domingo, 22 de janeiro de 2012

Noite na Terra, de Jim Jarmusch (1991)

Crítica com spoilers
Cinco cidades (Los Angeles, Nova Iorque, Paris, Roma e Helsínquia), cinco táxis, cinco histórias. Tudo isto se passa no mesmo dia e à mesma hora e é isto que nos mostra Jim Jarmusch na sua quinta longa metragem «Noite na Terra». Recorrendo a sketches cómicos (algo que também encontramos noutras obras do realizador), mesmo se o último for mais trágico que cómico (bem, depende do ponto de vista, mas já lá vamos) cada um dos episódios pode ser visto como uma história sobre aquele local específico e que apenas poderia ter lugar ali. Mas no fundo, a Terra é tão grande que há milhões de histórias a acontecer a toda a hora. E que melhor sítio para conhecer algumas do que os seus táxis?

Vamos então aos pequenos episódios. Em Los Angeles conhecemos dois universos diferentes: a cultura do automóvel que reina na cidade californiana onde uma rapariga taxista (Winona Ryder) prefere ser mecânica a aceitar uma oferta para ser actriz no mundo de Hollywood. Passando para Nova Iorque encontramos um imigrante vindo da Alemanha de Leste (Armin Mueller-Stahl) no seu primeiro dia como taxista e cuja primeira corrida consiste em levar um homem até Brooklyn, mas pelo caminho os papéis invertem-se e o condutor passa a passageiro. Paris, cidade das luzes, mais um imigrante (Isaach De Bankolé), desta vez africano bastante temperamental, que acalma um pouco quando leva no carro uma passageira cega (Béatrice Dalle). Em Roma temos direito a um verdadeiro one man show por parte de Roberto Benigni, o chauffer de praça que tem o prazer de levar no carro um padre e aproveita a oportunidade para contar os seus pecados. Esta corrida de táxi internacional termina na capital finlandesa, num episódio inspirado no cinema de Aki Kaurismaki, onde um taxista chamado Aki é chamado por três bêbedos que passaram a noite a afogar as mágoas de um deles, naquele que consideram ser o pior dia da vida do pobre diabo. Mal eles sabiam a história de vida de Aki.

Além de todos os episódios serem passados dentro de um táxi (poucas cenas são filmadas fora das viaturas), praticamente todos estão filmados da mesma maneira simples e todas as histórias conseguem transmitir o espírito das cidades onde decorrem. O único episódio que acaba por não ser tão original, o que não significa que seja bom, é talvez o último episódio, que por vezes parece mesmo uma obra assinada por Kaurismaki (por tudo, desde a cidade demasiado cinzenta às personagens que estão literalmente na fossa, mas que nos fazem rir com as suas tragédias - quem já viu algum filme de Kaurismaki sabe como o finlandês consegue criar uma história cómica a partir da maior das tragédias). E claro que há episódios melhores do que outros, como sempre acontece neste tipo de filmes. A grande vantagem de «Noite na Terra», onde ainda temos direito a uma excelente banda sonora assinada por Tom Waits, nome que se cruza várias vezes na obra de Jarmusch, é que no todo acaba por ser um filme equilibrado.

Nota: 4/5

Site do filme no IMDB

2 comentários:

  1. Sou fã das obras de Jarmusch, este longa apesar de ser um dos menos elogiados pela crítica, é um dos meus favoritos.

    As pequenas histórias são microcosmos do próprio local em que se passam.

    Você citou que a obra de Tom Waits cruza várias vezes com os trabalhos de Jarmusch. Este tipo de parceria é um hábito na carreira de Jarmusch, vide outros nomes como Roberto Begnini, Isaach de Bankolé, Giancarlo Sposito e John Lurie, figuras comuns em seus filmes.

    Também já comentei sobre este filme no meu blog.

    http://cinema-filmeseseriados.blogspot.com/2011/06/uma-noite-sobre-terra.html

    Abraço

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  2. Infelizmente ainda conheço pouco dos filmes do Jarmusch. Antes de ver este apenas conhecia as suas obras mais recentes, com excepção do Coffee and Cigarretes que me falta ver, desde o Dead Man. Este apanhei-o ontem por acaso porque passou na Cinemateca de Lisboa em troca de um filme que deveria ter passado mas não passou. Adorei e fiquei com uma enorme vontade de conhecer as primeiras obras dele. Vou agora ler o seu texto sobre o filme.

    Abraço

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