Há filmes que merecem uma segunda oportunidade. Da primeira vez que vi este «Entre Inimigos», de Martin Scorcese, um dos realizadores que mais admiro, fiquei um bocado chateado e odiei o filme. Até tive uma grande discussão com um amigo meu sobre o filme e quando o vi ganhar o Óscar, frente a «Cartas de Iwo Jima» (talvez o mais belo filme de guerra de sempre), ia-me dando uma coisinha má.
Tudo porque gostei bastante do original de Hong Kong que é a base desta obra, de seu nome «Infernal Affairs». E no primeiro visionamento de «Entre Inimigos» deixou-me embasbacado, pois é um universo completamente diferente e não queria acreditar no que tinha acabado de ver.
Até que hoje resolvi tirar a prova dos nove e rever o filme de Scorcese. E constatei que o meu amigo tinha razão, o problema era ter bem fresco o filme original. É que tirando a base da história, «Entre Inimigos» não tem quase nada a ver com o original.
De facto, rever o filme sem me lembrar do outro fez-me ver um grande filme. Não ao nível do Martin Scorcese dos velhos tempos, mas mesmo assim um grande filme. A história é simples: um jovem (Matt Damon) que cresceu na máfia irlandesa de Boston, liderada por um excelente Jack Nicholson, injustamente não nomeado para o Óscar de secundário nesse ano, é colocado na polícia como toupeira. Paralelamente um outro jovem polícia (Leonardo DiCaprio, entretanto tornado o menino bonito de Scorcese) acabado de sair da Academia recebe uma oferta para se infiltrar no grupo mafioso.
É um tema que não é novo para o realizador nova-iorquino, basta recordar o excelente «Tudo Bons Rapazes». E aqui a violência está uma vez mais bem retratada. Estamos perante criminosos que não olham a meios para atingir fins. E estes meios vão desde bater em donos de lojas a cortar mãos, a um nível do mais sádico possível. Aqui temos uma boa prestação de Nicholson, em mais um dos seus papéis de maníaco que ninguém gostaria de conhecer num dia menos bom.
Tirando a polémica do Óscar e sem comparar com «Infernal Affairs», este filme é uma grande obra na filmografia de Scorcese. Teve a sorte de contar com grandes actores (além dos já referidos, «Entre Inimigos» conta com nomes como Alec Baldwin, Martin Sheen, Vera Farmiga e Mark Wahlberg, que muito me surpreendeu e considero que tem sido um actor em crescendo nos últimos anos) e o argumento também está muito bem estruturado.
Porque a história vai para além da questão dos agentes infiltrados. Aborda também seus sentimentos e a evolução das personagens à medida que o filme avança. Ninguém escapa às leis e aos acasos da vida.
No que diz respeito à banda sonora, além da entrada de «Brown Sugar», dos Rolling Stones (banda que já faz parte da carreira de Scorcese, nos minutos iniciais, onde o líder da máfia conta a sua história e como chegou ao topo numa brilhante sequência, há também uma música que fica no ouvido (Shipping up to Boston - The Dropkick Murphys) por juntar um rock de certa forma musculado a música de cariz tradicional irlandesa.
Mas mesmo apesar deste segundo visionamento, continuo a preferir o original de Hong Kong, realizado pela dupla Wai-keung Lau Alan Mak em 2002 e que acabou por ser uma trilogia.
Nota: 4/5
Site oficial do filme
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