
«Com a Maldade na Alma», título português de «Hush...Hush, Sweet Charlotte», de Robert Aldrich
Quem é (ou foi) Leonard Zelig? É esta a pergunta que Woody Allen nos faz em «Zelig». Protagonizado pelo próprio cineasta, como é habitual na maior parte das suas obras, este é um falso documentário sobre uma figura bastante peculiar: um estranho homem que tem a capacidade de se transformar consoante as pessoas com quem está. Ou seja, se Leonard estiver ao lado de um grupo de índios, transforma-se aos poucos em índio, se estiver num grupo de pessoas gordas, sucede o mesmo. No fundo é apenas uma forma de Zelig se adaptar ao ambiente onde se encontra.
Há precisamente 10 anos um realizador apresentou um filme no Festival de Cannes que fez chocar as audiências e os relatos de pessoas a abandonar as sessões repetiram-se um pouco por todo o lado, tal era a violência da história retratada e a forma como foi apresentada, sem grandes rodeios. O realizador chamava-se Gaspar Noé e o filme «Irreversível». Foi preciso esperar sete anos e quatro curtas para o cineasta francês voltar a realizar uma longa-metragem, que chega às salas portuguesas com um atraso de três anos, depois de muito se ter falado nele e já poucos acreditarem na sua estreia neste canto da Europa. Mais um dos milagres da distribuição lusa.
Quem viu «Fome», a obra de estreia de Steve McQueen realizada em 2008, sabe que este cineasta oriundo do universo das artes plásticas não filma como a maioria dos realizadores actuais. Naquele caso Steve McQueen conseguiu transformar a história da greve de fome de um grupo de prisioneiros do IRA numa daquelas experiência que quem vê em sala dificilmente esquece, tal é o murro no estômago que nos é dado. «Vergonha» é mais uma dessas experiências, apesar de o resultado final ser um bocado inferior.
A saga de Harry Potter já lá vai e Daniel Radcliffe começa agora a libertar-se da série que lhe trouxe fama. Num dos seus primeiros filmes pós-Harry Potter o actor continua ligado ao universo do fantástico, mas mais no género do terror, algo um pouco diferente da série criada por JK Rowling, dirigida para um público mais juvenil. Em «A Mulher de Negro» Radcliffe interpreta o papel de Arthur Kipps, um advogado viúvo em dificuldades financeiras que parte para uma aldeia inglesa isolada onde tem de tratar da venda da mansão de uma estranha mulher entretanto falecida. Apesar dos avisos da população para se afastar da mansão Arthur acaba por ir mesmo à mansão e apercebe-se aos poucos que as superstições locais se calhar até têm alguma razão de ser.
Apesar do que o título pode aparentar, este não é um filme para adultos. «Caçadores de Vampiras Lésbicas» é a segunda e bastante sofrível longa-metragem de Phil Claydon, muito provavelmente um daqueles filmes que os razzies adoram distinguir e que nós pensamos no final: porque raio é que eu estive a perder tempo com isto. Tudo começa com uma lenda britânica em torno de Carmilla, a rainha das vampiras lésbicas que antes de ser morta às mãos de Wolfgang MacLaren lança uma maldição sobre a localidade de Cragwich e os descendentes do barão. O último descendente da linhagem MacLaren é Jimmy (Mathew Horne), um jovem dos dias de hoje que acaba de ser deixado mais uma vez pela namorada e resolve partir numa caminhada com o seu melhor amigo Fletch (James Corden), um palhaço que foi despedido por bater numa criança. O local escolhido é precisamente Cragwich, onde vão travar conhecimento com um grupo de estudantes alemãs e com as célebres vampiras lésbicas do título.
Romeo (Jérémie Elkaïm) conhece Julliete (Valérie Donzelli) numa festa. Uma troca de olhares e apaixonam-se perdidamente. Assim que ela diz o seu nome ele graceja com o facto e diz que sabe que aquela história não vai acabar da melhor forma. E de repente acabámos de assistir a uma das mais belas cenas que tive a oportunidade de ver numa estreia recente. Mas esta não é uma história de amor destinada a ser uma tragédia, como acontece na peça de William Shakespeare. Meses depois nasce o pequeno Adam que começa a sofrer alguns problemas de saúde e cujo diagnóstico não é o melhor: um tumor raro no cérebro. É esta doença que vai marcar a vida do casal para sempre.
Martin Scorsese fez um filme para um público mais jovem. E em 3D. Ditas desta forma, assim simples, as duas frases anteriores poderiam parecer mentira há alguns anos. Mas hoje, neste ano da graça de 2012, não são. Martin Scorsese, o realizador de «Taxi Driver», «Tudo Bons Rapazes» ou o mais recente «The Departed - Entre Inimigos», conseguiu a proeza de juntar num só filme aquelas duas características que lhe desconhecíamos, criando uma obra singular no seu percurso, que só não é de todo estranha aos seus fãs devido à homenagem que faz aos primórdios do Cinema e a um dos grandes nomes dos primeiros anos da Sétima Arte, que levou a magia a entrar directamente no grande ecrã: George Mélies.