Há precisamente 10 anos um realizador apresentou um filme no Festival de Cannes que fez chocar as audiências e os relatos de pessoas a abandonar as sessões repetiram-se um pouco por todo o lado, tal era a violência da história retratada e a forma como foi apresentada, sem grandes rodeios. O realizador chamava-se Gaspar Noé e o filme «Irreversível». Foi preciso esperar sete anos e quatro curtas para o cineasta francês voltar a realizar uma longa-metragem, que chega às salas portuguesas com um atraso de três anos, depois de muito se ter falado nele e já poucos acreditarem na sua estreia neste canto da Europa. Mais um dos milagres da distribuição lusa.
O resultado final é «Viagem Alucinante», uma enorme trip passada em Tóquio onde a personagem principal, o traficante de droga e toxicodependente Oscar (Nathaniel Brown), vive e acaba por morrer com um tiro. A viagem de Oscar surge quando o jovem morre e o seu espírito sai do corpo e começa a deambular pelos céus da capital japonesa para acompanhar as restantes personagens, nomeadamente a sua irmã mais nova Linda (Paz de la Huerta), com quem tem uma ligação bastante peculiar. Pelo meio deste percurso, com base numa teoria budista da reencarnação, Oscar recupera os principais momentos do seu passado e procura um novo corpo para prosseguir a sua vida terrena.
Não sendo tão violento como «Irreversível», apesar de uma ou outra cena poder provocar algum aperto no estômago dos mais sensíveis, «Viagem Alucinante» vinca o estilo de filmar que Gaspar Noé tinha proposto no seu filme mais conhecido e que lhe deu nome e fama, sobretudo numa certa forma de utilizar movimentos de câmara bastante bruscos. Outra das características deste filme é o facto de a câmara mostrar apenas e só o que Oscar vê, o que faz de «Viagem Alucinante» uma experiência da qual não é possível sair do ponto de vista da personagem principal.
E, tal como «Irreversível», ver este filme em sala é uma verdadeira experiência, sobretudo graças aos efeitos e luzes que atravessam o ecrã ao longo do filme. Peca contudo pela história, que não é nada de especial e apenas parece que lá está para ajudar Noé a mostrar um certo virtuosismo no manejo da câmara, o que até certo ponto acaba por enjoar, pois a mistura de luzes psicadélicas e movimentos bruscos não é de todo a melhor combinação para duas horas e meia de filme sem parar. É este o grande ponto fraco de «Viagem Alucinante», filme que irá de certo dividir opiniões mas não deixa de ser uma experiência curiosa.
Nota: 3/5
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