Desde muito cedo que o Cinema foi aproveitado para fazer propaganda. Os EUA fizeram-no e muitos outros países também, mas nenhum o terá feito tão bem como o regime soviético. No período do mudo muitos são os exemplos de filmes de propaganda feitos na ex-URSS que ainda hoje figuram entre os melhores filmes de sempre, com destaque para a obra de Sergei Eisenstein, apenas um de vários bons cineastas nascidos na Rússia.
Mas se no período mudo a estética modernista era o que mais se notava, no período seguinte, quando Estaline sobe ao poder, o culto da personalidade domina. É o caso de «A Queda de Berlim», filme de 1949 realizado por Mikhail Tchiaurelli que retrata a tomada de Berlim por parte das tropas soviéticas durante a II Guerra Mundial. Aqui há duas histórias: a 'verdadeira', sobre o conflito e os seus protagonistas reais (aqui vemos Hitler e os seus oficiais, assim como Churchill ou Roosevelt, na Conferência de Ialta) filmado através do olhar soviético, e a história de Alexei Ivanov (Boris Andreiev), um operário de uma fábrica metalúrgica que se torna herói depois de bater o record de produção de aço num dia e se apaixona pela professora Natacha (M. Kovaliovna). Esta é depois levada pelas tropas alemãs durante a invasão e Alexei ingressa no exército para a ir buscar.
Mas o que sobressai mais de «A Queda de Berlim» é o lado kitsch e o culto da personalidade de Estaline que começa logo na primeira cena, quando Alexei é chamado pelo líder soviético para um encontro em Moscovo. Nesta primeira cena encontramos Estaline a plantar uma árvore e quando o operário refere a palavra Deus, o Chefe de Estado responde-lhe que esse é o nome do seu pai. Ficamos logo com uma ideia do que virá a seguir. Estaline é sempre filmado como um grande líder e todos os restantes chefes de Estado, de Hitler a Roosevelt (com sósias muito parecidos), são retratados de forma maniqueísta, cada um com os seus defeitos exagerados até ao último grau. Uma das melhores cenas é a da conferência de Ialta, quando Churchill propõe um brinde ao Rei e ninguém aceita. A imagem de Estaline como libertador dos povos é ainda reforçada no final de «A Queda de Berlim», quando este chega de avião para ser recebido pelas suas tropas. Aqui o casal protagonista reencontra-se com a bênção do seu líder.
Tirando a parte do exagero e do kitsch, que faz sempre parte deste tipo de filmes, «A Queda de Berlim» tem cenas de batalha muito bem filmadas, algumas das quais à altura de grandes clássicos do cinema norte-americano sobre a II Guerra Mundial. O facto de se tratar de um filme dedicado a um episódio muito caro a Estaline, que fez questão de ser o Exército Vermelho o primeiro a entrar em Berlim, talvez tenha dado carta branca a Mikhail Tchiaurelli para ter mais meios. O que é certo é que estas cenas, com o avançar dos tanques e das tropas, são a melhor parte do filme.
Nota: 3/5 (quem perceber russo, a maior parte deste filme está no YouTube, mas sem legendas. Abaixo é possível ver a cena de Estaline a plantar a árvore)
Site do filme no IMDB (1ª Parte)
Site do filme no IMDB (2ª Parte)
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