João Paulo II morreu. No Vaticano, dezenas de cardeais reúnem-se em conclave para escolher o novo Santo Padre e a escolha recai sobre o cardeal Melville (Michel Piccoli). A princípio renitente o novo Papa, pressionado pelos outros cardeais que não queriam tal cargo a aceitar o posto, lá acaba por aceitar a tarefa de ser o líder da Igreja Católica. Mas quando chega a hora de enfrentar os fiéis e se apresentar ao mundo como o sucessor de João Paulo II, Melville sofre um ataque de pânico e desaparece nos corredores do Vaticano.
É este o ponto de partida de «Habemus Papam - Temos Papa», o último filme de Nani Moretti, que volta a dar uma perninha como actor, desta vez no papel de um psicanalista contratado pela Santa Sé para 'curar' o novo Papa e tentar resolver o assunto. Não se trata de um filme sobre Religião e os que tinham medo que este fosse uma sátira/crítica à Igreja Católica realizada por Moretti, como se temeu segundo o próprio realizador já admitiu em entrevistas, podem estar enganados. Isto apesar de uma ou outra bicada lá pelo meio, mas nunca sem ser um ataque frontal. «Habemus Papam - Temos Papa» é uma comédia séria, por vezes em tons melancólicos, bem ao estilo de Moretti, sobre a solidão de alguém que tem a oportunidade de chegar ao topo da hierarquia do universo onde sempre viveu e não sabe o que fazer a partir de agora. Tratando-se de alguém já com uma certa idade, esta ansiedade e sentimento de não estar à altura de tamanha responsabilidade pesa ainda mais na cabeça de Melville.
E este retrato é possível graças à presença de um actor, o francês Michel Piccoli, nome grande (enorme, diria eu) que nos tem habituado a grandes interpretações desde os anos 1950 em filmes dos principais realizadores europeus e que neste caso volta a brilhar como nunca. Só aquela cena final (um dos grandes finais vistos nos últimos tempos) é de uma sinceridade brutal que espelha bem o que vai na alma da personagem. A fuga de Melville pelas ruas de Roma pode ser vista por muitos como um acto de cobardia, mas mais não é do que um acto de coragem de alguém que quer saber o que se passa consigo próprio.
«Habemus Papam - Temos Papa» não é um filme extraordinário, mas é um bom filme, algo cada vez mais raro no cinema italiano dos últimos anos. Apesar de algumas falhas (um cardeal perdido em Roma, quando toda a gente está de olho no que se passa no conclave, sem que ninguém dê por ele é no mínimo estranho...mas não nos podemos esquecer que é um filme e é essa a magia da Sétima Arte), tem grandes achados, sobretudo nas sequências onde a personagem de Moretti dialoga com os cardeais. O psicanalista é mesmo o lado oposto da moeda neste filme: Melville está fora do Vaticano, em liberdade, e ele está preso, porque em período de conclave ninguém que esteja dentro do Vaticano pode sair enquanto não for anunciado o nome do novo Papa. Podia também abordar uma certa crítica velada aos Media, mas penso que o texto já se alongou e resta-me dizer: temos filme!
Nota: 4/5
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