domingo, 26 de dezembro de 2010

O Mágico, de Sylvain Chomet (2010)

Apesar de muito curta (seis longas-metragens, uma para TV, e três curtas-metragens), a carreira de Jacques Tati é uma das mais memoráveis e originais do Cinema. Em jeito de homenagem o realizador do excelente «Belleville Rendez-Vous», Sylvain Chomet, fez um filme de animação baseado num argumento que Tati escreveu para a filha, que nunca chegou a ser filmado pelo realizador francês. O resultado foi «O Mágico», filme estreado na última edição do Festival de Berlim e que chegou esta semana às salas portuguesas.

O resultado é um grande filme, que mistura as obras de Tati (que é reconhecível na personagem principal do ilusionista) com a animação bastante original de Chomet, em duas dimensões, formato que por estes dias começa a rarear em prol do digital e do 3D. Ao ver este «O Mágico» parece mesmo que estamos a ver um dos filmes do cineasta francês, apesar de neste caso o filme não ser uma comédia.

É antes a história de um ilusionista francês que já teve melhores dias e atravessa o Canal da Mancha à procura de trabalho. Nesse périplo vai passando pelos mais variados palcos até chegar à Escócia, onde trava conhecimento com uma rapariga pobre que trabalha num hotel e a quem oferece um par de sapatos. Este episódio faz nascer uma amizade que prossegue quando a rapariga foge de casa para seguir o mágico, que acaba por adoptá-la.

Quase sem diálogos, como é normal nos filmes de Jacques Tati, «O Mágico» foi para mim uma das grandes surpresas deste final de ano cinematográfico. Sylvain Chomet conseguiu pegar na herança que o cineasta nos deixou (e à filha) para nos dar uma grande homenagem ao realizador-actor que aparece numa das cenas deste filme, quando o mágico entra num cinema onde está a ser projectado «O Meu Tio» e se depara com as imagens do seu criador. Este encontro deixa ambos surpreendidos: o ilusionista porque se reconhece no ecrã e o próprio Tati que foge quando se vê do outro lado.

«O Mágico» vem também provar que a animação em duas dimensões, mais tradicional, quando é bem trabalhada, ainda consegue dar bons resultados. Talvez a Disney pudesse olhar melhor para estes exemplos antes de ter acabado com este tipo de filmes.

Nota: 4/5

Site oficial do filme

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