Foi em 1960 que John Cassavetes se estreou na realização. Até à altura o cineasta apenas tinha entrado em alguns filmes e séries de televisão como actor. Mas foi como realizador que vingou na Sétima Arte.A sua primeira obra foi «Shadows», um filme que veio de certa forma corromper os cânones da época, ao não apresentar um argumento. Segundo John Cassavetes, e como é explicado no início do filme, o argumento foi improvisado pelo realizador e actores ao longo das filmagens e o objectivo deste risco era provar que era possível fazer Cinema como se faz outra arte, improvisando. No caso o cineasta exemplifica com a música e a pintura.
Ao longo do filme vamo-nos apercebendo que a maior inspiração de «Shadows» é sem sombra de dúvida a música jazz. Não só pela sua magnifica presença na banda sonora, interpretada por Charles Mingus, como no próprio ambiente, visto que uma das personagens é um músico de jazz, que não está a passar a sua melhor fase, tendo de trabalhar a apresentar coristas e não a cantar.
Este músico (Hugh Hurd) é uma das personagens principais, a par de Lelia (a muito bela Lelia Goldoni) e Ben (Ben Carruthers), que no filme são três irmãos, um branco, um mulato e outro negro. É esta particularidade que vai servir de motor à narrativa, pois outro dos avisos que Cassavetes faz no início do filme é que o filme é sobre a juventude e as relações raciais. E na altura aquele era um tema bem quente nos EUA.
E esse choque está bem patente em alguns pormenores. Desde os trabalhos menores que são dados a Hugh, passando pelo ódio do namorado de Lelia (Tony Ray, filho de Nicholas Ray), a irmã branca do trio, quando descobre quem é o irmão da sua amada.
Mas tirando esse tema mais central e mais abrangente, penso que «Shadows» foi uma experiência bem conseguida por parte de John Cassavetes, apesar dos poucos meios ao seu dispor. A improvisação acabou por combinar bem com o ritmo jazz da banda sonora, apenas se nota uma ou outra falha e quebra nos diálogos de vez em quando. E a forma como Nova Iorque foi filmada neste filme também deixa uma excelente imagem da cidade que nunca dorme.
Uma óptima estreia, que representou para mim mais um cineasta a descobrir, pois ainda não tinha oportunidade de ver nenhuma obra deste realizador.
Nota: 4/5
Site do filme no IMDB

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