sábado, 12 de dezembro de 2009

Shadows, de John Cassavetes (1960)

Foi em 1960 que John Cassavetes se estreou na realização. Até à altura o cineasta apenas tinha entrado em alguns filmes e séries de televisão como actor. Mas foi como realizador que vingou na Sétima Arte.

A sua primeira obra foi «Shadows», um filme que veio de certa forma corromper os cânones da época, ao não apresentar um argumento. Segundo John Cassavetes, e como é explicado no início do filme, o argumento foi improvisado pelo realizador e actores ao longo das filmagens e o objectivo deste risco era provar que era possível fazer Cinema como se faz outra arte, improvisando. No caso o cineasta exemplifica com a música e a pintura.

Ao longo do filme vamo-nos apercebendo que a maior inspiração de «Shadows» é sem sombra de dúvida a música jazz. Não só pela sua magnifica presença na banda sonora, interpretada por Charles Mingus, como no próprio ambiente, visto que uma das personagens é um músico de jazz, que não está a passar a sua melhor fase, tendo de trabalhar a apresentar coristas e não a cantar.

Este músico (Hugh Hurd) é uma das personagens principais, a par de Lelia (a muito bela Lelia Goldoni) e Ben (Ben Carruthers), que no filme são três irmãos, um branco, um mulato e outro negro. É esta particularidade que vai servir de motor à narrativa, pois outro dos avisos que Cassavetes faz no início do filme é que o filme é sobre a juventude e as relações raciais. E na altura aquele era um tema bem quente nos EUA.

E esse choque está bem patente em alguns pormenores. Desde os trabalhos menores que são dados a Hugh, passando pelo ódio do namorado de Lelia (Tony Ray, filho de Nicholas Ray), a irmã branca do trio, quando descobre quem é o irmão da sua amada.

Mas tirando esse tema mais central e mais abrangente, penso que «Shadows» foi uma experiência bem conseguida por parte de John Cassavetes, apesar dos poucos meios ao seu dispor. A improvisação acabou por combinar bem com o ritmo jazz da banda sonora, apenas se nota uma ou outra falha e quebra nos diálogos de vez em quando. E a forma como Nova Iorque foi filmada neste filme também deixa uma excelente imagem da cidade que nunca dorme.

Uma óptima estreia, que representou para mim mais um cineasta a descobrir, pois ainda não tinha oportunidade de ver nenhuma obra deste realizador.

Nota: 4/5

Site do filme no IMDB

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