Oito anos depois de «Esquece Tudo o que te Disse» António Ferreira regressou às longas metragens com «Embargo». Baseado num conto de José Saramago, o filme segue as desventuras de Nuno (Filipe Costa), o inventor de um digitalizador de pés com o qual acredita irá revolucionar a indústria do calçado e fazer fortuna. Mas um embargo petrolífero e vários azares pelo caminho acabam por deitar por terra as suas ambições e tudo à sua volta se começa a desmoronar, incluindo o emprego numa roulotte de bifanas e a compaixão da família, que começa a ficar farto das suas utopias.
«Embargo» já foi comparado ao universo dos irmãos Coen e a espaços consegue sê-lo, sobretudo no que diz respeito à má sorte que persegue Nuno, a quem tudo parece acontecer, e às grandes personagens secundárias que vão surgindo a espaços, como o maneta que ninguém reparou que é maneta. Mas faltava um pouco mais de espessura ao argumento de Tiago Sousa, para fazer de «Embargo» um dos melhores filmes portugueses deste ano.
Mas também quase pode ser comparado a um western alternativo à portuguesa, sem índios nem cowboys. Não só por alguns cenários que quase se assemelham a paisagens desérticas, neste aspecto a fotografia do filme dá uma boa ajuda a criar esta imagem, como a própria banda sonora se assemelha a algumas músicas que nos remetem para aquele imaginário. Sem ser um filme tão bom como o anterior «Esquece Tudo o que te Disse», o novo filme de António Ferreira prova que é um dos realizadores mais originais que tem aparecido por cá. Só faltou um bocadinho 'assim' para ser um filme melhor.
Nota: 3/5
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