domingo, 26 de setembro de 2010

A Casa da Praça Trubnaia, de Boris Barnet (1928)

O cinema soviético do período mudo é sobretudo conhecido por grandiosos filmes de propaganda que relatam os episódios da Revolução Russa. Sergei Eisenstein é o nome mais conhecido dessa geração, mas há muitos nomes que a integraram e que não são tão conhecidos nos dias de hoje. Inclusive alguns fizeram comédias. Um desses exemplos de comédias é «A Casa da Praça Trubnaia», de Boris Barnet. Tal como os filmes dos seus companheiros da altura, este é um filme de propaganda onde se exaltam os valores da sociedade soviética e os inimigos são os burgueses.

No caso deste filme o tema principal é o papel dos sindicatos e a importância destas associações para evitar a exploração laboral. A história de «A Casa da Praça Trubnaia» é a de Paracha Pitunova (Vera Maretskaia), uma jovem que é enviada do campo para Moscovo para se encontrar com o tio, que por um acaso do destino está a chegar à sua aldeia quando o comboio parte para a capital russa. Na grande cidade Paracha vai deparar-se com um mundo novo onde é fácil perder-se e acaba por ir parar precisamente à casa da Praça Trubnaia, um edifício comunitário, e é contratada como doméstica por um casal de burgueses, que só a aceita por não estar sindicalizada, logo, potencialmente não trará problemas.

É esta a base da história, que depois vamos acompanhando, com a jovem a chegar ao sindicato e com o seu patrão a acabar na polícia, onde lhe vão traçar a sentença por não respeitar os direitos da funcionária. Mas «A Casa da Praça Trubnaia» vai muito para além da história, não fosse este um filme soviético. Como noutros casos, aqui dá-se muita importância ao que é filmado, não só às personagens.

Há três momentos muito bem conseguidos neste excelente filme de Boris Barnet: o acordar de Moscovo, com a filmagem de cenas da cidade acompanhadas com entre-títulos que nos explicam como são as primeiras horas de Moscovo até as ruas ficarem cheias de gente; a filmagem do prédio comunitário num corte transversal que nos mostra em simultâneo o que se passa nos vários andares; e por fim, a utilização de objectos em movimento para dar a ideia de som que não havia na altura. Por exemplo, a genialidade dos planos em que a jovem está irritada com o patrão e a câmara foca diversos tachos e cafeteiras ao lume com água a ferver.

Apesar de pouco conhecido, tanto o filme como o próprio género no cinema soviético do período mudo, este é um excelente filme que nos permite descobrir uma faceta daquele período cinematográfico que vai muito para além de Eisenstein.

Nota: 5/5

Site do filme no IMDB

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