Muitos defendem que há livros que não podem ser transpostos para o grande ecrã com bons resultados. E há diversos casos em que isso acontece. Mas também há vários realizadores que já provaram que isso não é verdade e fazem grandes filmes. O chileno Raúl Ruiz passou a entrar neste último grupo com «Mistérios de Lisboa», baseado na obra homónima de Camilo Castelo Branco, um folhetim típico do popular escritor português do século XIX.
O excesso de sub-enredos que se afastam da história principal, a história do jovem João/Pedro da Silva, acaba por tornar «Mistérios de Lisboa» uma autêntica árvore de onde saem os ramos dedicados às personagens, que se iniciam no período anterior às invasões napoleónicas e acabam mais de 50 anos depois deste episódio histórico. O trabalho de Raúl Ruiz era pois épico e consegue cumprir a missão que se propôs, com uma óptima reconstituição histórica, recorrendo a um elenco maioritariamente português, com caras mais conhecidas por participarem em telenovelas. Mas neste registo completamente diferente das novelas, actores como Maria João Bastos, Ricardo Pereira ou Adriano Luz, que poderiam afastar alguns cinéfilos mais 'conservadores', estão todos muito bem, com excelentes interpretações.
Apesar de ter quase 4 horas e meia, o que também poderá afastar muita gente do filme, estas passam, não se pode dizer a correr, mas sem que nos ocorra o tempo a passar. O realizador chileno conseguiu fazer estes «Mistérios de Lisboa» uma obra que se vê bem, que apesar dos constantes flashbacks que são utilizados para contar as várias estórias dos personagens, não se perde e não deixa o espectador à deriva.
Para quem gosta de filmes históricos e da obra de Camilo Castelo Branco, «Mistérios de Lisboa» é um excelente filme. Quem não gosta deste tipo de temas, não vale a pena arriscar as quase cinco horas no cinema. Sempre pode esperar pela estreia da versão para televisão, prevista para o próximo ano, com seis episódios de uma hora cada. É mais tempo, claro, mas sempre se pode ver de outra forma, e talvez até seja a melhor maneira de honrar o espírito de folhetim da obra original.
Nota: 5/5
Site oficial do filme
A Linha da Extinção
Há 6 horas
Gostei da premissa do filme, me parece interessante! Parabéns pelo blog. Te sigo aqui e linkei ao meu! abs
ResponderEliminarObrigado e bem-vindo. Este foi um dos melhores filmes que vi em sala nos últimos tempos. Apesar da sua duração (mais de quatro horas) é um bom filme e vê-se bastante bem. Algo que infelizmente não é muito comum no cinema português.
ResponderEliminarCumprimentos e volta sempre.
Gosto de filmes históricos, nunca li nada to Castelo Branco, mas não gosto de grandes novelices. Deixei também a crítica no meu blog, e em resumo não gostei nada do filme. Mas, especificamente em relação ao teu comentário, discordo completamente com a prestação dos (de alguns) actores.
ResponderEliminarJá tens lugar nos meus recomendados ! ;)
Nem todos podemos gostar do mesmo :) Eu achei que o filme está bem conseguido e apesar de não conhecer a obra em que se baseia, daquilo que conheço de Camilo Castelo Branco parece-me que está à altura. Até porque é um escritor que puxa muito por esta faceta do romantismo e dos folhetins. E acho que ao contrário do que pensas, os actores não estiveram assim tão mal. Penso que nós é que não estamos habituados a vê-los neste registo. Vou dar uma olhadela na tua crítica, geralmente só o faço depois de ver os filmes em causa.
ResponderEliminarObrigado, também já estás no Multiplex.