, talvez a mais espectacular (se assim se pode designar um acto terrorista) é que é explorada: o rapto dos ministros da OPEP em Viena. Ou seja, mesmo que fosse um retrato completo do terrorista, seria incompleto.

De louvar a interpretação de Édgar Ramírez no papel de Carlos, num daqueles papéis que apenas aparecem uma vez na vida e que o actor, curiosamente também venezuelano como o terrorista, protagoniza de forma magistral, com falas em várias línguas e com caracterizações diferentes consoante a fase do terrorista. Pena que o retrato acabe por se tornar quase como uma caricatura de Carlos, o que justifica as palavras pouco simpáticas que o visado proferiu quando visualizou a sua história contada por Olivier Assayas. Menos mal no retrato fica a banda sonora e a forma como «Carlos» está filmado, quase sempre de câmara na mão. Falta agora ver a versão longa para saber se o retrato de Carlos ficou de facto bastante bom, como muitos dizem que ficou. A versão para cinema falha o objectivo de contar um período bastante interessante do século XX que continua nebuloso.

Nota: 3/5

Site oficial do filme

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