sábado, 26 de março de 2011

Camino, de Javier Fesser (2008)

(Este texto poderá ferir algumas susceptibilidades, mas vou tentar não o fazer)

É difícil ver este filme. Não só porque acho que é mau, mas pela própria história, inspirada em factos reais, que nos conta Javier Fesser. Apesar dos seis prémios Goya (os Óscares espanhóis) que conquistou em 2009, entre os quais o de Melhor Filme, Melhor Realizador e Melhor Argumento Original, «Camino» não é um filme que se veja de ânimo leve. E tenho de confessar que estive quase para sair da sala de cinema, o que seria uma primeira vez na minha experiência de cinéfilo.

A Camino (Nerea Camacho) do título é uma rapariga de 11 anos criada numa família católica, com as suas dúvidas próprias da idade, que apesar da educação que lhe deram preferia por vezes seguir outros caminhos, como participar numa peça de teatro em vez de assistir a aulas de culinária. Mas a mãe, bastante controladora de toda a família, não o permite. E fá-lo ao longo de todo o filme, contra todos os membros da família. Quando Camino se apaixona pelo primo de uma colega da escola, curiosamente chamado Jesus, os médicos descobrem que a rapariga sofre de um tipo de cancro bastante complicado de curar.

A história já de si é durinha de engolir. Podíamos estar perante um novo «Mar Adentro», mas o filme não podia ser mais diferente. A religião é aqui o centro do filme e conseguimos ver a força que ainda tem em certas pessoas. Quando Camino vai falando das suas preces e de como ajudam os outros, mas deus e Jesus parecem que nada fazem para a salvar, surge logo o capelão a incentivar a sua mãe a promovê-la como santa, porque as instâncias católicas dizem que há falta de santos. E quando uma mãe, mesmo sendo personagem, diz que fica feliz por a filha morrer, já diz muito sobre o que está em causa.

Javier Fesser cumpriu o seu papel, ao criar um filme que crítica a forma como muitos se apoiam na tragédia de uma menina com uma vida enorme e sonhos pela frente para defender este tipo de actos. Acaba por fazer uma dedicatória a Alexia González Barros, uma rapariga espanhola que morreu da mesma forma e está em processo de beatificação que serviu de inspiração ao filme, o que não deixa contudo de ser um paradoxo, pois ele também acaba por aproveitar a situação.

Mas nem se trata apenas desta questão. A história em si já é demasiado horrível para ser aproveitada da forma como foi. E não querendo embirrar ainda mais com um filme que não gostei, ver os dois miúdos apaixonados de olhos esbugalhados (sobretudo Nerea Camacho) sempre que se vêm é um bocado exagerado. Mesmo tendo em conta que este foi o realizador de uma adaptação da BD «Mortadelo e Filemón», exigia-se um mínimo de realismo. No campo da interpretação destaque para Carme Elias, que interpreta o papel da mãe de Carmino. Tirando isso, salva-se muito pouco, a não ser um calvário de mais de 2 horas, que por vezes nos deixa bastante desconfortável.

Nota: 1/5

Site oficial do filme

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