segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Destaques da Cinemateca em Dezembro

Dezembro é mês de Natal e de dois feriados, logo menos dias com a Cinemateca aberta. Mesmo assim não é desculpa para não dar um salto ao Museu do Cinema e ver o que está a passar. Em Dezembro termina o ciclo «Divos às Matinés», que passou durante as tardes de 2009 filmes com os principais actores de sempre, com destaque para Humphrey Bogart, Marlon Brando, Gary Cooper, Clark Gable, Cary Grant, Paul Newman e John Wayne. Este mês os convidados desta rubrica são apenas dois: Spencer Tracy e Robert Redford. Quanto aos principais filmes das tardes de Dezembro na Barata Salgueiro, destaque para «E Tudo o Vento Levou», um grande clássico de Victor Fleming, «O Homem Que Matou Liberty Valance», de John Ford, «Fúria», de Fritz Lang e «A Golpada», de George Roy Hill.

Dezembro marca também o início de um ciclo dedicado à obra de Preston Sturges, um realizador e argumentista que fez história nos anos 1930 e 1940 com grandes comédias. Com este ciclo a Cinemateca vai prestar homenagem ao realizador com uma retrospectiva integral da sua obra.

A homenagem ao realizador Monte Hellman também chega agora ao fim, com a projecção de «Iguana» e dois dos filmes que já tinham passado em Novembro. O ciclo que também chega ao fim é o que nos últimos meses a Cinemateca dedicou a João Bénard da Costa, falecido recentemente. Das últimas obras que integram este ciclo destaque para «Matou!», de Fritz Lang, «O Novo Mundo», de Terrence Mallick ou «Stromboli», de Roberto Rossellini.

Outro dos ciclos que continua em Dezembro é «Os Mil Rostos de Berlim», um ciclo curioso que tem mostrado filmes que têm Berlim como inspiração e que tem juntado obras da ex-RDA a filmes mais recentes do cinema alemão actual. Este mês vão ser projectados diversos filmes, incluindo «As Asas do Desejo», de Wim Wenders.

Quanto a ciclos de um mês só, Dezembro vai trazer uma surpresa para os amantes do Jazz, com uma mostra de filmes onde este género musical está bem representado. E com exemplos de vários pontos do globo: dos EUA de «Sombras», de John Cassavetes ou «Cotton Club», de Francis Ford Coppola, passando pela Lisboa de «Belarmino», de Fernando Lopes e «Noites de Paris», de Martin Ritt.

O cinema português marca presença através do ciclo «O Amor no Cinema Português», que já é um clássico na Cinemateca. Para Dezembro os filmes desta rubrica são: «Dois Dias no Paraíso», de Arthur Duarte», «O Recado», de José Fonseca e Costa, «Terra Fria», de António Campos e «O Capacete Dourado», de Jorge Carmez.

Outra das rubricas bem conhecidas dos espectadores da Cinemateca é a «História Permanente do Cinema», que preenche os sábados. Para Dezembro vão passar obras de Alfred Hitchcock («Os Pássaros»), F. W. Murnau («City Girl»), Claude Chabrol («As Rivais»), John Ford («Ouvem-se Tambores ao Longe»), Tod Browning («Freaks») ou Ernst Lubitsch («A Loucura do Charleston»), entre outros.

Esta rubrica será interrompida no dia 5 de Dezembro, sábado que vem, com uma sessão especial. Trata-se da projecção de «Cinema Falado», um filme realizado pelo cantor brasileiro Caetano Veloso que vai estar presente na Barata Salgueiro para apresentar aquela que é a sua única aventura na Sétima Arte enquanto realizador.

A pedido dos visitantes da Cinemateca, a rubrica «O Que Eu Quero Ver» passa em Dezembro dois filmes: «Fim-de-Semana Atribulado», de Carol Reed e o recente «Control», de Anton Corbijn sobre a vida de Ian Curtis, vocalista dos Joy Division.

Por fim, para os mais novos a «Cinemateca Júnior» apresenta duas propostas de Natal e uma surpresa. As duas propostas de Natal são «Polar Express», de Robert Zemeckis, e «Branca de Neve e os Sete Anões», de Walt Disney e David Hard. A surpresa desta secção é «Maria Antonieta», o último filme de Sofia Coppola.

Mais informações aqui.

Banda Sonora: Walk Away, de Franz Ferdinand

O regresso dos escoceses Franz Ferdinand a Portugal, a primeira vez em nome próprio e após um excelente concerto na última edição do festival Paredes de Coura, é o pretexto para a banda sonora desta semana. A descoberta deste videoclip da música «Walk Away», que nos remete para o imaginário dos filmes Noir, é ideal para mostrar a imagem bastante cuidada com que a banda se mostra e apresenta as suas influências.

domingo, 29 de novembro de 2009

2012, de Roland Emmerich (2009)

O alemão Roland Emmerich gosta de destruir o mundo. Tudo começou em 1996 com «Dia da Independência», um dos primeiros filmes com Will Smith no papel principal. Nesse filme o planeta Terra era invadido por extra-terrestres que destruíram tudo por onde passavam, com a ajuda de umas gigantescas naves espaciais que lançavam uns raios azuis. Em 2004 foi a vez de aproveitar as alterações climáticas para realizar «O Dia Depois de Amanhã» e uma vez mais o mundo sofreu às mãos de Roland Emmerich.

Para 2009 o pretexto é uma profecia da civilização Maia que nos diz que em 2012 uma conjugação celestial vai alinhar os planetas do sistema solar e destruir o planeta, tal como o conhecemos. «2012» é precisamente o nome do mais recente filme do alemão e uma vez mais não podemos esperar mais do que uma sessão de puro entretenimento.

Mas infelizmente não encontramos nestas duas horas e meio mais do que bons efeitos especiais que vão desde rachas a abrirem a Califórnia em milhares de pedaços passando pela destruição da Casa Branca por um porta-aviões ou um tsunami de proporções bíblicas a chegar ao Evereste. Já para não falar da sequência do Bentley a andar na neve. Os exemplos são tantos que o melhor é ver para crer.

O argumento de «2012» é muito pobrezinho, um dos heróis principais não convence (John Cusack no papel de um escritor falhado que tenta levar a família para as arcas que irão salvar os sobreviventes deste fim do mundo) e o facto de não se chegar a perceber bem o que aconteceu e como se resolveu também não ajuda.

No meio desta destruição, há duas personagens que ficam bem na fotografia: um maluquinho das conspirações que só podia ser norte-americano, interpretado por Woody Harrelson, e Danny Glover que encarna o papel de presidente dos EUA, numa figura bastante decalcada de Barack Obama. Tirando o facto de ser negro, este presidente é bastante solidário e prefere estar junto do povo a tentar ajudar quem está a sofrer do que seguir com a sua administração para se salvar.

Felizmente que não cabe a Roland Emmerich decidir o futuro da Humanidade, pois se tal acontecesse estávamos tramados. Como filme, não convence.

Nota: 2/5

Site oficial do filme

Documentário sobre os blur chega às salas de cinema

Os blur, uma das bandas mais importantes da fase brit pop dos anos 1990 a par dos Oasis, vão chegar às salas de cinema a 19 de Janeiro de 2010 graças a um documentário realizado pela dupla 32 (Dylan Southern e Will Lovelace).

De seu nome «No Distance Left To Run», o título de uma das músicas da banda de Damon Albarn, Graham Coxon, Alex James e Dave Rowntree, o documentário foca a reunião da banda no Verão passado, quando o 'exilado' Graham Coxon regressou para uma série de concertos com os seus antigos companheiros, depois de nove anos.

Segundo o site da banda o documentário reúne imagens de arquivo nunca vistas, entrevistas aos membros da banda e a história dos blur desde o início, ainda nos anos 1980 até aos últimos concertos desta mini digressão, que passou pelo mítico festival de Glastonbury e pelo Hyde Park esgotado.

Pelo que conheço da distribuição de filmes por cá, será difícil ver este filme chegar ao nosso circuito comercial. Mas não seria de estranhar que este «No Distance Left To Run» viesse a passar no festival IndieLisboa. Vamos esperar para ver. Entretanto fica o trailer.

Ney Matogrosso presente no Festival de Cinema Luso-Brasileiro da Feira

A cidade de Santa Maria da Feira vai receber entre 6 e 13 de Dezembro a 13ª edição do Festival de Cinema Luso-Brasileiro, que este ano vai contar com a presença do cantor Ney Matogrosso, como convidado especial. A visita do cantor brasileiro enquadra-se num ciclo de homenagem dedicado aos filmes onde participa, como actor ou documentários sobre a sua obra.

Para a edição de 2009 do festival, vão ser projectados 54 filmes dos dois países, sendo que em algumas das sessões vão estar presentes os realizadores e actores. De acordo com a organização, a cargo do Cineclube da Feira, o objectivo do certame é ser «um espaço que procura intensamente contribuir para a reconciliação do público com o cinema português e proporcionar uma maior abertura à entrada do cinema brasileiro no nosso país, afirmando deste modo o cinema que fala a nossa língua».

Além da homenagem a Ney Matogrosso, os destaques do 13º Festival de Cinema Luso-Brasileiro incluem secções específicas dedicadas a Carlos Nader (realizador em foco), Débora Diniz (Documentários) e Gabriel Abrantes e Tiago Pereira (Sangue Novo).

A abertura do certame vai ter lugar no dia 6 com «Histórias de Amor Duram Apenas 90 Minutos», de Paulo Halm. Para o encerramento, a escolha da organização foi o documentário «Coração Vagabundo», de Fernando Grostein Andrade, sobre a digressão A Foreign Sound de Caetano Veloso.

Mais informações sobre o evento aqui.

A Mosca, de Kurt Neumann (1958)

«A Mosca» de Kurt Neumann é um dos clássicos da série B dos anos 1950, variante ficção cientifica/terror. A sua popularidade foi tanta na altura, que não só deu lugar a duas sequelas («Return of the Fly», de Edward L. Bernds e «The Curse of the Fly», de Don Sharp) como veio mais tarde a ser alvo de uma revisão por parte de David Cronenberg, filme que ajudou o canadiano a saltar para o mainstream.

Mas voltemos atrás no tempo. Em 1958 nasce «A Mosca», que resulta de uma experiência mal sucedida feita por um cientista (Al Hedison) que inventa um desintegrador-integrador de partículas (foi ele que lhe deu o nome) que permite teletransportar objectos e seres vivos de um compartimento para outro. O problema acontece quando o próprio cientista resolve experimentar a invenção em si próprio e por azar uma mosca entra na máquina ao mesmo tempo que ele. O resultado é uma mosca com cabeça de homem e um homem com cabeça de mosca.

Esta face da história é contada através de um flashback pela esposa do cientista (Patricia Owens) ao irmão do cientista (Vincent Price) e a um polícia, depois de no início esta ter confessado que matou o marido. Não vou contar como, para não estragar a surpresa, mas a cena acontece logo a abrir o filme.

Sem lugar a grandes inovações no género, esta primeira versão de «A Mosca» não deixa de ser um clássico. Foca o tema das experiências que correm mal, numa altura em que o medo do desconhecido, nomeadamente a ameaça comunista, estava em todo o lado, e o facto de ter sido produzido por um grande estúdio (a 20th Century Fox) justifica alguns bons meios utilizados. Não no que diz respeito à caracterização, na altura ainda bastante rudimentar como se pode ver na cabeça do homem mosca, mas já podemos ver alguns efeitos curiosos. A fase da desintegração dos objectos ou seres vivos, por exemplo, está relativamente bem conseguida para a altura, com um bom jogo de luzes, e mesmo na cena em que aparece a mosca com a cabeça de homem, se metermos de parte a inverosimilhança da situação, até escapa.

Nota: 3/5

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sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Pedro Costa e João César Monteiro entre os melhores da década

A Cinemateca de Ontário colocou três filmes portugueses, dois de Pedro Costa e um de João César Monteiro, na lista dos melhores filmes desta primeira década do século XXI. A lista foi criada para comemorar os 20 anos da instituição que vai também projectar algumas das obras em 2010, no âmbito de um ciclo denominado «The Best of the Decade: An Alternative View».

Portugal está representado na lista por «Juventude em Marcha» (15ª posição da lista) e «O Quarto de Vanda» (14ª com «Os Respigadores e a Respigadora», de Agnès Varda e «Songs From The Second Floor», de Roy Andersson) e «Vai e Vem», de João César Monteiro (30ª posição com «Longing», de Valeska Grisebach, «Secret Sunshine», de Lee Chang-dong e «Longe do Paraíso», de Todd Haynes). Destes três filmes portugueses, apenas os de Pedro Costa vão integrar o ciclo, o que prova uma vez mais a força que o realizador tem vindo a ganhar internacionalmente.

E é curioso ver que nesta lista, criada a partir de um inquérito feito a mais de 60 especialistas na Sétima Arte, de programadores de festivais a historiadores, os filmes de Pedro Costa ficaram à frente de obras de cineastas conceituados como David Lynch («Mulholand Drive»), David Cronenberg («Uma História de Violência»), Gus van Sant («Elephant» e «Gerry»), Pedro Almodóvar («Fala Com Ela») ou Ingmar Bergman («Saraband»).

Os dez primeiros classificados da lista são:

1 - «Syndromes and a Century», de Apichatpong Weerasethakul;
2 - «Platform», de Jia Zhang-ke;
3 - «Still Life», de Jia Zhang-ke;
4 - «Beau travail», de Claire Denis;
5 - «In the Mood for Love», de Wong Kar-wai;
6 - «Tropical Malady», de Apichatpong Weerasethakul;
7 - «The Death of Mr. Lazarescu», de Cristi Puiu e «Werckmeister Harmonies», de Béla Tarr;
8 - «Éloge de l'amour», de Jean-Luc Godard;
9 - «4 Months, 3 Weeks, 2 Days», de Cristian Mungiu;
10 - «Silent Light», de Carlos Reygadas.

A lista completa encontra-se aqui.

O Milagre em Sant'Anna, de Spike Lee (2008)

O mais recente filme de Spike Lee, ou joint como o nova-iorquino gosta de chamar às suas obras, chega às salas de cinema portuguesas com um ano de atraso. Trata-se de «O Milagre em Sant'Anna», um filme que conta a história de quatro soldados negros durante a II Guerra Mundial, que integravam os chamados 'Buffalo Soldiers', durante a libertação de Itália.

Antes de chegar a território italiano, o filme arranca na Nova Iorque dos anos 1980, quando é cometido um misterioso homicídio por um empregado dos Correios (Laz Alonso, que interpreta o soldado em novo e em velho), que ficamos a saber mais tarde que é um dos soldados que integrou aquela companhia. A história é contada a um jovem jornalista (Joseph Gordon-Levitt, o miúdo da série «O Terceiro Calhau a Contar do Sol») através de flashbacks que nos enviam para a acção propriamente dita.

E nesta acção vemos a forma como os soldados negros eram tratados naquele período, quando ainda vinham longe as lutas pelos direitos civis. Esta faceta encontra-se bastante visível num episódio contado pelos soldados, passado durante a recruta no estado sulista do Luisiana, quando o dono de um café lhes recusa oferecer gelados que ganharam num concurso. Nesse mesmo café encontram-se membros da Policia Militar a guardar prisioneiros alemães (não se percebe bem como foram lá parar), todos brancos, e a comerem gelados.

Não nos podemos esquecer que este é um filme de Spike Lee, um realizador que tem lutado por mostrar a sociedade norte-americana a partir do ponto de vista dos afro-americanos, tirando algumas excepções como «Infiltrado» ou a «Última Hora». Mas este 'ódio', se assim se pode chamar, aos brancos fica um pouco de parte quando um dos soldados afirma que se sente melhor em Itália, onde não é tratado como um estranho devido à cor da sua pele.

Além desta faceta, surgem em paralelo várias histórias que se cruzam, entre as quais a do massacre da aldeia de Sant'Anna. Estas histórias incluem um rapazinho perdido que fica à guarda dos soldados, as lutas entre os resistentes italianos e até a recusa de alguns militares alemães em acatar as ordens dos superiores.

Nas cenas das batalhas, a câmara de Spike Lee está bastante bem, filmando momentos de tensão durante um cerco de uma forma simples e os momentos com mais acção recorrendo à câmara no ombro. Em ambos os casos, o realizador quase que nos leva a sentir o calor da batalha. Mas ainda assim não o suficiente como noutros filmes de guerra recentes que abordam a mesma época histórica.

Pegando numa abordagem diferente dos filmes de guerra tradicionais, em que a história se resume a batalhas famosas e a episódios de quase propaganda, Spike Lee consegue aqui fazer um filme de guerra original, contando-a do lado dos negros. Mas este não é um dos principais filmes do realizador, que na minha opinião filma melhor quando não sai de Nova Iorque.

Nota: 3/5

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Silent Night, Deadly Night III: Better Watch Out, de Monte Hellman (1989)

Na década de 1980 as séries de filmes de terror estavam na moda, atingindo maior popularidade com «Sexta Feira 13» e «Pesadelo em Elm Street». Recentemente os dois vilões destes franchises foram recuperados para um filme em que se enfrentavam, de seu nome «Fred Vs Jason».

A série «Silent Night, Deadly Night», cujo primeiro filme estreou em 1984, foi outra das séries de terror realizadas naquela década e chegou aos cinco episódios com o filme «The Toy Maker» em 1991. Pelo meio houve este terceiro episódio, realizado por Monte Hellman.

A série centra-se em Richard 'Ricky' Caldwell (Bill Moseley), um serial killer que ficou traumatizado com a morte dos pais em criança às mãos de um assassino vestido de Pai Natal. É também com este disfarce que mais tarde Ricky irá matar as suas vítimas. No terceiro episódio, este que nos interessa, o assassino que se julgava morto encontra-se em estado de coma num hospital e um médico (Richard Beymer, que iria mais tarde entrar na série Twin Peaks) resolve fazer experiências ligando-o a uma jovem cega com poderes psíquicos (Samantha Scully), no sentido de estabelecer contacto com Ricky e descobrir o que vai na cabeça dele.

O problema é que o assassino acorda mesmo e começa a carnificina. E se este filme até podia ganhar alguns pontos, até nem está mal feito e tem pormenores bastante bem conseguidos, tem outros que não lembram a ninguém. A começar pelo facto de a figura de Ricky ter o cérebro à mostra, dentro de uma espécie de aquário. E mesmo assim consegue pedir boleia quando foge do hospital sem ninguém o impedir, numa das cenas mais cómicas deste terceiro «Silent Night».

Depois ao longo da sua caminhada, onde tem como objectivo encontrar a jovem que o acordou, vai fazendo mais uma série de vítimas e como seria de esperar, ninguém sai ileso. E é tudo muito pobrezinho, apesar de conseguir pregar pelo menos um grande susto numa das cenas em que Ricky sai disparado de uma porta.

A título de curiosidade, este é também o primeiro filme para cinema em que aparece Laura Harring, que em 2001 fará dupla com Naomi Watts em Mulholand Drive, de David Lynch. Nesta sua estreia coube-lhe o papel da rapariga que mostra os seios, um outro cliché dos filmes desta altura.

Nota: 2/5

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quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Entre Inimigos, de Martin Scorcese (2006)

Há filmes que merecem uma segunda oportunidade. Da primeira vez que vi este «Entre Inimigos», de Martin Scorcese, um dos realizadores que mais admiro, fiquei um bocado chateado e odiei o filme. Até tive uma grande discussão com um amigo meu sobre o filme e quando o vi ganhar o Óscar, frente a «Cartas de Iwo Jima» (talvez o mais belo filme de guerra de sempre), ia-me dando uma coisinha má.

Tudo porque gostei bastante do original de Hong Kong que é a base desta obra, de seu nome «Infernal Affairs». E no primeiro visionamento de «Entre Inimigos» deixou-me embasbacado, pois é um universo completamente diferente e não queria acreditar no que tinha acabado de ver.

Até que hoje resolvi tirar a prova dos nove e rever o filme de Scorcese. E constatei que o meu amigo tinha razão, o problema era ter bem fresco o filme original. É que tirando a base da história, «Entre Inimigos» não tem quase nada a ver com o original.

De facto, rever o filme sem me lembrar do outro fez-me ver um grande filme. Não ao nível do Martin Scorcese dos velhos tempos, mas mesmo assim um grande filme. A história é simples: um jovem (Matt Damon) que cresceu na máfia irlandesa de Boston, liderada por um excelente Jack Nicholson, injustamente não nomeado para o Óscar de secundário nesse ano, é colocado na polícia como toupeira. Paralelamente um outro jovem polícia (Leonardo DiCaprio, entretanto tornado o menino bonito de Scorcese) acabado de sair da Academia recebe uma oferta para se infiltrar no grupo mafioso.

É um tema que não é novo para o realizador nova-iorquino, basta recordar o excelente «Tudo Bons Rapazes». E aqui a violência está uma vez mais bem retratada. Estamos perante criminosos que não olham a meios para atingir fins. E estes meios vão desde bater em donos de lojas a cortar mãos, a um nível do mais sádico possível. Aqui temos uma boa prestação de Nicholson, em mais um dos seus papéis de maníaco que ninguém gostaria de conhecer num dia menos bom.

Tirando a polémica do Óscar e sem comparar com «Infernal Affairs», este filme é uma grande obra na filmografia de Scorcese. Teve a sorte de contar com grandes actores (além dos já referidos, «Entre Inimigos» conta com nomes como Alec Baldwin, Martin Sheen, Vera Farmiga e Mark Wahlberg, que muito me surpreendeu e considero que tem sido um actor em crescendo nos últimos anos) e o argumento também está muito bem estruturado.

Porque a história vai para além da questão dos agentes infiltrados. Aborda também seus sentimentos e a evolução das personagens à medida que o filme avança. Ninguém escapa às leis e aos acasos da vida.

No que diz respeito à banda sonora, além da entrada de «Brown Sugar», dos Rolling Stones (banda que já faz parte da carreira de Scorcese, nos minutos iniciais, onde o líder da máfia conta a sua história e como chegou ao topo numa brilhante sequência, há também uma música que fica no ouvido (Shipping up to Boston - The Dropkick Murphys) por juntar um rock de certa forma musculado a música de cariz tradicional irlandesa.

Mas mesmo apesar deste segundo visionamento, continuo a preferir o original de Hong Kong, realizado pela dupla Wai-keung Lau Alan Mak em 2002 e que acabou por ser uma trilogia.

Nota: 4/5

Site oficial do filme

The Spaghetti Western Database

E nas minhas pesquisas sobre o filme anterior, «Clayton, O Cavaleiro da Noite», deparei com este site: The Spaghetti Western Database. Trata-se de um site semelhante ao Internet Movie Database (IMDB) mas apenas dedicados aos filmes deste género. E está lá tudo e pelo que se constata é actualizado com uma certa regularidade. A última entrada é de dia 19 de Novembro.

Dedicado aos fãs dos westerns filmados na Europa, neste site encontram-se criticas, uma história bastante completa do género Spaghetti, noticias e artigos sobre os grandes protagonistas. Uma boa página para quem gosta deste tipo de western, que fez as delicias de muitos nos idos anos 1960 e 1970.

Link para o The Spaghetti Western Database

Clayton, O Cavaleiro da Noite, de Monte Hellman (1978)

«Clayton, o Cavaleiro da Noite» foi uma aventura europeia de Monte Hellman, pelos territórios do Western Spaghetti, numa co-produção italo-espanhola de 1978. E uma vez mais o realizador de «Cockfighter» espalha-se ao comprido. Tirando algumas honrosas excepções, nomeadamente a obra de Sergio Leone, os westerns filmados em território europeu não vão ficar para história como obras de qualidade.

Este é também o caso de «Clayton, o Cavaleiro da Noite». Só o nome em português já nos faz dar umas boas gargalhadas. O Clayton (Fabio Testi) que dá o nome ao título é um condenado à forca a quem é dada uma segunda oportunidade. Para se livrar da morte certa, os proprietários dos caminhos de ferro pagam-lhe 1500 dólares e dão-lhe liberdade se ele matar um agricultor (Warren Oates, uma vez mais), que no passado tinha sido um pistoleiro às ordens dos caminhos de ferro.

O problema é que quando Clayton chega a casa do seu alvo, acaba por se tornar amigo dele e apaixona-se pela mulher, não cumprindo o seu objectivo, deixando-os livres. Mas assim que o agricultor descobre que foi traído o filme dá uma reviravolta e começa a perseguição de Clayton que só termina num final feliz em que apenas estas três personagens acabam vivas.

Pelo meio temos um Clayton, interpretado por um actor com um bom historial neste género, que tem um sotaque italiano carregadíssimo, duelos em que paus de dinamite furam cortinados deixando lá a marca perfeita, cenas de amor de um erotismo de bradar aos céus e até um cameo de Sam Peckinpah. Conclusão: «Clayton, o Cavaleiro da Noite» é daqueles filmes tão maus, tão maus, que acabamos por gostar um bocadinho deles. Quanto mais não seja para podermos dizer: eu vi um western spaghetti de boas intenções...e gostei.

Nota: 3/5

Site do filme no IMDB

Em Cartaz: Semana 26/11/2009

Capitalismo: Uma História de Amor, de Michael Moore
Lua Nova, de Chris Weitz

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Museu Chaplin abre portas em 2011

A mansão suíça de Charlie Chaplin, onde o actor e realizador se exilou nos últimos anos de vida, vai tornar-se um museu dedicado à vida daquele que é um dos cineastas mais conhecidos do período mudo, graças à sua criação Charlot. A revelação foi feita por familiares do actor, que prevêem abrir as portas da mansão em 2011.

Localizada em Corsier-sur-Vevey, a mansão foi habitada por Charlie Chaplin após o seu exílio forçado, quando foi expulso dos EUA em 1952 porque as autoridades suspeitavam que o autor de «O Grande Ditador» tinha simpatias comunistas. Com o novo projecto os fãs de Charlot vão poder ver os objectos pessoais de Chaplin e acompanhar a vida e carreira do cineasta por ordem cronológica, desde os primeiros dias no teatro londrino ao auge da sua carreira em Hollywood. Um bom pretexto para visitar a Suíça em 2011.

Tortura, de Alf Sjöberg (1944)

Antes de Ingmar Bergman se aventurar na realização de filmes, foi um grande argumentista. Aliás, muitos dos seus filmes seriam baseados em argumentos da sua autoria. E foi precisamente este «Tortura» em 1944 que marcou a sua estreia na escrita para cinema, dois anos antes de realizar o seu primeiro filme.

«Tortura» é um filme que tem no centro um liceu onde um dos professores é considerado um sádico tirano pelos seus alunos. São poucos os que não têm medo desta figura a quem deram a alcunha de Calígula (Stig Järrel). No seu oposto está um aluno que foi chumbado por não ter estudado a lição. Por sua vez, a fechar o triângulo das personagens principais de «Tortura» está uma rapariga, que trabalha numa tabacaria e se enamora pelo rapaz.

Com o desenrolar do filme vemos que todos têm os seus traumas pessoais e como é complicado ultrapassá-los. Uma das marcas da obra futura de Bergman, que também aqui começou a filmar algumas das cenas. Desde o professor que diz ter problemas com nervos e que o levaram a passar um tempo internado no passado ao estudante que não aguenta a pressão de ter chumbado, passando pela jovem que tem medo de estar sozinha porque alguém vai ter com ela.

Uma das partes mais expressivas de «Tortura» é precisamente o quarto da jovem, onde o jogo de sombras criado por Sjöberg está muito bem feito e faz lembrar a tempos o expressionismo alemão dos anos 1920, nomeadamente quando vemos a sombra de uma mão a aproximar-se da rapariga, numa das cenas. Poderia dizer-se que quase sentimos a presença de Nosferatu, se bem que aqui a sombra não é sobrenatural.

Filmado no final da II Guerra Mundial, «Tortura» foi visto na altura como um filme de oposição ao nazismo. Daí a figura do professor ser visto como uma autoridade demasiado forte dentro da sala, mas que na realidade não o é por dentro devido aos seus problemas psicológicos. Ao mesmo tempo, «Tortura» apresenta de certo modo o ambiente das escolas naquela altura.

Nota: 4/5

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terça-feira, 24 de novembro de 2009

Bom cinema de volta à RTP 2

O Cinco Noites Cinco Filmes da RTP 2 deixou muitas saudades aos cinéfilos portugueses e foi uma grande perda para a televisão em Portugal. Mas parece que está de volta. Não sei se é para voltar ou não, mas tanto nesta como na semana passada o segundo canal do Estado passou filmes todos os dias, há hora do antigo programa. Na semana passada foi a vez de filmes como «Outland», «No Limiar da Realidade» ou «Terra da Abundância».

Esta semana começou já com «Harry, o Implacável» e vai prosseguir com «Lolita», «Blow-Up», «Laranja Mecânica» e «THX 1138», o filme de culto de George Lucas. Esperemos que estes ciclos sejam para continuar, pois ver cinema em televisão por cá é cada vez mais complicado. E na 2 sempre temos a vantagem de não sermos incomodados com publicidade.

A Estrada Não Tem Fim, de Monte Hellman (1971)

Na minha tentativa de acompanhar o ciclo que a Cinemateca está a realizar sobre a obra de Monte Hellman, vi hoje «A Estrada Não Tem Fim». E dos quatro filmes que vi até agora consigo chegar a uma conclusão: quando Hellman se aventura por géneros menos populares tem melhores resultados. Se não vejamos. No caso de «Flight To Fury», um série B a dar ares de Noir rodado nas Filipinas, a coisa não saiu bem. Já nos westerns, «O Furacão» cumpre os mínimos, mas não mais que isso.

Mas o caso muda de figura quando os temas são mais marginais. Já o tinha constatado em «Cockfighter», sobre lutas de galos, e ficou hoje provado ao ver este «A Estrada Não Tem Fim». O filme é definido como um road movie, mas na minha opinião não será bem assim. Tal como em «Cockfighter» surge aqui Warren Oates e tal como nesse filme, que é posterior convém referir, há muitas apostas em jogo.

Tudo porque o tema central deste filme são as corridas de carros e um desafio feito por dois jovens à personagem de Warren Oates, que consiste numa corrida pelas estradas perdidas dos EUA até Washington DC, faz alavancar a acção. Há aqui muitos pontos de contacto com a filmografia de Hellman.

As personagens marginais, por exemplo. Warren Oates volta a interpretar um tipo solitário que precisa que lhe dêem atenção. Nem que para isso seja preciso inventar uma história nova a cada pessoa que lhe pede boleia. E são vários os que o fazem. Também é o caso dos jovens que o desafiam, que são acompanhados por uma rapariga que se infiltra no seu carro sem ninguém se chatear. A título de curiosidade, um dos jovens é interpretado por Dennis Wilson, um dos membros dos Beach Boys.

E são também vários os actores que já tinham surgido em outros filmes de Monte Hellman, dando uma perninha na sua representação do mundo das corridas de carros ilegais na América profunda. Quem gosta de carros tem aqui uma boa fita para devorar. Até porque apesar de muitos estarem alterados, como não poderia deixar de ser, não têm nada a ver com o tunning de hoje em dia. Já para não dizer que os carros clássicos norte-americanos são bem mais belos do que os actuais. Basta ver o GTO guiado por Warren Oates.

Nota: 4/5

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segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Spielberg e Stephen King preparam mini-série

E por falar em Steven Spielberg, cujo filme «Apanha-me Se Puderes» acabo de ver, vejo aqui uma notícia que o realizador de «ET» se vai juntar a Stephen King, talvez o escritor com mais obras transpostas para o cinema, para criarem uma mini-série para televisão.

Denominada «Under the Dome», será baseada na mais recente obra do escritor que tem como cenário um resort onde começam a surgir diversos incidentes misteriosos. Nada de novo no universo de King.

Por enquanto ainda não se sabem grande pormenores sobre esta aventura, que será produzida pela Dreamworks TV e segundo a Variety destina-se ao mercado da TV por Cabo. A revista recorda que Spielberg e King já no passado tentaram produzir um filme baseado no livro «The Talisman», mas o projecto nunca avançou por questões de orçamento. Será que é desta? Para já os produtores estão à procura de dois argumentistas.

Apanha-me Se Puderes, de Steven Spielberg (2002)

Em 2002, após os mais negros «Artificial Intelligence» e «Minority Report», Steven Spielberg resolveu filmar a história verídica e mirabolante de Frank Abagnale Jr. (Leonardo DiCaprio), um jovem norte-americano que entre os seus 16 e os 19 anos andou a brincar ao gato e ao rato com o FBI, nomeadamente com o agente Carl Hanratty (Tom Hanks), fazendo-se passar por diversas profissões, desde piloto de avião a advogado ou médico.

O seu objectivo inicial era sacar dinheiro à companhia aérea Pan Am através de cheques falsificados. E conseguiu, arrecadando cerca de 4 milhões de dólares. Mas assim que ia sendo descoberto pelo FBI, tinha de mudar de ocupação e começou a forjar diplomas e outros truques para se esquivar.

Paralelamente temos também neste «Apanha-me Se Puderes» a história de uma família em desagregação, a de Frank, com o pai a perder tudo o que tinha e a mãe a deixá-lo pelo melhor amigo do marido. À medida que o filme vai avançando, apercebemo-nos que a relação entre o jovem e o agente que o persegue se torna quase como pai e filho. Frank procura um pai que nunca teve e Carl persegue um filho que também não teve. Algo que fica bem patente no final do filme, quando o jovem tenta partir, mas o agente sabe que ele irá regressar, pois não tem para onde ir.

Com a acção passada no final dos anos 1960 (o próprio genérico animado remete-nos para aquele imaginário), Spielberg conseguiu aqui mostrar-nos um ambiente bastante semelhante ao que deve ter sido. Dos aviões da Pan Am aos hotéis e casas por onde o jovem aldrabão passa. Aqui a fotografia conseguiu ajudar bastante a meter-nos no filme. Algo que irá acontecer também mais tarde em «Munique», passado nos anos 1970.

«Apanha-me Se Puderes» é um filme agradável, cujas mais de duas horas até passam relativamente bem, e a dupla de protagonistas também está à altura da história. Leonardo DiCaprio parece realmente jovem, apesar de na altura da rodagem ter mais de 10 anos do que a personagem que interpreta, e Tom Hanks é o cumpre o cliché do agente do FBI que segue as regras todas, mas no fundo até tem bom coração. Bem melhor do que na sua prestação em «Terminal de Aeroporto», o filme seguinte de Spielberg em 2004.

Nota: 4/5

Site do filme no IMDB

Banda Sonora: Yellow Submarine, de The Beatles

Uma nova versão de Yellow Submarine em animação digital 3D poderá ser um dos próximos projectos de Robert Zemeckis. O projecto deverá estar concluído em 2012 para coincidir com a realização dos Jogos Olímpicos de Londres e os Beatles sobreviventes, Paul McCartney e Ringo Starr, já estão a ser sondados para aparecerem no remake. É este o pretexto para a banda sonora desta semana.

Tetro, de Francis Ford Coppola (2009)

«Tetro» é magnifico. Só esta frase servia para falar deste soberbo filme de Francis Ford Coppola, a sua última obra de arte. Porque há filmes que nos deixam sem palavras e é difícil falar deles.

Filmado em Buenos Aires, a preto e branco, «Tetro» conta a história de um jovem de 18 anos, Bennie (Alden Ehrenreich a lembrar os primórdios de Leonardo Di Caprio, até na própria fisionomia), que chega à capital argentina para rever o irmão. O irmão é precisamente o Tetro (Vincent Gallo) que dá nome ao filme. Tetro saiu de casa, onde vivia sufocado pela figura do pai, um maestro de renome que sugava a vida de todos à sua volta, incluindo a família. Como exemplo, num diálogo entre o maestro (Klaus Maria Brandauer) e o seu irmão, o primeiro diz-lhe para não usar o apelido da família numa obra que está a preparar porque a considera má.

Mas é na relação entre os dois irmãos que tudo se passa. A saída de casa de Tetro teve como objectivo escrever. E foi através da escrita que resolveu contar a história da sua vida e da sua família, uma vez mais com a figura do pai no centro. Estes textos nunca são publicados, mas a chegada de Bennie, que quer também saber a sua história que ninguém lhe conta, vai mudar tudo, quando este descobre o manuscrito original.

Uma das principais características deste «Tetro» é a utilização do preto e branco. E eu não estou a ver como poderia este filme ser feito, sem ser desta forma. A cor só aparece quando há flashbacks do passado, com pequenos episódios da vida da família Tetrocini no passado, e em cenas de uma peça baseada nos textos de Tetro. E em ambos os casos as cores são demasiado expressivas.

Além desta maravilhosa utilização da cor e do preto e branco há outra grande presença em «Tetro»: as luzes e os espelhos. No primeiro caso há um jogo de luzes que vai percorrendo todo filme, em cenas específicas. Não é por acaso que Tetro é especialista em iluminação num teatro. Já os espelhos também têm uma grande força. É o grande espelho na casa de Tetro que mostra o que nós não podemos ver e são também espelhos que ajudam Bennie a decifrar os textos do irmão.

Por fim e para não me alongar demasiado, uma nota final sobre a interpretação. Na minha opinião, Francis Ford Coppola fez um achado ao escolher Alden Ehrenreich, um jovem com enorme potencial e com muito para evoluir, pois este é apenas o seu segundo papel no cinema depois de algumas participações em séries televisivas. Tal como já referi atrás, fez-me lembrar o Leonardo DiCaprio na sua fase antes de «Titanic». Se continuar assim, prevê-se um futuro brilhante.

Nota: 5/5

Site oficial do filme

domingo, 22 de novembro de 2009

A Verdade e o Medo, de Peter Hyams (2009)

Quatro anos depois da sua última obra, «A Sound of Thunder», Peter Hyams está de volta com «A Verdade e o Medo», um remake do filme «Beyond a Reasonable Doubt», filmado em 1956 por Fritz Lang. Infelizmente não conheço o original, logo não posso fazer a comparação. Apenas sei, lendo a sinopse que se encontra no IMDB, que a história não terá sido muito alterada. Isto sem contar com o factor tempo, que nunca pode ser o mesmo e por vezes é o suficiente para mudar muita coisa.

A história deste «A Verdade e o Medo» é a de um jornalista de investigação de um canal de TV que já teve melhores dias (Jesse Metcalfe), que descobre que um procurador do Ministério Público, interpretado por um Michael Douglas longe do seu melhor, que falsifica provas para resolver os seus casos. A acrescentar a esta ética bastante original, este mesmo procurador está prestes a ser nomeado Governador do Luisiana, sem que ninguém suspeite das suas práticas.

Com base na informação que vai recolhendo, o jornalista resolve ele próprio arranjar maneira de se incriminar a si próprio de um crime que não cometeu, neste caso um assassinato de uma prostituta. Com este esquema a personagem de Jesse Metcalfe pretende não só mostrar a careca do procurador, mas também fazer a reportagem da sua vida e voltar aos seus tempos de glória.

Estamos assim perante um filme que mistura um pouco de várias áreas. Por vezes é um filme de tribunal, outras é um filme sobre jornalismo e também aqui encontramos algumas cenas dignos de um bom filme de suspense. Basta ver uma perseguição nas ruas da cidade ou a tentativa de atropelamento da namorada do jornalista (Amber Tamblyn) num parque de estacionamento.

Além destas cenas mais frenéticas, que estão bem conseguidas, Peter Hyams consegue também fazer um bom uso da sua câmara, sacando uns travellings dignos de nota. Destaque ainda para o final, que não vou revelar, que é um twist muito engraçado, que consegue trocar as voltas todas e dá que pensar. Não só sobre a actividade do procurador mas também do próprio jornalista. Nos dias que correm, há filmes que aparecem na altura certa.

Nota: 3/5

Site oficial do filme

Documentários musicais na Fonoteca de Lisboa

A Fonoteca Municipal de Lisboa vai organizar na próxima semana, entre os dias 24 e 28 de Novembro, uma Mostra de Filmes Documentários dedicados à música. Sempre a partir das 18 horas e com entrada gratuita, este ciclo vai apresentar obras sobre os mais diversos estilos e variantes da música.

Do hip hop de Sam the Kid à música popular das aldeias perdidas de Portugal, passando pelo Fado e por um mítico concerto dado pelos Génesis em 1975 em Cascais, considerado por muitos como um dos primeiros grandes concertos internacionais a passar por território português a seguir ao 25 de Abril. Documentários e música para todos os gostos e feitios a partir de terça-feira.

Mais informações sobre a mostra neste link.

Luzes de Variedades, de Alberto Lattuada e Federico Fellini (1950)

Corria o início da década de 1950 quando Federico Fellini se estreia nas lides da realização, ao fazer dupla com Alberto Lattuada em «Luzes de Variedades». E logo no seu primeiro filme, o autor de «8 e Meio» já apresenta algumas das características que serão a sua imagem de marca: personagens à margem da sociedade, grupos de artistas e uma jovem que sai da sua terra natal em busca do seu sonho.

Neste caso, temos a história de uma companhia de artistas de revista em paralelo com a de uma jovem (Carla Del Poggio) que os vê numa representação feita numa pequena terra e resolve fazer-se à estrada, porque afirma que é esse o seu sonho. E no currículo apresenta já grandes feitos, como ter conseguido dançar 70 horas (só não conseguiu mais porque os outros se cansaram) ou a vitória num concurso de Miss Praia. Ou seja, temos uma jovem ambiciosa, que ao longo do filme acaba por fazer tudo, sem olhar a meios, para ser uma estrela.

Nem que para isso tenha de fazer gato sapato de uma das vedetas da companhia, um brilhante Peppino de Fillippo, que acaba por se apaixonar por ela e fica cego com a paixão (ou ilusão), e colocar a companhia de pantanas, ao criar conflitos entre todos. Seja porque se torna a vedeta por acaso ou porque desfaz o noivado de Peppino, com a futura esposa de Fellini, Guillieta Masina.

Como tinha referido, são muitas as características do cinema de Fellini que já se encontram aqui. Temos uma Roma à noite, belíssima, com os seus habitantes marginais (é aqui que Peppino vai arranjar a sua futura companhia, composta por um vagabundo norte-americano cantor de Jazz, um cowboy saído do asilo, uma brasileira cigana, uma coreógrafa húngara e um maestro russo), os seus cabarets da época e personagens que se fazem à vida. Só ainda falta a fabulosa música de Nino Rotta, mas essa viria mais tarde, quando Fellini se estreou em nome próprio com «O Sheik Branco». Mas o ambiente e a magia já estava lá.

Nota: 5/5

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sábado, 21 de novembro de 2009

Academia revela pré-candidatos ao Óscar para melhor documentário

Já é conhecida a lista dos 15 documentários pré-seleccionados para o Óscar de melhor documentário, na categoria longa-metragem. Os 15 documentários saíram de uma lista original de 89 filmes, mas apenas cinco serão os nomeados à estatueta mais ambicionada de Hollywood. Uma das surpresas, ou talvez não, foi a não nomeação do agitador Michael Moore, que está prestes a estrear em Portugal o seu mais recente «Capitalismo: Uma História de Amor».

A lista completa é:

«As Praias de Agnès», de Agnès Varda (já estreado em Portugal);
«Burma VJ», de Anders Østergaard;
«Every Little Step», de Adam Del Deo e James D. Stern;
«Facing Ali», de Pete McCormack;
«Garbage Dreams», de Mai Iskander;
«Living in Emergency: Stories of Doctors Without Borders», de Mark Hopkins;
«The Most Dangerous Man in America: Daniel Ellsberg and the Pentagon Papers», de Judith Ehrlich e Rick Goldsmith;
«Mugabe and the White African», de Andrew Thompson e Lucy Bailey;
«Sergio», de Greg Barker;
«Soundtrack For a Revolution», de Bill Guttentag e Dan Sturman;
«Under Our Skin», de Andy Abrahams Wilson;
«Valentino, the Last Emperor», de Matt Tyrnauer;
«Which Way Home», de Rebecca Cammisa.

A lista dos cinco nomeados será conhecida a 2 de Fevereiro, quando forem revelados todos os nomeados da 82ª edição dos Óscares, cuja cerimónia de atribuição dos prémios está marcada para 7 de Março.

David Lynch filme documentário sobre guru dos Beatles

O realizador norte-americano David Lynch vai filmar um documentário sobre Maharishi Mahesh Yogi, o guru indiano que integrou algumas sessões de meditação dos Beatles. Segundo a New York Magazine, as filmagens deverão arrancar no próximo mês na Índia.

A admiração de David Lynch pelo mestre da meditação já tinha sido tornada pública há alguns anos, nomeadamente quando lhe dedicou em 2006 o seu livro Em Busca do Grande Peixe, escrito com base nas experiências de meditação transcendental do cineasta.

Um dos objectivos de David Lynch é tentar encontrar um antigo companheiro de Maharishi Mahesh Yogi, que actualmente terá 97 anos. Em declarações à publicação o realizador de «INLAND EMPIRE» refere que o seu objectivo com este encontro é «conseguir histórias que não ficaram bem gravadas».

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Confirma-se: Jardel estreia-se como actor

Já aqui tinha falado da ideia de Mário Jardel, futebolista e antiga estrela do desporto rei por terras lusas, de trocar a bola pelo ecrã. Mas não o grande como disse ao i na semana passada. Ao que tudo indica, Jardel vai protagonizar uma série para televisão e as filmagens arrancaram ontem, perto de Coimbra.

Denominada «Histórias do Bom Jardel» a série é uma comédia e vai ser produzida pela Zed Filmes - Curas e Longas. Quanto ao argumento, conta a história de três amigos de uma pequena vila do interior que para pagarem uma dívida decidem investir no passe do jogador, para o tentarem vender por uma boa maquia.

Contudo o plano não dá funciona e Jardel acaba 'preso' ao clube da vila, refere a sinopse. Ao longo dos 12 episódios previstos, o antigo artilheiro tem tempo para tudo, até para se apaixonar pela mãe de um dos três amigos. A ver vamos o que sairá desta aventura de actor de Mário Jardel, que poderá ainda vir a ser uma longa metragem.

O Furacão, de Monte Hellman (1965)

No meio dos seus devaneios pela série B, Monte Hellman também andou pelas planícies do Oeste selvagem. «O Furacão» é um dos westerns assinados pelo realizador de «Cockfighter», com argumento de Jack Nicholson, a mesma dupla por detrás do menos conseguido «Flight To Fury».

Neste filme a história resume-se à fuga de um trio de cowboys, chamemos-lhes assim pois não chegamos a perceber o que realmente são a não ser que querem chegar a uma cidade sem dar nas vistas. O problema surge quando se cruzam com uma quadrilha de assaltantes que se esconde dos vigilantes por causa dos seus crimes. Ou seja, uma vez mais, é a história de alguém que está no sitio errado à hora errada.

Com uma história simples, não se pode ir muito longe e a fuga do trio, que vai sendo reduzido até ao final, acaba por ser a única acção digna desse nome. Há cavalgadas e perseguições, duelos no meio das montanhas e um assalto logo a abrir. Na interpretação, uma vez mais destaque-se a presença de Jack Nicholson, aqui como um dos cowboys em fuga, que ao longo do filme se vai interrogando sobre o que fazer se escapar desta aventura. Não chegamos a saber, pois o filme acaba com este a cavalgar rumo ao infinito, deixando a narrativa em aberto.

Nota: 3/5

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quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Em Cartaz: Semana 19/11/2009

Ne Change Rien, de Pedro Costa
Cliente, de Josiane Balasko
Julie e Julia, de Nora Ephron
O Milagre em Sant'Anna, de Spike Lee
Pandemia, de Àlex Pastor e David Pastor
Tetro, de Francis Ford Coppola
Um Conto de Natal, de Robert Zemeckis

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Flight To Fury, de Monte Hellman (1964)

Ainda ontem me desfiz em elogios a Monte Hellman e hoje tive de engolir um sapo ao ver este «Flight To Fury». Com argumento de Jack Nicholson, que também é um dos actores principais, «Flight To Fury» é um série B passado nas Filipinas, onde se passa a acção. E quando digo série B, se calhar deveria optar pelo C ou mesmo D, mas fiquemos pelos cânones.

No fundo este é um filme em que todos andam à procura do mesmo e o mesmo são diamantes que foram entregues a uma das personagens, por sinal amiga da outra personagem principal, um jogador em maré de azar que está de passagem por Manila na altura errada e tem de fugir quando se vê a braços com uma mulher assassinada num quarto de hotel.

Com excepção da interpretação de Jack Nicholson, na altura com apenas 27 anos mas já dava mostras de um futuro promissor, pouco escapa deste «Flight To Fury». Os maus não têm pinta, apenas têm a mania que têm pinta, há um japonês que só morre depois de três tiros em cheio mas ainda com tempo de matar uns quantos guerrilheiros à catanada. Enfim, um bocado de chunga a mais.

E o argumento, apesar de ser assinado por um nome que muito me agrada, também não escapa. Há pormenores engraçados, mas não passam disso mesmo. Amanhã é dia de western da dupla Nicholson/Hellman. A ver o que sai dali.

Nota: 2/5

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terça-feira, 17 de novembro de 2009

Cockfighter, de Monte Hellman (1974)

Mais um tesouro que descobri na Cinemateca, que está a organizar um ciclo dedicado a Monte Hellman, um realizador da escola Roger Corman que não conhecia. Talvez este seja um dos nomes menos conhecidos da vaga do mítico realizador, que apadrinhou, entre outros, Francis Ford Coppola, Martin Scorcese ou Jack Nicholson, só para referir os mais populares. Pelo que indicaram no programa deste mês, o ciclo é bastante pequeno, tem apenas nove obras, mas se todas forem como «Cockfighter», compensa dar uma olhadela.

«Cockfighter» é considerado uma das obras primas de Monte Hellman e conta a história de um treinador de galos de luta (Warren Oates), que não fala (apenas ouvimos a sua voz em off e num flashback onde se explica a razão da sua mudez) e tenta singrar no universo violento das lutas de galos. E violento é o filme. Desde o ambiente deste submundo do Sul dos EUA, onde há truques para todos os gostos feitios e torneios que se realizam em quartos de hotel para não dar tanto nas vistas, às próprias lutas de galos.

Quem for contra a violência entre animais, tem de ir de pé atrás antes de ver o filme, pois as cenas de lutas são bastante gráficas. O que não impede de estarem bastante bem filmadas, algumas até em câmara lenta, o que me fez lembrar os filmes de kung fu e artes marciais que via há uns anos, interpretados por Jean Claude Van Damme ou Bruce Lee. A juntar a isto temos personagens bastante pitorescas, não só o 'herói' se assim se pode chamar ao treinador de galos tem muita pinta, mas o próprio ambiente sulista, cheio de rednecks com jardineiras está bem representado. Como exemplo deste ambiente, temos o jovem que perde uma luta porque enfiou o dedo no rabo de um dos seus galos, o que levou a organização a desclassificá-lo e a proibir a sua participação nos campeonatos.

Há ainda a notar a presença de Harry Dean Stanton, aqui no papel do rival do treinador. Não sei como será o resto da obra de Monte Hellman, mas com este aperitivo, vou tentar ver mais algumas obras dele.

Nota: 4/5

Site do filme no IMDB

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

«The Spine» triunfa no Cinanima

O filme «The Spine», realizado pelo norte-americano Chris Landreth, foi o vencedor do Grande Prémio Cinanima da edição deste ano do Cinanima - Festival Internacional de Cinema de Animação que encerrou ontem em Espinho. O prémio principal vai assim para um nome consagrado da animação, que já em 2004 tinha arrecadado o Óscar para melhor curta-metragem animada com «Ryan». «The Spine» é também uma curta-metragem de 11 minutos em 3D, mesma técnica utilizada em «Ryan», que conta a história de redenção de um casal.

Os outros prémios do Cinanima 2009 foram:

- Prémio Especial do Júri e Prémio do Público: «Logograma», de François Alaux, Hervé de Crécy e Ludovic Houplain (França);

- Prémio para Melhor Curta Metragem: «Red-End and the seemingly symbiotic society», de Robin Noorda e Bethany de Forest (Holanda);

- Menções honrosas: «Granny O'Grimms Sleeping Beauty», de Nicky Phelan (Irlanda) e «Madagascar - Carnet de Voyage», de Bastien Dubois (França);

- Prémio para Melhor Média Metragem: «Lost and found», de Philip Hunt (Reino Unido);

- Melhor Longa Metragem: «Panique au village», de Stéphane Aubier e Vincent Patar (Bélgica);

- Prémio para o Primeiro Filme, Filme de Fim de Estudos, Filme de Escola: «Gary», de Clément Soulmagnon, Sébastien Eballard, Quentin Chaillet e Yann Benedi (França);

- Prémio para o Filme Publicitário ou de Informação: «Harmonix: Rock Band 2», de Pete Candeland (Reino Unido);

- Prémio José Abel: «French Roast», de Fabrice O. Joubert (França)

- Grande Prémio Tobis: «Pássaros», de Filipe Abranches (Portugal);

- Prémio Alves Costa: «O Acidente», de Andrés Marques e Carlos Silva (Portugal);

- Prémio RTP 2: Onda Curta: «Madagascar - Carnet de Voyage», de Bastien Dubois (França), «Les Ventres», de Philippe Grammaticopoulos (França), «Memoire Fossile», de Arnaud Demuyinck e Anna-Laure Toutaro (França), «Malban», de Elodie Bouedec (França), «Germania Wurst - German History in a Bite», de Volker Schlecht e «Notebook», de Evelien Lohbeck (Holanda);

- Prémio Melhor Banda Sonora Original: «Urs», de Moritz Mayerhofer (Alemanha);

- Prémio Jovem Cineasta Português < 18 Anos: «O Assalto», de Alunos da EB1 Sede nº1 de Vila do Conde;

- Menção Especial: «Amor Por Um Fio», de Alunos da EB2,3 Júlio Saúl Dias, 9ºH, Vila do Conde;

- Prémio Jovem Cineasta Português > 18 Anos: «O Direito à Infelicidade», de Colectivo Nefasto - Pedro Vaz, Mário Dinis e Miguel Coelho;

- Prémio António Gaio: «Mi vida en tus manos», de Nuno Beato (Portugal).

Mais informações aqui.

Jardel actor?

O jogador de futebol brasileiro Mário Jardel, que tantas alegrias deu aos adeptos do Futebol Clube do Porto e Sporting, está de regresso a Portugal. Em entrevista ao jornal i, o antigo artilheiro, agora com 36 anos e a jogar num clube da terceira divisão cearense revela que a sua presença em solo português se deve a «um teste para um filme sobre futebol em que eu sou a personagem principal». O avançado goleador não adianta muitos pormenores, mas revela que «não é sobre a minha vida mas tem episódios da minha».

O que será? Estaremos perante mais um caso de futebolista que quer tentar a sua sorte no Cinema. E será mais Eric Cantona ou Vinnie Jones. Esperar para ver. A entrevista pode ser lida aqui. Mas só para quem gosta de bola, pois de cinema só se fala nas primeiras perguntas.

New York, I Love You, vários realizadores (2009)

Depois de «Paris, Je t'aime», que se pode dizer obteve um sucesso razoável, chega agora «New York, I Love You» e o próximo destino é Xangai. A ideia é a mesma. Juntam-se alguns realizadores conhecidos, actores que o grande público conhece à légua e vai de filmar várias curtas metragens que contam histórias de amor cujo cenário é uma grande cidade, de preferência romântica.

Esta ideia agrada-me bastante, e não posso dizer que não gostei de nenhum destes dois filmes, mas sinto sempre que não acrescenta nada a não ser duas horas bem passadas. E se estivermos bem acompanhados, ainda cai melhor. No fundo as histórias de amor são sempre belas e neste caso apenas muda o cenário. Contudo uma das mudanças é que aqui não há paragens entre as curtas e as personagens vão aparecendo em curtas distintas, dando uma ideia de interligação e um conjunto unido que o anterior passado em Paris não tinha.

As curtas contam-nos um pequenas histórias de amor na cidade que nunca dorme. Gostei particularmente da presença de actores que há muito não via, como James Caan, que está brilhante como dono de uma farmácia, ou Eli Wallach, o mítico Vilão do filme «O Bom, o Mau e o Vilão», que pensava já não estar entre nós, no papel de um velhote rabugento que está sempre a resmungar com a sua também idosa esposa.

E depois temos de tudo. Curtas bastante românticas, como a que foi realizada Shekhar Kapur, passada num hotel e com uma interpretação que me agradou bastante, a cargo de Shia LaBeouf, cómicas, como a realizada por Brett Ratner, outro dos nomes que me surpreendeu, e até uma história filmada por Natalie Portman. Mas se estiver aqui a falar de todos estes nomes o post fica enorme. Se estiverem apaixonados, é uma boa fita para levar o vosso par.

Nota: 3/5

Site oficial do filme

Banda Sonora: Space Oddity, de David Bowie

A banda sonora desta semana vai para Space Oddity, de David Bowie, para brindar a estreia do filho do camaleão na Sétima Arte. Duncan Jones é o realizador dum excelente «Moon - O Outro Lado da Lua», que estreou esta semana nas salas portuguesas.

domingo, 15 de novembro de 2009

Moon - O Outro Lado da Lua, de Duncan Jones (2009)

Grandes filmes não precisam de ser muito complicados. É o caso deste «Moon - O Outro Lado da Lua», a primeira obra de Duncan Jones, filho de David Bowie. E se Duncan continuar a assinar pérolas como esta, bem se pode começar a levar à letra o ditado «quem sai aos seus não degenera». Se bem que neste caso os dois pertencem a áreas distintas.

Mas falemos de «Moon», para mim um dos melhores filmes do ano e já tem um cantinho reservado no top 10 de 2009. É difícil falar da história deste filme sem desvendar muito. Por isso penso que basta referir que esta é a história de Sam Bell (Sam Rockwell), um astronauta ao serviço de uma empresa que controla a exploração de uma fonte de energia para o planeta Terra. A missão de três anos de Sam está prestes a terminar, faltam duas semanas, e estranhos acontecimentos ocorrem a bordo da estação lunar onde o astronauta se encontra, acompanhado apenas por um robot que muito provavelmente é familiar do computador HAL, de «2001: Odisseia no Espaço».

São apenas estas as duas personagens do filme. No caso do robot, apenas se houve uma voz, uma vez mais incrivelmente parecida com a de HAL, mas que pertence a Kevin Spacey. E mais não vale a pena contar, pois perdia o efeito surpresa do filme. E quem for à espera de encontrar um filme de ficção cientifica filosófico, ao género do já citado «2001» ou «Solaris», desengane-se, pois «Moon» faz-nos puxar pela cabecinha mas não tanto.

Em relação à interpretação, Sam Rockwell está muito bem, quase ao nível da sua presença em «Confissões de uma Mente Perigosa», de George Clooney. E seria um crime não nomeá-lo para Óscar para melhor actor. Mas isso já sou eu a exagerar, ou não. Quanto a Kevin Spacey, só o facto de nos fazer recordar o HAL, desta vez com expressões à smiley num ecrã, já vale a pena pagar o bilhete.

Uma grande estreia para Duncan Jones, que espero venha a provar estar à altura do pai no futuro.

Nota: 5/5

Site oficial do filme

O Vale Proibido, de David Jacobson (2005)

Um cowboy misterioso, interpretado por Edward Norton, devaneia por Los Angeles e acaba por se cruzar com um grupo de jovens. É aqui que se apaixona por uma adolescente (Evan Rachel Wood) e tudo indica que estamos perante uma bela história de amor, em que o par não consegue viver os seus sonhos porque o que os rodeia não deixa. Mas não só isso que é abordado em «O Vale Proibido», de David Jacobson.

Tudo por causa dos segredos do cowboy, uma excelente interpretação (mais uma para a colecção de Edward Norton), que não foi bem recebido pelo pai da jovem (o britânico David Morse) mas sim pelo seu irmão mais novo (Rory Culkin, um dos irmãos de Macaulay Culkin), quiçá por ver nele uma espécie de irmão mais velho, que o ajuda quando mais ninguém o apoia.

Estes segredos e as suas ideias românticas, que de início nos fazem acreditar nesta história de duas pessoas marginalizadas pelo seu ambiente, acabam por cair por terra ao mínimo abalo. A partir tudo se transforma e a história muda de figura, mostrando a todos a verdadeira personalidade do cowboy. Com um bom elenco, centrado nestas quatro personagens, «O Vale Proibido» é um filme simples, sem grandes efeitos, e que está bastante bem conseguido. Outro ponto a destacar neste filme é a banda sonora, a cargo de Peter Sallet.

Nota: 4/5

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sábado, 14 de novembro de 2009

O Mistério da Casa de Bambu, de Samuel Fuller (1955)

Filmado em Cinemascope por Samuel Fuller, um dos muitos nomes de culto da Sétima Arte, «O Mistério da Casa de Bambu» é um policial passado em Tóquio. É na capital japonesa que um misterioso gangue é procurado pelas autoridades locais e norte-americanas, por supostamente estar envolvido no assalto a um comboio de armamento que era guardado por forças de segurança de ambos os países.

Para resolver este caso, os investigadores resolvem pegar na única pista que têm e colocar um homem infiltrado no seio do grupo de criminosos, que parece controlar Tóquio. E o ambiente de Tóquio dos anos 50 dá um excelente cenário para este policial, que tem três ou quatro cenas de assalto (já contando com a primeira) bastante bem conseguidas.

Já para não falar do duelo final, passado num parque de diversões no telhado de um prédio, que por certo estará entre as melhores da obra de Fuller. Não só nesta cena, mas em todo o filme, a câmara do realizador 'porta-se' muito bem, com planos muito bem conseguidos, na sua maioria picados. Destaque ainda para a interpretação de dois Roberts: Stack no papel do infiltrado e Ryan no papel de líder do gangue.

Nota: 3/5

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sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Mostra de cinema italiano em Lagoa

O Auditório Municipal de Lagoa vai a partir de amanhã uma mostra de cinema italiano contemporâneo. O primeiro filme do ciclo, que reúne três obras recentemente estreadas em Portugal, é «O Meu Irmão é Filho Único», de Daniele Luchetti, às 21h30.

À mesma hora do dia 19, passa «Almoço de 15 de Agosto», de Gianni Di Gregorio. A mostra termina no dia 26 com a projecção de «O Caimão», o último filme realizado por Nanni Moretti. Esta sessão vai ter como complemento a curta metragem «História Trágica com Final Feliz», realizado por Regina Pessoa.

Bilhetes a 2 euros. Mais informação aqui.

Palmarés do Estoril Film Festival 2009

O filme «Dogtooth», segundo filme do grego Giorgios Lanthimos, foi o vencedor do Grande Prémio do Estoril Film Festival 2009. É mais uma conquista para o filme que já havia ganho o prémio Un Certain Regard na 62ª edição do Festival de Cannes, além de galardões nos certames de Sitges, Sarajevo e Montreal.

O restante palmarés foi:

- Prémio especial do Júri: ex-aequo para «Estearn Plays?» (Bulgária), de Kamen Kalev e «The Girl»(Suécia), de Fredrik Edfeldt;

- Prémio Cineuropa: «First of All, Felicia» (Roménia), de Melissa de Raaf e Razvan Radulescu);

- Melhor Curta Metragem: «52 Procent» (Polónia), de Rafal Skalski;

- Menção Honrosa: Jorge Jácome, da Escola Superior de Teatro e Cinema.

Mais informações aqui.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Cinema Espanhol, ontem e hoje

Uma vez mais a Embaixada de Espanha em Lisboa resolveu promover um ciclo dedicado ao cinema que se faz por terras de nuestros hermanos. O ciclo «Contrastes Entonces Y Ahora» começa hoje e termina no dia 15, com sessões gratuitas no cinema São Jorge.

Com este ciclo a organização pretende mostrar a forma como os cineastas espanhóis filmaram o país e algumas das suas épocas mais emblemáticas do ponto de vista histórico.

A abrir o ciclo o primeiro filme, que passa já hoje às 21h30, é «Ay Carmela!» de Carlos Saura, realizado em 1990 e cuja acção tem lugar durante a Guerra Civil de Espanha. Esta é também a época retratada no segundo filme do ciclo, «La Vaquilla», de Luis García Berlanga, que é projectado à mesma hora.

Sábado e Domingo, para aproveitar o fim de semana, a mítica sala lisboeta vai receber três filmes no Sábado e dois no Domingo. São eles: «El Viaje a Ninguna Parte», de Fernando Fernán-Gómez; «El Disputado Voto del Sr. Cayo», de Antonio Giménez-Rico; e «Siete Mesas de Billar Francés», de Garcia Querejeta, no Sábado; e «14 Kilómetros», de Gerardo Olivares; e «Mataharis» de Icíar Bollaín, no Domingo.

Todos os filmes são legendados, com excepção de «El Disputado Voto del Sr. Cayo».

Mais informações no site do ciclo.

Em Cartaz: Semana 12/11/2009

Moon - O Outro Lado da Lua, de Duncan Jones
O Negócio, de Steven Schachter
A Verdade e o Medo, de Peter Hyams
2012, de Roland Emmerich
Os Sorrisos do Destino, de Fernando Lopes
Olho Para o Negócio, de Neal Brennan
O Circo dos Horrores: O Assistente do Vampiro, de Paul Weitz

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

O Expresso de Berlim, de Jacques Tourneur (1948)

Berlim, antes do muro e no início da Guerra Fria. Um comboio parte para Berlim com uma personalidade importante, que defende a reunificação da cidade depois da divisão inicial em quatro partes, cada uma controlada pelas potências vencedoras da II Guerra Mundial. Esta personagem, o Dr. Bernhardt, é cobiçada pela resistência que o tenta aniquilar e alterar os planos.

É este o centro da história de O Expresso de Berlim, filmado por Jacques Tourneur em cenários reais, que junta cidadãos dos quatro países que dividiram Berlim (França, União Soviética, EUA e Reino Unido) para proteger o Dr. Bernhardt. Um bom filme de espionagem, que ao ter a sorte de poder ser filmado em cenários reais de Berlim e Frankfurt numa época tão complicada, cidades na altura ainda completamente destruídas, acaba por se tornar também um documento histórico do que era a Alemanha no final da Guerra.

Em tempos como os do pós-Guerra, todo este caldeirão de personagens é bastante exemplificativo do que se passava naquele tempo. Todos desconfiavam de todos e a colaboração entre os quatro apenas foi possível porque se aperceberam do que estava em jogo. Até o soldado soviético, que tinha a certeza de que iria ser fuzilado se desobedecesse aos superiores, mas decidiu ajudar os seus camaradas de ocasião.

É curioso que, apesar das diferenças que envolvem cada um, esta é uma história que todos sabem que irão recordar, independentemente do politicamente correcto ou da posição dos seus governos. Com excepção de um, que não vou revelar para não estragar a surpresa de quem vir este filme, que está por detrás da conspiração.

De realçar que a revelação de quem é o cabecilha do grupo de resistência também está muito bem conseguida, pois ninguém suspeitava quem era e quase só no final, quando este se prepara para executar o plano, é que é identificado. Tal qual um romance policial.

Nota: 4/5

Site do filme no IMDB

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Banda Sonora: Wild Wild Life, de Talking Heads (errata)

A propósito da presença de David Byrne no Estoril, onde é membro do júri do festival que está a decorrer até ao próximo sábado, a banda sonora desta semana é Wild Wild Life, dos Talking Heads. A música faz parte da banda sonora original de True Stories, filme realizado por David Byrne em 1986.

O filme é projectado no âmbito do Estoril Film Festival no dia 13, às 17h.

Errata:

Uma pequena alteração à informação. A música que é a banda sonora desta semana não faz parte da banda sonora original de True Stories, como originalmente disse. Esta versão integra um álbum dos Talking Heads, que tem o nome do filme, com versões das músicas originais do filme, que neste caso são interpretadas pelos actores. Pelo engano, peço desculpa.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Animação de volta a Espinho

O mundo da animação reúne-se em Espinho, para 33ª edição do Cinanima - Festival Internacional de Cinema de Animação, que tem hoje início. De acordo com a organização a edição deste ano foi a mais concorrida de sempre, com um total de 787 filmes inscritos, provenientes de 47 países.

Até ao próximo domingo os adeptos do cinema de animação vão poder assistir a 260 obras. Considerado um dos grandes eventos mundiais do cinema animado, os vencedores têm a oportunidade de ser pré-seleccionados para o Cartoon D'Or, o principal prémio mundial neste segmento.

A representar Portugal vão estar cinco filmes, todos na competição oficial: 28, de José Xavier; Café, de João Fazenda e Alex Gozblau; Pássaros, de Filipe Abranches; O Acidente, de André Marques e Carlos Silva, e Passeio de Domingo, de José Miguel Ribeiro. Esta curta tive oportunidade de ver durante a última edição do IndieLisboa e é mais uma prova que o realizador de A Suspeita, um dos filmes de animação portugueses mais premiados de sempre, continua em boa forma.

O início do Cinanima 2009 teve lugar hoje com uma sessão onde foram projectados as fitas premiadas da edição 2008. A partir de amanhã começam as sessões competitivas.

Além da projecção de filmes, destaque ainda para a realização de eventos paralelos, como workshops e exposições.

Mais informações no site oficial.