Serge Gainsbourg é um dos maiores ícones da cultura francesa e da cultura popular do século passado. Quando estamos prestes a chegar ao 20º aniversário da sua morte, que ocorreu em Março de 1991, estreou um biopic sobre a sua vida. «Gainsbourg (Vida Heróica) é precisamente esse retrato para a Sétima Arte. Assinado por Joann Sfar, autor gaulês de banda desenhada, o filme é uma adaptação de uma das suas novelas gráficas, precisamente sobre a vida do cantor francês, autor de «Je t'aime, Moi Non Plus».
Mas o que talvez tenha resultado nas pranchas de BD, na tela de cinema parece não ter os melhores resultados. Esta adaptação aborda alguns episódios da vida de Serge Gainsbourg, desde que é uma criança judia que tem de fugir dos nazis até à sua morte, onde já tinha uma certa imagem de decadência associada à sua persona. Para quem conhece a vida do cantor, o filme é uma abordagem singular à sua carreira: vemos as suas inúmeras paixões, como a diva Brigitte Bardot (que no filme é interpretada por Laetitia Casta, que parece fotocópia da original) ou Jane Birkin (Lucy Gordon), que mais tarde será mãe de Charlotte Gainsbourg, fruto desta relação; e as polémicas em que Gainsbourg se viu envolvido com as letras das suas canções, não só no caso da já referida «Je t'aime...» mas também numa versão do hino francês, «A Marselhesa», gravada na Jamaica com músicos de reggae que não foi bem recebida no seu país natal.
O problema é que este filme parece não ter sido feito para quem não conhece a carreira de Serge Gainsbourg. Não há contextualização do que se está a passar, os episódios sucedem-se, aparentemente cronologicamente pois vemos a personagem envelhecer ao longo do filme, e quem não conhecer a história fica um pouco à deriva. O que foi o meu caso, que entrei neste «Gainsbuourg (Vida Heróica) para conhecer a história do ícone. No final do filme o realizador explica numa frase que o que lhe interessa não é as verdades de Gainsbourg, mas sim as mentiras. Não parece desculpa.
Há também uma outra característica, que talvez tenha a ver com a carreira principal de Joann Sfar, que não fica bem. Trata-se da presença de um boneco, que funciona como a consciência de Serge Gainsbourg, mas que se intromete demasiadas vezes, e às tantas não sabemos se não será uma outra personalidade do próprio Serge Gainsbourg. É pena esta confusão toda, pois a interpretação de Eric Elmosnino é muito boa. Fez-me lembrar a interpretação de Marion Cottilard quando desempenhou o papel de Edith Piaff, com as devidas diferenças. Bastava que «Gainsbourg (Vida Heróica)» fosse um pouco mais terreno, para ser um bom filme sobre a vida de Serge Gainsbourg.
Nota: 2/5
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