O mais recente filme de Spike Lee, ou joint como o nova-iorquino gosta de chamar às suas obras, chega às salas de cinema portuguesas com um ano de atraso. Trata-se de «O Milagre em Sant'Anna», um filme que conta a história de quatro soldados negros durante a II Guerra Mundial, que integravam os chamados 'Buffalo Soldiers', durante a libertação de Itália.
Antes de chegar a território italiano, o filme arranca na Nova Iorque dos anos 1980, quando é cometido um misterioso homicídio por um empregado dos Correios (Laz Alonso, que interpreta o soldado em novo e em velho), que ficamos a saber mais tarde que é um dos soldados que integrou aquela companhia. A história é contada a um jovem jornalista (Joseph Gordon-Levitt, o miúdo da série «O Terceiro Calhau a Contar do Sol») através de flashbacks que nos enviam para a acção propriamente dita.
E nesta acção vemos a forma como os soldados negros eram tratados naquele período, quando ainda vinham longe as lutas pelos direitos civis. Esta faceta encontra-se bastante visível num episódio contado pelos soldados, passado durante a recruta no estado sulista do Luisiana, quando o dono de um café lhes recusa oferecer gelados que ganharam num concurso. Nesse mesmo café encontram-se membros da Policia Militar a guardar prisioneiros alemães (não se percebe bem como foram lá parar), todos brancos, e a comerem gelados.
Não nos podemos esquecer que este é um filme de Spike Lee, um realizador que tem lutado por mostrar a sociedade norte-americana a partir do ponto de vista dos afro-americanos, tirando algumas excepções como «Infiltrado» ou a «Última Hora». Mas este 'ódio', se assim se pode chamar, aos brancos fica um pouco de parte quando um dos soldados afirma que se sente melhor em Itália, onde não é tratado como um estranho devido à cor da sua pele.
Além desta faceta, surgem em paralelo várias histórias que se cruzam, entre as quais a do massacre da aldeia de Sant'Anna. Estas histórias incluem um rapazinho perdido que fica à guarda dos soldados, as lutas entre os resistentes italianos e até a recusa de alguns militares alemães em acatar as ordens dos superiores.
Nas cenas das batalhas, a câmara de Spike Lee está bastante bem, filmando momentos de tensão durante um cerco de uma forma simples e os momentos com mais acção recorrendo à câmara no ombro. Em ambos os casos, o realizador quase que nos leva a sentir o calor da batalha. Mas ainda assim não o suficiente como noutros filmes de guerra recentes que abordam a mesma época histórica.
Pegando numa abordagem diferente dos filmes de guerra tradicionais, em que a história se resume a batalhas famosas e a episódios de quase propaganda, Spike Lee consegue aqui fazer um filme de guerra original, contando-a do lado dos negros. Mas este não é um dos principais filmes do realizador, que na minha opinião filma melhor quando não sai de Nova Iorque.
Nota: 3/5
Site do filme no IMDB
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