Épico é a palavra indicada para descrever «O Nascimento de Uma Nação», muito provavelmente o primeiro grande filme da História do Cinema. Em quase todos os aspectos pois se não fosse a segunda metade e as ideias que aí se defendem, seria bem melhor. Realizado em 1915 por David W. Griffith e com cerca de três horas de duração, o filme não é, como o título poderá indicar, a História dos EUA, mas o retrato do período em que os EUA se tornaram o país que hoje é: uma federação de estados unida depois de uma Guerra Civil que deixou marcas bastante profundas no país.
Este período mais negro da História dos EUA é contado por Griffith através de duas famílias, uma do Norte e outra do Sul, que estão ligadas por laços de amor e amizade. «O Nascimento de Uma Nação» é um grande e muito bom filme, sobretudo na primeira metade, quando aborda a guerra. A forma como foram recriadas algumas batalhas é assombrosa se nos lembrarmos que estamos a falar de um filme feito em 1915. E além da história que nos é contada, baseada no romance «The Clansman», de Thomas E. Dixon, Griffith recriou alguns episódios verdadeiros que ocorreram na época retratada com a ajuda de relatos da altura.
O problema de «O Nascimento de Uma Nação» é a segunda metade. Depois do fim do conflito, que deu vitória ao Norte e marcou o princípio do fim da escravatura, o filme passa a centrar-se no Sul. E aqui começa a ganhar contornos racistas. De início os recém libertados negros, que conquistam o poder, são retratados bastante negativamente e a solução para 'libertar' o Sul desta 'anarquia' (termo utilizado no filme) é o Ku Klux Klan, um grupo supremacista branco ainda hoje existente nos EUA.
É este o grande problema desta obra-prima do Cinema, que já na altura da estreia provocou polémica e levou David W. Griffith a esgrimir argumentos com os críticos, escudando-se com a liberdade de expressão. Isso é visível numa mensagem que o realizador resolveu colocar num entre-título antes do filme começar. Uma mancha que, contudo, não tira o mérito artístico a «O Nascimento de Uma Nação». Não fosse precisamente esta segunda metade e as ideias propagadas e eu daria uma nota superior. Mas não consigo gostar mais de um filme com tais argumentos, apesar de recomendar a sua visualização, pois é de facto um grande filme e pode ser visto completo no link abaixo.
Nota: 4/5
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