Há filmes sobre os quais é difícil escrever, tal é a admiração que temos por eles. Daí há dias, depois de ter (re)visto «Manhattan», a primeira coisa que me lembrei de partilhar aqui sobre este filme foi um dos planos mais belos daqueles 96 minutos: Woody Allen e Diane Keaton debaixo da ponte de Brooklyn, depois de uma caminhada nocturna pelas ruas de Nova Iorque, numa belíssima fotografia a preto e branco. Estão ali duas das chaves do filme e, acrescentaria eu, de toda a obra do cineasta. Uma homenagem à cidade, local por onde Woody Allen tantas vezes nos levou, e as (sempre complicadas) relações entre casais.
Há quem diga que este é um filme sobre Nova Iorque. Não o vejo tanto assim. Para mim «Manhattan» é tanto um filme sobre Nova Iorque, como o mais recente «Meia Noite Em Paris» é um filme sobre a capital francesa. Apesar de o espírito de ambas as cidades estar bastante bem captado nos dois filmes, sobretudo nas magnificas sequências iniciais de ambos, «Manhattan» é, mais uma vez na obra de Allen, um filme sobre relações como só o realizador as sobre mostrar, através das picuinhices e neuroses da sua muito peculiar personagem.
Desta vez encontramos Allen na pele de Isaac, uma homem divorciado na casa dos 40 apaixonado por Tracy (Mariel Hemingway), a sua muito jovem namorada de 17 anos. Apesar da paixão que os une, Isaac tudo faz para que a relação não se torne uma prisão para os dois, sobretudo para a jovem, pois acredita que ela tem de ter mais experiências e não deve ficar logo agarrada a alguém tão velho. Em contraponto à relação instável entre Isaac e Tracy, temos um casal amigo, Yale (Michael Murphy) e Emily (Anne Byrne), que vivem uma situação aparentemente mais estável até que surge em cena a amante de Yale: Mary (Diane Keaton). São todos estes dilemas, ao qual se junta ainda a paixão entre Isaac e Mary, depois de ele abandonar Tracy e ela abandonar Yale, que fazem de «Manhattan» um dos melhores filmes de Allen e desde agora o meu favorito do realizador.
Está lá tudo. Excelentes diálogos, cenas lindíssimas filmadas num preto e branco que funciona de forma perfeita (todas aquelas cenas onde as personagens surgem quase como se fossem sombras, desde o já referido plano da ponte de Brooklyn à visita ao museu, são inúmeros os exemplos) e uma história que fica a milhas de muitos filmes centrados no Amor e nas relações complexas entre casais, que tanto poderia resvalar para a comédia idiota (em momentos segue por aí, mas sempre ao melhor estilo de Woody Allen e os seus dilemas tão estranhos que parecem impossíveis de acontecer - mas nunca nos aconteceram situações semelhantes às que são retratadas nos filmes de Allen?), como para o dramalhão de fazer chorar as pedras da calçada. Felizmente não envereda por nenhum dos dois caminhos.
Se depois de ver isto não se começar a gostar de Woody Allen, não há nada a fazer. Mas perde-se toda a magia de um dos melhores filmes de sempre, onde as relações são retratadas quase como elas são de facto e feito numa das melhores cidades do mundo. Quem já lá esteve, sabe do que estou a falar.
Nota: 5/5
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