Aos 74 anos o realizador japonês Koji Wakamatsu estreia finalmente em Portugal. Este é mais um daqueles casos em que um cineasta conhecido lá fora passa completamente despercebido por cá. Mesmo que tenha mais de uma centena da filmes no currículo. E quando estreia, dão-nos logo com dose dupla. Só numa sala e um dos filmes (para mim o melhor dos dois) só teve direito a uma sessão por dia, é certo, mas sempre são duas estreias. Eu próprio não conhecia e pelo que tenho lido, trata-se de um realizador bastante peculiar, que mistura algum sexo e violência nos seus filmes.
Para já falarei de «O Bom Soldado», o último filme apresentado por Koji Wakamatsu e o que teve mais destaque. Tendo como cenário a II Grande Guerra, este filme narra a história de uma mulher que vê o seu marido regressar do conflito sem braços e sem pernas. De início Shigeko Kurokawa (Shinobu Terajima) fica de rastos, por ver o estado em que ficou o marido, mas acaba por se habituar e começa a cuidar dele, pois na aldeia era considerado um herói. Não nos podemos esquecer de como os japoneses vêem as questões da honra e na altura servir o exército do imperador era uma obrigação moral e ninguém queria ficar de fora. Essa imagem é bastante patente ao longo do filme, quando o soldado, mesmo completamente inválido (ou quase), é tratado como Deus da Guerra. E Wakamatsu reforça essa ideia da propaganda em várias cenas, nomeadamente quando se fala nas medalhas atribuídas ao soldado ou quando vemos os aldeões a treinarem porque as forças civis eram a última linha de defesa, ouvimos na rádio.
Mas o soldado não é aquilo que esperamos. Se aparentemente é um ser frágil, aos poucos começa a dominar a mulher obrigando-a a ter sexo. Ela vai acedendo mas apercebendo-se de que o marido afinal não mudou assim tanto, deixa de lhe fazer certas vontades. A partir daqui «O Bom Soldado» começa a assumir um forte pendor psicológico que se arrasta até ao fim do filme. Apesar de ser um bom filme, «O Bom Soldado» é um filme de certa forma desconfortável que nos deixa dá alguns murros no estômago. O grande destaque é Shigeko Kurokawa, que tem uma excelente interpretação, fruto de uma personagem bastante complexa, que tem de se submeter a inúmeras pressões para sobreviver.
Nota: 3/5
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