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É esta a experiência relatada por Hunter S. Thompson ao longo do livro, sem que se saiba se o que foi escrito correspondeu ou não à veracidade dos factos. Não é de admirar, tal a quantidade de drogas que couberam na mala do carro. Por exemplo, sabe-se que a personagem de Raoul Duke é autobiográfica, mas ninguém sabe se o Dr. Gonzo existiu de facto ou não. Há quem diga que se tratava de Oscar Zeta Acosta, que acompanhou Thompson por duas vezes a Las Vegas em 1971 na qualidade fonte de uma história que Thompson estaria a investigar.
A primeira viagem ocorre em Março aproveitando uma proposta da Sports Illustrated para acompanhar uma corrida no deserto. De acordo com o escritor, o resultado da sua prosa nasceu em 36 horas sozinho num quarto de hotel a escrever sobre as suas experiências num bloco de notas. Este primeiro texto foi rejeitado pela Sports Illustrated, mas um editor da Rolling Stone gostou da história e resolveu publicá-la, o que acaba por acontecer em Novembro de 1971.
Em Abril ocorre a segunda viagem a Las Vegas dos dois. Desta vez o objectivo de Hunter S. Thompson era cobrir uma conferência de procuradores distritais onde o tema era: droga. A conferência era só um pretexto para o jornalista recolher mais informação para a reportagem e o resultado foi mais uma trip em formato texto. Foram estas duas experiências a origem de «Delírio em Las Vegas», uma reportagem que deu um dos livros que é do mais estranho que há e ao mesmo tempo uma original obra sobre os efeitos da droga na primeira pessoa. Nunca sabemos ao certo se o que é relatado é fruto do que aconteceu ou nasceu do abuso das drogas por parte de Hunter S. Thompson.
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Hunter S. Thompson terá sido fundamental na escolha da dupla, pois considerou que apenas Depp, de quem era amigo, poderia interpretar a sua personagem. Foi o próprio Thompson que deu luz verde à contratação de Gilliam. Apesar deste elenco e de ser baseado num livro de culto, os resultados de bilheteira foram desastrosos: pouco mais de 10 milhões de dólares, numa produção que custou 18 milhões.
O filme é um dos melhores de Terry Gilliam e é bem à imagem do realizador norte-americano, que recorre muitas vezes a animações para mostrar as alucinações das personagens. Logo a abrir vemos a dupla a fugir de morcegos inexistentes, que Raoul teima em considerar uma ameaça. Nessa mesma cena surge um dos muitos cameos do filme: Tobey Maguire. A partir daqui é sempre a abrir, de trip em trip. Johnny Depp está irreconhecível (careca) e tem um dos seus grandes papéis. A banda sonora, muito anos 1960/1970, e com destaque para os Jefferson Airplane, é perfeita para acompanhar esta viagem delirante pelos meandros de Las Vegas e o sonho americano. Mais um clássico dos anos 1990 que vale a pena ver ou rever.
Duas cenas para abrir o apetite:
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