Na minha tentativa de acompanhar o ciclo que a Cinemateca está a realizar sobre a obra de Monte Hellman, vi hoje «A Estrada Não Tem Fim». E dos quatro filmes que vi até agora consigo chegar a uma conclusão: quando Hellman se aventura por géneros menos populares tem melhores resultados. Se não vejamos. No caso de «Flight To Fury», um série B a dar ares de Noir rodado nas Filipinas, a coisa não saiu bem. Já nos westerns, «O Furacão» cumpre os mínimos, mas não mais que isso.
Mas o caso muda de figura quando os temas são mais marginais. Já o tinha constatado em «Cockfighter», sobre lutas de galos, e ficou hoje provado ao ver este «A Estrada Não Tem Fim». O filme é definido como um road movie, mas na minha opinião não será bem assim. Tal como em «Cockfighter» surge aqui Warren Oates e tal como nesse filme, que é posterior convém referir, há muitas apostas em jogo.
Tudo porque o tema central deste filme são as corridas de carros e um desafio feito por dois jovens à personagem de Warren Oates, que consiste numa corrida pelas estradas perdidas dos EUA até Washington DC, faz alavancar a acção. Há aqui muitos pontos de contacto com a filmografia de Hellman.
As personagens marginais, por exemplo. Warren Oates volta a interpretar um tipo solitário que precisa que lhe dêem atenção. Nem que para isso seja preciso inventar uma história nova a cada pessoa que lhe pede boleia. E são vários os que o fazem. Também é o caso dos jovens que o desafiam, que são acompanhados por uma rapariga que se infiltra no seu carro sem ninguém se chatear. A título de curiosidade, um dos jovens é interpretado por Dennis Wilson, um dos membros dos Beach Boys.
E são também vários os actores que já tinham surgido em outros filmes de Monte Hellman, dando uma perninha na sua representação do mundo das corridas de carros ilegais na América profunda. Quem gosta de carros tem aqui uma boa fita para devorar. Até porque apesar de muitos estarem alterados, como não poderia deixar de ser, não têm nada a ver com o tunning de hoje em dia. Já para não dizer que os carros clássicos norte-americanos são bem mais belos do que os actuais. Basta ver o GTO guiado por Warren Oates.
Nota: 4/5
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