sábado, 30 de abril de 2011

Palmarés do FESTin 2011

Termina amanhã a segunda edição do FESTin - Festival de Cinema Itinerante da Língua Portuguesa e já são conhecidos os vencedores dos prémios a concurso. «Hortas di Pobreza», documentário realizado pela guineense Sara Sousa, arrecadou o galardão para Melhor Longa-Metragem em competição. «Lixo Extraordinário», outro documentário, da autoria de Lucy Walker, João Jardim e Karen Harley, que aborda um projecto do artista plástico brasileiro Vik Muniz com os catadores de lixo do Jardim do Gramacho, no Rio de Janeiro, conquistou uma menção honrosa e foi o filme com melhor classificação nos votos do público.

Na secção de curtas-metragens o escolha do júri para Melhor Curta-Metragem recaiu na obra «Contagem», de Gabriel e Maurílio Martins. As curtas «Verónica», dos portugueses António Gonçalves e Ricardo Oliveira, e «Vidas Deslocadas», do brasileiro João Marcelo Gomes, receberam duas menções honrosas. Já a curta «Aos Pés», do brasileiro Zeca Brito, foi a escolha preferida dos espectadores do festival.

O FESTin termina amanhã com uma Mostra de Cinema para a Inclusão, três sessões dedicadas à obra de João Botelho, o realizador homenageado na edição deste ano do evento («Um Adeus Português», «Tempos Difíceis» e «Três Palmeiras»), assim como uma sessão especial dedicada ao público infantil, com a projecção do filme «O Planeta Adormecido», de José Manuel Abrantes, Lígia Ribeiro e Luciano Ottani.

O Dinheiro, de Marcel L'Herbier (1928)

No final dos anos 1920, antes da chegada do cinema sonoro, o período mudo deixou-nos grandes obras, com cenários grandiosos, sendo um dos mais conhecidos o fabuloso «Metropolis», de Fritz Lang. Mas apesar de ser mais conhecido, este não foi caso único na altura. Um outro filme que se pode encaixar no mesmo estilo é «O Dinheiro», de Marcel L'Herbier. Apesar de não ser um filme de ficção científica, como o anterior, é um filme gigante (3h20, demasiado para um filme mudo, mas que compensa para quem gosta) e utiliza muito bem os cenários e as centenas de figurantes. No caso dos cenários, o grande destaque são as cenas filmadas in loco na Bolsa de Paris, que dão uma sensação de confusão que são estes sítios.

«O Dinheiro», filme baseado numa obra de Emile Zola, é uma crítica ao capitalismo. E quão actual continua a ser nos dias que correm. No centro do argumento está o banqueiro Nicolas Saccard (Pierre Alcover), dono do Banco Universal e um especulador nato, que só vive para fazer dinheiro, sem olhar a meios para atingir os seus fins. No início do filme vemos os seus planos cair por terra, quando um accionista maioritário vota contra um aumento de capital no banco. Mais tarde sabemos que este accionista anónimo era um testa de ferro para um rival de Saccard, Alphonse Gundermann (Alfred Abel), dono de uma petrolífera que pretende desmascarar Saccard.

O banqueiro resolve então voltar à carga e decide apoiar um projecto de Jacques Hamelin (Henry Victor), para valorizar as acções do Banco Universal. Mas o plano de Saccard é maior, pois outro dos objectivos é conquistar a esposa do piloto, Line Hamelin (Marie Glory), que se apercebe mais tarde dos planos do banqueiro e acaba por levá-lo a tribunal, acusando-o de fraude.

A história de «O Dinheiro» é um excelente conto moral sobre o poder e a influência do dinheiro. Mas vai muito para além de uma simples história. O filme de Marcel L'Herbier, um dos mais caros da altura, tem excelentes cenas e está muito bem filmado. Para a história ficam as cenas filmadas na própria Bolsa de Paris, como referido atrás. Uma das mais espantosas consiste numa montagem em paralelo onde a partida de Jacques Hamelin decorre ao mesmo tempo em que ocorre uma sessão na Bolsa e à medida que o avião levanta voo, também a câmara faz a mesma trajectória, atravessando a sala da mesma forma, dando um efeito fantástico. Uma grande lição de cinema, até para muitos dos cineastas actuais.

Aqui faço um aparte, se me permitem. Numa altura em que a Cinemateca Portuguesa está a atravessar algumas dificuldades, a projecção destes filmes é só mais uma prova da importância deste tipo de espaços, que devem ser defendidos por todos os que podem e gostam de cinema. Estive na manifestação, apesar de não ter ficado até ao fim, pois a sessão começou antes de acabar o encontro, e gostei de ver as dezenas de pessoas que se juntaram em defesa da instituição que tanto acarinhamos, sobretudo mais jovens. Pena que na sessão estivessem pouco mais de 10 pessoas, sendo que no final restavam apenas seis. Mas, uma vez mais, ainda é uma prova de que há amantes de bom cinema que precisam de um espaço destes para ver filmes, que de outra forma nunca poderiam ver ou descobrir num grande ecrã. Longa vida à Cinemateca e a todos os que fazem dela um espaço mágico!

Nota: 5/5

Site do filme no IMDB

Maus como as cobras: John Ryder

John Ryder (Rutger Hauer), vilão de «Terror na Auto-Estrada», de Robert Harmon

sexta-feira, 29 de abril de 2011

FESTin 2011: Um Funeral à Chuva, de Telmo Martins (2010)

Há filmes que mereciam ser melhores. E «Um Funeral à Chuva», a estreia nas longas metragens de Telmo Martins, é um desses filmes. Apesar de ter estreado no ano passado e o ter perdido em salas, onde passou de certa forma despercebido, foi com agrado que o vi no FESTin. A história é simples: um grupo de amigos, antigos colegas de universidade na Covilhã, reúne-se 10 anos depois da conclusão dos estudos na véspera do funeral de um deles e enquanto contam em que ponto está a sua vida, recordam os bons velhos tempos. No fundo é uma comédia melancólica com algumas semelhanças com o clássico dos anos 1980 «Os Amigos de Alex», realizado por Lawrence Kasdan.

O percurso destes jovens, alguns com sucesso (pelo menos aparente), outros nem por isso, é o mote para uma boa história que poderia ter sido um grande filme português. Faltaram cumprir alguns pormenores. Os problemas de «Um Funeral à Chuva» são vários, um deles é um mal do cinema que se faz em Portugal: a qualidade do som, que faz com que em certas cenas não se perceba metade dos diálogos. Outro dos defeitos do filme são as personagens, que são pouco exploradas, tirando um ou outro exemplo (e assim de repente só me recordo de Diana, a apresentadora de televisão, que consegue ter um princípio, meio e fim de história no meio do arco narrativo), e acabam por ser demasiado superficiais.

Mas o resultado final acaba por ser um filme bastante simpático, tirando estes problemas referidos, com um elenco jovem e fruto de uma vontade de Telmo Martins em fazer um filme com poucos subsídios, mas com a ajuda de algumas entidades que o ajudaram a criar o seu projecto. Só por isso, vale a pena ver o filme, que merecia ser um bocadinho melhor. Quanto muito para provar que com força de vontade se consegue ir mais longe e criar uma longa metragem razoável.

Nota: 3/5

Site oficial do filme

Frase(s) que marcam um filme: Antes do Amanhecer, de Richard Linklater (1995)

Jesse: Alright, I have an admittedly insane idea, but if I don't ask you this it's just, uh, you know, it's gonna haunt me the rest of my life
Celine: What?
Jesse: Um... I want to keep talking to you, y'know. I have no idea what your situation is, but, uh, but I feel like we have some kind of, uh, connection. Right?
Celine: Yeah, me too.
Jesse: Yeah, right, well, great. So listen, so here's the deal. This is what we should do. You should get off the train with me here in Vienna, and come check out the capital.
Celine: What?
Jesse: Come on. It'll be fun. Come on.
Celine: What would we do?
Jesse: Umm, I don't know. All I know is I have to catch an Austrian Airlines flight tomorrow morning at 9:30 and I don't really have enough money for a hotel, so I was just going to walk around, and it would be a lot more fun if you came with me. And if I turn out to be some kind of psycho, you know, you just get on the next train.
Jesse: Alright, alright. Think of it like this: jump ahead, ten, twenty years, okay, and you're married. Only your marriage doesn't have that same energy that it used to have, y'know. You start to blame your husband. You start to think about all those guys you've met in your life and what might have happened if you'd picked up with one of them, right? Well, I'm one of those guys. That's me y'know, so think of this as time travel, from then, to now, to find out what you're missing out on. See, what this really could be is a gigantic favor to both you and your future husband to find out that you're not missing out on anything. I'm just as big a loser as he is, totally unmotivated, totally boring, and, uh, you made the right choice, and you're really happy.
Celine: Let me get my bag.

quinta-feira, 28 de abril de 2011

FESTin 2011: Sessão Competitiva Curtas 5

Ao segundo dia de FESTin mais uma sessão de curtas. Desta vez a colheita veio de Timor-Leste (2) e Brasil (4) e foi das três sessões visionadas a mais fraca. Vamos então às mini-críticas.

A abrir a primeira curta oriunda de Timor-Leste. «Letter To My Mom», de Francisca Maia, é como o próprio nome indica, uma carta enviada para uma mãe timorense, escrita por uma rapariga que está longe aquando os tumultos que deixaram o país a ferro e fogo no Verão de 2006. A preocupação da jovem em saber notícias da sua família é o tema da carta. Em fundo vemos não só a rapariga, mas também fotografias e sons dos acontecimentos. Com poucos meios é feita uma simples curta, a única ficção desta sessão. Nota: 3/5

As restantes curtas são quase todas pequenos documentários. A primeira chama-se «Retratos» e foi realizada pela dupla Leo Tabosa e Rafael Negrão. Aqui travamos conhecimento com um grupo de seis travestis brasileiros, longe dos estereótipos da prostituição, que nos contam como vivem com os seus problemas e lidam com a discriminação de quem não os aceita como são. Seis exemplos de como se pode ultrapassar as dificuldades de vida, fazendo o que se gosta. Nota: 3/5

Também do Brasil veio «SMS». Realizada por Pablo Escajedo, tem o mesmo problema de «Por Uma Noite Apenas»: o som faz com que não se perceba o que os protagonistas dizem. E estes protagonistas são os jovens de uma escola secundária que relatam as suas vivências e problemas, assim como a utilização dos telemóveis para comunicarem. Demasiado barulho de fundo, nomeadamente nas cenas passadas dentro das salas de aula, prejudicam a compreensão do que os jovens dizem. É pena, pois é sempre curioso ver como os adolescentes vêem a vida, e aqui perdemos uma oportunidade. Nota: 2/5

Seguimos para mais uma curta oriunda do Brasil, mas com os olhos postos bem longe. Em «Vidas Deslocadas» João Marcelo Gomes acompanha um casal de palestinianos, Faez Abbas e Salha Nasser, com vida estabelecida no Iraque de Saddam Hussein, o único país que reconhecia a Palestina como Estado, que acabou por se exilar em território brasileiro. A vida destes autênticos sem-terra é o centro do documentário, que podia ter ido mais longe para mostrar como o casal tenta refazer a vida. Nota: 3/5

«Timor: Unfinished Journeys», de Rui Nunes, foi a melhor curta da sessão. Neste filme o realizador entrevista três sobreviventes da ocupação de Timor-Leste por parte das forças militares da Indonésia. Um tema difícil de abordar, num país tão jovem, mas as três testemunhas daquele longo período dão-nos uma imagem bastante forte do que se passou, os traumas que persistem e como tentaram ultrapassar o sucedido. Os testemunhos são acompanhados por imagens de arquivo bastante fortes das fugas para a montanha e de sessões de tortura. Um excelente documentário sobre perdão, para mostrar que mesmo nas piores alturas, há que ultrapassar as maiores dificuldades olhando em frente. Nota: 4/5

Para finalizar a sessão «Áurea», de Zeca Ferreira. O centro desta curta não é a jovem cantora portuguesa, mas uma cantora brasileira com o mesmo nome e bastante mais velha. Nesta curta acompanhamos a cantora num concerto feito no bar e as suas relações com os mais próximos. A empregada e os músicos mostram uma Áurea alegre, mas tudo muda quando regressa a casa depois de mais uma noite. Com boa música, o melhor da curta, esta ficção deixa muito por dizer nas entrelinhas. Nota: 3/5

Em Cartaz: Semana 28/04/2011

As Quatro Voltas, de Michelangelo Frammartino
Mães e Filhas, de Rodrigo García
A Solidão dos Números Primos, de Saverio Costanzo
O Estranho Caso de Angélica, de Manoel de Oliveira
Artur 3 - A Guerra dos Dois Mundos, de Luc Besson
Lixo Extraordinário, de Lucy Walker, João Jardim e Karen Harley
Thor, de Kenneth Branagh
Sem Limites, de Neil Burger

quarta-feira, 27 de abril de 2011

FESTin 2011: Lixo Extraordinário, de Lucy Walter, João Jardim e Karen Harley (2010)

«Lixo Extraordinário» foi o filme de abertura desta segunda edição do FESTin 2011 - Festival de Cinema Itinerante da Língua Portuguesa, que está a decorrer no cinema São Jorge, em Lisboa. Perante uma plateia cheia e com a presença de um dos protagonistas, o artista plástico brasileiro Vik Muniz, o documentário realizado por Lucy Walter, João Jardim e Karen Harley foi um dos nomeados ao galardão de Melhor Documentário na última edição dos Óscares. E o filme é fantástico.

Partindo de um projecto de Vik Muniz, que pretendeu criar fotografias artísticas com lixo retirado do Jardim do Gramacho, um dos maiores aterros sanitários do mundo, situado no Rio de Janeiro, o documentário vai muito para além de mostrar a arte. Conta as histórias das pessoas que vivem literalmente no meio do lixo, ganhando entre 40 e 50 reais por dia (entre cerca de 17 e 21 euros), segundo nos conta uma das mulheres que lá trabalham, para vender material para reciclar. As imagens daquele enorme lixeira quase que nos fazem sentir o cheiro. Mas são precisamente as pessoas e a sua grande humanidade e forma de estar na vida que nos tocam mais, com as suas histórias no meio da miséria, onde foram parar por falta de alternativas.

Depois de conhecermos alguns dos protagonistas e as suas filosofias («99 não são 100», diz um dos anciãos) vamos assistindo à criação dos retratos feitos por Vik Muniz. Primeiro as fotografias tiradas aos protagonistas e depois a sua reconstrução em estúdio, com o material recolhido no Jardim do Gramacho. Apesar de poder ser considerado como um filme de promoção à obra do artista plástico, o que apenas se poderá notar nas cenas em que ele regressa à casa onde viveu, também numa favela, «Lixo Extraordinário» não deixa de ser um belo filme sobre pessoas e a sobrevivência em condições muito difíceis. Não há contos de fadas no Jardim do Gramacho, mas este projecto ajudou algumas daquelas pessoas a recuperarem a sua humanidade.

Nota: 4/5

Site oficial do filme

FESTin 2011: Sessão Competitiva Curtas 2

A segunda sessão competitiva de curtas-metragens do FESTin 2011 teve menos dois filmes do que a primeira. Desta vez as propostas vieram de Portugal, Moçambique e Brasil.

A primeira curta-metragem foi «Dona Custódia». Realizada pela brasileira Adriana de Andrade, a curta baseia-se num conto homónimo de Fernando Sabino, que conta a história da empregada doméstica de um escritor que aproveita uma das ausências do escritor para convidadas as suas amigas. Este acaba por regressar mais cedo e entra no jogo até que resolve pisar a linha. «Dona Custódia» é a única curta em tons de comédia desta sessão e deixa-nos com um sorriso nos lábios quando vemos a reacção das personagens a episódios tão caricatos. Nota: 4/5

Também do Brasil vem «Doce de Coco», de Allan Deberton. Aqui a história é diferente, pois centra-se numa jovem do interior do Brasil que engravida. O retrato das condições de vida difíceis de uma família que sobrevive a fazer doce de coco para vender está bem conseguido, com belas imagens captadas na região de Russas, mas nunca consegue ir mais longe. Nota: 3/5

«Dina», de Mickey Fonseca, vencedor do Prémio de Melhor Curta-Metragem de África no African Movie Academy Awards 2011, é a primeira proposta do festival vinda de Moçambique. Um filme bastante forte, feito com alguns meios, relata uma história de violência doméstica que acaba mal. Contada em flashback num tribunal, onde um dos personagens responde pela tragédia, «Dina» foi a melhor das duas curtas moçambicanas da sessão. Nota: 4/5

A única curta-metragem a representar Portugal nesta sessão foi «Verónica», de António Gonçalves e Ricardo Oliveira, e foi também uma das mais fracas do dia. Uma história confusa, passada num hotel à beira da estrada no Alentejo, onde duas mulheres chegam para passar uns dias de férias e acabam metidas no meio de um conflito entre traficantes de droga. Nunca se chega a perceber se o conflito entre os dois homens é devido à presença das mulheres ou apenas uma questão de marcação de território. O argumento pobre deita tudo a perder, num filme que até podia ir mais longe. Nota: 2/5

Também mais fraca foi «Por Uma Noite Apenas», do brasileiro Marcio Reolon, que relata a ida de um adolescente às prostitutas. Mas o objectivo de Ivan é apenas falar e não fazer sexo. O facto de o som não estar nas melhores condições prejudica o filme, pois a maior parte dos diálogos não se percebe. Numa curta onde a palavra é essencial para se perceber o que se passa, esta questão acaba por ser fatal. Nota: 2/5

A encerrar a sessão, mais uma curta moçambicana. «A Carta», de Michelle Mathison, relata uma vez mais um episódio de violência doméstica, desta feita num casal de classe média, onde o marido não deixa a esposa ir à procura de trabalho. Tal como «Dina», esta curta também conta com alguns meios, mas as fracas interpretações não permitem ir mais longe uma história já de si banal. Nota: 3/5

FESTin 2011: Sessão Competitiva Curtas 1

Apesar da sessão de abertura do FESTin apenas ter ocorrido à noite, o festival começou pelas 16h00, com a primeira de curtas metragens a concurso. E a melhor do dia, com um total de oito filmes: um de Angola, quatro do Brasil e três de Portugal.

A honra de abertura da sessão coube a «Bom Dia, África», do angolano Zezé Gamboa, que há uns anos conseguiu vencer um prémio em Sundance com «O Herói». Nesta curta acompanhamos um homem a caminho do trabalho a quem lhe roubam o telemóvel. Será que consegue descobrir quem foi o culpado? Praticamente com um cenário mínimo, tudo se passa em duas carrinhas, e bem filmada, a curta mostra de forma irónica que nem tudo é o que parece. Nota: 4/5

Seguimos para «Simpatia do Limão», curta realizada pelo português Miguel de Oliveira, actor radicado no Brasil, que viu recentemente esta obra ser nomeada para uma das secções do Festival de Cannes. Aqui também o que parece não é. Uma mulher regressa à bruxa porque afinal já não quer que o marido de volta e quer desfazer um feitiço anterior que o fez voltar. Mas entre palavras cruzadas, tarot e surfistas, nada que um telefonema não resolva. Feito com algumas ajudas e por muitos amigos, como explicou o realizador na apresentação da curta, «Simpatia do Limão» é uma comédia simples e com o tom certo. Nota: 5/5

A primeira curta portuguesa a concurso foi «A Corrida», um filme de fim de curso realizado por Rui Madruga e Catarina Carrola. Neste filme um sem abrigo com gosto pelo jogging perde os seus ténis e o seu sonho. Até que um convite de um grupo de jovens, que pretendem fazer um anúncio publicitário, acaba por resultar numa segunda oportunidade que o corredor não deixa de aproveitar. «A Corrida» também é um filme simples, onde se destaca a presença de Custódia Gallego no elenco. Nota: 4/5

De regresso ao Brasil, a curta seguinte leva-nos a conhecer Nestor, um homem solitário que resolve ir atrás dos seus sonhos e deixar tudo para trás, depois de uma noite de fim de ano bem regada. Filmado sempre com câmara à mão, «Naquela Noite Ele Sonhou com um Mar Azul», de Aristeu Araújo, é a prova de que quando o homem sonha, a obra nasce. Nota: 5/5

«Senhor X» é uma bela homenagem ao cinema, realizada por Gonçalo Galvão Teles. Com a participação de Beatriz Batarda e Filipe Duarte, dois dos melhores actores portugueses da actualidade, sobretudo este último, que é o Senhor X, um homem do lixo que numa das suas rondas trava conhecimento com um antigo realizador, interpretado por Fernando Lopes. No final deste encontro o realizador dá-lhe uma câmara antiga e o Senhor X utiliza-a para mudar o mundo à sua volta. Sempre que a liga e dá ordens, a sua vida transforma-se num filme, com final feliz. Destaque ainda para a bela banda sonora, a cargo de Rodrigo Leão. Nota: 5/5

Depois deste ambiente onírico, «Vozes» foi a curta experimental da sessão. Uma mulher na banheira e vários mascarados são as únicas imagens que vemos, enquanto as vozes de pessoas com perturbações psicológicas vão falando das suas doenças e da forma como vêem o mundo, tentando explicar à sua maneira como é viver com os seus problemas e questionando: afinal quem é normal? Realização a cargo de Anna Costa e Silva, Fabio Canetti e Luiza Santoloni. Nota: 3/5

Continuando em ambientes irreais, a curta de animação «O Acidente», de André Marques e Carlos Silva, apresenta-nos José, um trolha com sotaque nortenho que descreve bastante detalhadamente numa participação ao seguro um acidente de trabalho onde esteve envolvido. Com alguns pormenores divertidos, a curta fala em situações sérias, de uma forma divertida. Nota: 3/5

Para finalizar a sessão «Contagem», dos brasileiros Gabriel Martins e Maurilio Martins. A curta gira à volta de quatro personagens que se cruzam num determinado momento, com as cenas filmadas a partir do ponto de vista de cada uma. Um filme cru, de uma violência brutal. Nota: 3/5

Um filme, vários posters: Homens Que Matam Cabras só com o Olhar, de Grant Heslov (2009)

Alemanha


Portugal

EUA

Rússia


EUA

Rússia

EUA

EUA

Primeiro dia de FESTin

Arrancou hoje em Lisboa, no Cinema São Jorge, a segunda edição do FESTin 2011 - Festival de Cinema Itinerante da Língua Portuguesa, com três sessões de curtas-metragens, originárias dos vários países lusófonos, e a abertura oficial. Esta última sessão foi «Lixo Extraordinário», um fantástico documentário realizado por Lucy Walker, João Jardim e Karen Harley sobre uma obra do artista plástico brasileiro Vik Muniz criada a partir de lixo recolhido por pessoas que ganham a vida a apanhar lixo para reciclar no Jardim Gramacho, um aterro sanitário localizado na periferia do Rio de Janeiro, considerado um dos maiores do mundo. As críticas a este filme e a duas das sessões de curtas que assisti serão publicadas amanhã.

terça-feira, 26 de abril de 2011

Biblioteca Cinematográfica: Sinais de Fogo, de Jorge de Sena

O livro: Jorge de Sena é um dos grandes nomes da literatura portuguesa, sobretudo na poesia. Mas a marca que o escritor deixou na cultura portuguesa foi mais além da poesia, como prova «Sinais de Fogo», romance autobiográfico que deixou incompleto e apenas foi publicado postumamente em 1979. Este livro, cuja acção decorre no final dos anos 1930, conta a história de um jovem chamado Jorge no final da adolescência, quando Portugal começa a viver as dificuldades da ditadura e em Espanha ouvem-se ecos da Guerra Civil. Grande parte da acção tem lugar na Figueira da Foz, onde a personagem vai passar férias com uns tios e vive inúmeros episódios políticos e de despertar sexual.

Ao longo das suas mais de 500 páginas, «Sinais de Fogo» faz um retrato da sociedade da altura, focando dois aspectos: a História em si, quando aborda as questões políticas com o surgimento da oposição ao regime, nomeadamente no Antigo Regime, alguns episódios ligados à Guerra Civil de Espanha e mesmo algumas descrições do período antes da chegada de Salazar ao poder, vistas pelos olhos dos tios de Jorge e o despertar sexual de muitos dos jovens que passam férias na Figueira da Foz com Jorge. Uma dessas jovens é Mercedes, por quem o jovem se apaixona, e vai ser o centro de um amor proibido por estar noiva.

Outra das marcas fortes na obra são os devaneios de Jorge, narrados por Jorge de Sena através de inúmeros monólogos interiores, que nos mostram os dilemas da personagem em relação aos mais diversos aspectos: desde o amor à amizade, passando pelo sexo à política. Ao que tudo indica «Sinais de Fogo» deveria ter sido o primeiro de uma série de romances autobiográficos do escritor, projecto que ficou incompleto com a sua morte, aos 58 anos.

O filme: A adaptação cinematográfica de «Sinais de Fogo» chega às salas de cinema em 1995, num filme realizado por Luís Filipe Rocha. Como acontece em muitas adaptações de obras literárias, esta é bastante infiel ao original. Apesar de as descrições feitas por Jorge de Sena não necessitarem de grandes desvios para serem filmadas, o filme deixou de fora grande parte do romance e muitos episódios e personagens ficaram de fora. O início e o fim do livro, passados em Lisboa e que podem funcionar como prólogo e epílogo de «Sinais de Fogo», não surgem sequer na adaptação, que se centra sobretudo na fuga de um grupo de jovens para Espanha a partir da Figueira da Foz.

O mesmo sucede com as personagens, que não são exploradas a fundo. Os devaneios de Jorge não surgem, o tio de Jorge, uma das personagens mais fortes e vincadas do romance, praticamente não tem espaço, e o mesmo sucede com muitas outras personagens. O resultado é um filme que fica aquém das expectativas de quem leu o original, pois parece demasiado simplista para atingir o objectivo do escritor. Safa-se a reconstituição histórica. Nos papéis principais temos Diogo Infante (Jorge), Ruth Gabriel (Mercedes), Marcantonio Del Carlo (Ramos), José Airosa (Rodrigues), Rogério Samora (Almeida) ou Henrique Viana (Tio de Jorge).

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Terror na Auto-Estrada, de Robert Harmon (1986)

«Terror na Auto-Estrada» é mais um daqueles filmes de culto, que fica na memória mais pelo vilão do que pelo filme em si. E esse vilão é John Ryder (excelente personagem e interpretação de Rutger Hauer) um psicopata que se dedica a matar pessoas que lhe dão boleia numa auto-estrada deserta, daquelas que atravessam os EUA. O filme retrata a perseguição que John faz a Jim Halsey (C. Thomas Howell), um jovem destinado a ser uma das suas vítimas, mas que consegue escapar. Mas durante esta fuga Jim acaba por ser confundido pelo serial killer e começa também a fugir da polícia.

«Terror na Auto-Estrada» tinha todos os ingredientes certos para correr bem, o problema acaba por surgir nos pequenos detalhes: tiros que arrancam portas de carros, ténis que mudam de cor entre cenas e acidentes demasiado previsíveis e pouco convincentes, acabam por deitar tudo por terra. Não é à toa que Robert Harmon nunca chegou a ter uma grande carreira: ultimamente tem-se dedicado a uma série de telefilmes protagonizada por Tom Selleck.

Mas o filme acaba por ter alguns bons achados. Não só o vilão de Rutger Hauer merece destaque, mas também os ambientes tensos criados em algumas das cenas fazem deste «Terror na Auto-Estrada» um clássico dos anos 1980, bem diferente dos filmes de terror como as sagas «Sexta Feira 13» ou «Pesadelo em Elm Street». E para quem é fã de Jennifer Jason Leigh tem aqui uma oportunidade para vê-la enquanto jovem actriz a dar os primeiros passos numa já longa carreira.

Nota: 3/5

Site do filme no IMDB

A Última Sessão no Twitter

«A Última Sessão» resolveu aderir ao Twitter. Ainda não sei bem como é que vou utilizar este canal, pois nunca o utilizei, mas logo se verá. Se alguém que já tenha conta do blogue no Twitter e poder dar algumas dicas, agradeço. Entretanto, fica o link para a conta do meu blogue. Cumprimentos.

Antes do Amanhecer, de Richard Linklater (1995)

Um rapaz norte-americano e uma rapariga francesa encontram-se num comboio em trânsito. Ela regressa a casa em Paris depois de visitar a avó, ele fica em Viena, onde irá apanhar avião para os EUA, depois de uma viagem à volta da Europa. O encontro dos dois, que curiosamente nasce com uma discussão de um casal mais velho que discute, vai originar uma bela história de amor, passada numa noite em Viena, e a única que eles sabem que vão passar juntos. Este pequeno pormenor torna «Antes do Amanhecer» um daqueles filmes mágicos, em que tudo pode acontecer, incluindo duas pessoas que nunca se viram apaixonarem-se, numa das mais belas cidades da Europa.

Considerado um filme de culto dos anos 1990, o quarto filme de Richard Linklater é não só uma bela obra sobre o amor, mas também um filme tão simples que nos faz acreditar que não é preciso muito para fazer bom cinema. Afinal o que é «Antes do Amanhecer»? Apenas duas personagens apaixonadas, que se vão conhecendo aos poucos e vivem uma história de amor durante uma noite, sabendo que à partida nunca mais se vão voltar a ver. E ao mesmo tempo os dois vão crescendo e falando de tudo e de nada: a vida e a morte, os amigos e o amores antigos. Quase que se pode dizer que é amor em estado puro, aquilo que assistimos neste filme.

Richard Linklater pode também dar graças à dupla de actores que escolheu (Ethan Hawke e Julie Delpy), que têm uma química extraordinária. Nove anos depois o trio regressou para uma sequela, mas isso agora fica para outra altura. «Antes do Amanhecer» é sem dúvida uma das grandes histórias de amor da década de 1990.

Nota: 4/5

Site do filme no IMDB

Banda Sonora: Have Love Will Travel, de The Sonics

«Have Love Will Travel», de The Sonics - Banda Sonora de «Tournée - Em Digressão», de Mathieu Amalric

domingo, 24 de abril de 2011

Cotton Club, de Francis Coppola (1984)

Quando se junta uma boa história e um bom realizador, o resultado geralmente é bom. É o que acontece em «Cotton Club», filme de gangsters realizado por Francis Ford Coppola em 1984. Passado no final dos anos 1920 e início dos anos 1930 «Cotton Club» aborda as guerras entre grupos mafiosos e as tensões raciais em Nova Iorque ao som do Jazz e do sapateado dos clubes da altura. Um desses clubes é precisamente o Cotton Club, um clube de Jazz que existiu em Nova Iorque, onde decorre grande parte da acção.

Não tendo um, mas vários protagonistas, Coppola consegue contar inúmeras histórias com aquele pano de fundo. Temos o trompetista Dixie Dwyer (Richard Gere) que se apaixona por Vera Cicero (Diane Lane), a amante de Dutch Schultz (James Remar), um gangster a quem o músico salva a vida. Owney Madden (Bob Hoskins), o dono do Cotton Club e grande rival de Dutch para controlar o Harlem. Os irmãos Sandman e Clay Williams (interpretados pelos também irmãos na vida real Gregory e Maurice Hines, respectivamente), que tentam um lugar no famoso clube de Jazz. E mesmo assim não nos perdemos neste autêntico mundo, onde até há oportunidade para falar, se bem que ao de leve, das ligações entre Hollywood e a máfia. Perde-se apenas um pouco na recta final, onde o gás parece começar a faltar, mas a última sequência, onde a estação dos comboios se mistura com o clube, consegue ser um belo final.

Com grandes interpretações e boas coreografias nas cenas musicais, «Cotton Club» é um bom filme que retrata bem a época onde decorre a acção e conseguiu envelhecer bastante bem, ao contrário de muitos outros filmes da década de 1980. Basta ver que dois dos actores que por estes dias estão um bocado perdidos nas suas carreiras, Richard Gere e Nicholas Cage, que interpreta o irmão mais novo de Dixie, têm neste filme duas boas prestações.

Nota: 4/5

Site do filme no IMDB

Tournée - Em Digressão, de Mathieu Amalric (2010)

Por estes lados já começava a queixar-me da falta de qualidade das estreias recentes, mas este fim-de-semana cinéfilo veio compensar as últimas semanas. Depois de «Rio» e «O Código Base», mais um bom filme que é possível ver por estes dias nas salas portuguesas. Trata-se de «Tournée - Em Digressão», a terceira longa-metragem realizada por Mathieu Amalric, um dos melhores actores franceses da actualidade, e que lhe valeu o prémio de Melhor Realizador na última edição do Festival de Cannes. O filme conta a história de Joachim Zand, interpretado pelo próprio Amalric, um empresário que regressa a França para promover a digressão de um grupo de strippers que criou um espéctaculo de cabaret burlesco.

À medida que o filme avança as mulheres começam a reparar que o objectivo de Joachim não é tanto promover a digressão, mas antes regressar a Paris, onde fez carreira no universo da televisão. Pelo caminho o empresário aproveita para ajustar contas com esse passado, mas o passado parece não querer nada com ele. Paralelamente a digressão prossegue por outras cidades francesas e temos oportunidade para assistir a alguns bons momentos protagonizados pela trupe de strippers.

O filme é uma boa oportunidade para conhecer uma outra faceta de Amalric, que tem aqui mais um excelente papel e uma boa interpretação, dominando praticamente todas as cenas em que entra. As próprias strippers, vão muito bem. De realçar também a banda sonora, com alguns bons clássicos do rock and roll dos anos 1960, que cativa os adeptos daquela época. Exemplo disso é a música final «Have Love, Will Travel», dos The Sonics, mais uma bela descoberta.

Nota: 4/5

Site oficial do filme

Belle du jour: Angie Dickinson

Angie Dickinson, em «Rio Bravo», de Howard Hawks

sábado, 23 de abril de 2011

O Código Base, de Duncan Jones (2011)

Depois do excelente «Moon - O Outro Lado da Lua», Duncan Jones volta a assinar mais uma boa obra de ficção científica, que não ficaria mal entre as obras de ou inspiradas nos universos de Philip K. Dick. Em «Código Base» o Capitão Colter Stevens (Jake Gyllenhaal) participa num programa militar secreto destinado a combater o terrorismo. Para tal o projecto, denominado precisamente «O Código Base», permite colocar um humano no corpo de uma pessoa nos seus últimos oito minutos antes de vida, numa espécie de realidade paralela. No caso da missão do soldado Colter Stevens o objectivo é encontrar o autor de um atentado que colocou uma bomba num comboio que explodiu em Chicago e que está prestes a fazer explodir um novo engenho, pior do que o primeiro, no centro da cidade.

Tal como em «Moon» a personagem principal vê-se metida numa situação que não consegue controlar, nem como lá foi parar. A diferença aqui é que Colter Stevens não está sozinho e conta com a ajuda de outras pessoas: desde os militares com quem fala antes de entrar no «O Código Base» às pessoas que encontra no comboio. Nesta segunda longa-metragem Duncan Jones já tem melhores meios do que em «Moon», o que se nota sobretudo a nível dos efeitos especiais e do elenco com alguns nomes sonantes (Vera Farmiga, Michelle Monaghan e Jeffrey Wright).

Sem entrar em grandes devaneios filosóficos, como tende a acontecer com alguns dos recentes blockbusters onde os universos paralelos reinam, «O Código Base» consegue até ser bem simples e cumpre o objectivo de ser bom entretenimento, com uma boa história e interpretações bem acima da média. Mas a julgar pela sala de cinema onde assisti ao filme, parece que vai também passar um pouco ao lado, tal como ocorreu com a primeira obra de Duncan Jones, um cineasta que continua a prometer.

Nota: 5/5

Site oficial do filme

Rio, de Carlos Saldanha (2011)

Dentro do cinema de animação, a Pixar vive num universo à parte, criando obra-prima atrás de obra-prima, deixando a concorrência na maior parte das vezes bem longe. «Rio» vem provar que há boa animação para além dos criadores de «Toy Story». Apesar de não ombrear com os filmes da Pixar, «Rio» até é uma boa surpresa. A história de Blu (Jesse Eisenberg), uma arara azul única na sua espécie que vive longe do Brasil natal, mais concretamente no estado norte-americano do Minnesota, onde foi adoptada por Linda (Leslie Mann), é colorida e bastante ritmada, como só o Carnaval do Rio de Janeiro consegue ser.

A vida pacata de Blu muda quando é descoberta no Brasil uma outra arara azul, a fêmea Jewel (Anne Hathaway), que pode ser a única salvação da espécie, caso os dois pássaros consigam acasalar. É com essa ideia em mente que o investigador Tulio (Rodrigo Santoro) parte para o Minnesota em busca de Blu, para convencer Linda a entregar o seu companheiro de sempre. E a arara que não voa, devido aos seus hábitos de ave doméstica, vai viver uma aventura pelos céus e ruas do Rio de Janeiro, precisamente durante o Carnaval.

«Rio» é uma animação tanto para adultos como para crianças, realizada pelo brasileiro Carlos Saldanha, um dos autores da trilogia «A Idade do Gelo». A história é muito boa, bastante fluída e com poucas paragens, o que faz com que aquela aventura passe tão depressa como um bom filme de entretenimento deve fazer. Além de personagens bastante engraçados, com destaque para o célebre Luiz (Tracy Morgan) que os novos amigos de Blu procuram para ajudar o casal, o filme conta com excelentes sequências, nomeadamente as musicais, que conseguem transmitir toda a cor e animação do Brasil em versão animada. Basta ver o início do filme, disponível no segundo clip deste post.

Nota: 4/5

Site oficial do filme



Jane Eyre, de Cary Fukunaga (2011)

«Jane Eyre» é uma daquelas obras que tem um bom punhado de adaptações no grande ecrã. A mais recente é esta, realizada este ano por Cary Fukunaga e protagonizada por Mia Wasikowska, no papel da heroína criada por Charlotte Brontë no século XIX, e Michael Fassbender, no papel de Edward Fairfax Rochester, o patrão de Jane e o seu par numa história de amor impossível.

A história é trágica. Jane é uma rapariga órfã e infeliz que está a viver em casa da tia, que prometeu cuidar dela depois da morte dos seus pais, mas acaba por enviá-la para uma instituição fechada, de onde apenas sai passados alguns anos. Nessa altura vai trabalhar para casa de Edward Fairfax Rochester, um homem severo, para ser a preceptora de uma rapariga francesa. Os dois acabam por se apaixonar, mas um acontecimento do passado vem assolar o romance.

Esta nova adaptação de «Jane Eyre» não traz nada de novo a este género de filmes, baseados em história centradas em heroínas românticas, tão comuns na literatura do século XIX. Apesar do bom elenco, como é comum no cinema britânico encontramos aqui bons secundários, como Judi Dench, Sally Hawkins ou Jamie Bell, poucas coisas nos cativam o filme de Cary Fukunaga. Há até algumas cenas, que mais parecem saídas de um filme de terror, e que eram escusadas. De parabéns está a jovem Mia Wasikowska, que tem vindo a revelar-se como uma excelente actriz.

Nota: 2/5

Site oficial do filme

Maus como as cobras: Nikolai Luzhin

Nikolai Luzhin (Viggo Mortensen), vilão/herói de «Promessas Proibidas», de David Cronenberg

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Frase(s) que marcam um filme: CQ, de Roman Coppola (2001)

Enzo: Now... there are two kinds of movies: those with an ending, and those that don't have an ending. This movie needs an ending.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Em Cartaz: Semana 21/04/2011

Invasão Mundial: Batalha Los Angeles, de Jonathan Liebesman
A Última Noite, de Massy Tadjedin
Medos 3D, de Joe Dante
Tournée - Em Digressão, de Mathieu Amalric
Gritos 4, de Wes Craven
48, de Susana Sousa Dias
Jane Eyre, de Cary Fukunaga

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Um filme, vários posters: Alien - O 8.º Passageiro, de Ridley Scott (1979)

Alemanha

Checoslováquia

EUA

EUA

EUA

EUA

EUA
(Edição comemorativa dos 75 anos da 20th Century Fox)

Itália

Japão

Polónia

Reino Unido

Turquia

terça-feira, 19 de abril de 2011

Entrevista: Léa Teixeira, directora-geral do FESTin – Festival de Cinema Itinerante da Língua Portuguesa

Dentro de uma semana o Cinema São Jorge, em Lisboa, vai receber a segunda edição do FESTin – Festival de Cinema Itinerante da Língua Portuguesa. Organizado pela Padrão Actual, em co-produção com a Fundação Luso-Brasileira e o Cinema São Jorge, o festival vai ter este ano Portugal como país homenageado e o realizador João Botelho será alvo de uma pequena retrospectiva. No total vão estar em cartaz 78 produções, entre curtas e longas-metragens, que representam o cinema que se faz nos oito países da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP). O evento conta também com mostras temáticas, mesas redondas e oficinas para crianças e jovens. Destaque ainda para uma homenagem a Manoel de Oliveira, que vai dar o nome à Sala 1 do Cinema São Jorge e estará presente no festival no próximo dia 28 de Abril para apresentar a sua mais recente obra: «O estranho caso de Angélica». Tudo bons pretextos para ir ao São Jorge entre os dias 26 de Abril a 1 de Maio. A propósito do arranque do festival, «A Última Sessão» entrevistou (por e-mail), Léa Teixeira, directora-geral do FESTin.

A Última Sessão (AUS) - Como é que nasce o FESTin?

Léa Teixeira (LT) - O FESTin nasceu da iniciativa de duas jornalistas brasileiras residentes em Portugal e de um médico psiquiatra português que se deram conta da necessidade de fortalecer e celebrar a cultura lusófona através do cinema. Face à constatação do pouco espaço reservado à exibição de filmes produzidos nos oito países de língua portuguesa, surgiu a ideia de criar este festival onde todos pudessem estar representados, na medida das suas possibilidades, num ambiente de partilha, intercâmbio e inclusão social, conceitos que estão na base dos objectivos que estabelecemos.

AUS - Quais os destaques da edição deste ano?

LT - Este ano destacamos o número de filmes em exibição – um total de 78 –, sendo que 55 (entre curtas e longas) integram as secções de competição. Surpreendeu-nos a quantidade de filmes enviados a concurso, para um festival que está apenas na sua 2ª edição. A antestreia em Portugal do documentário Lixo Extraordinário, a mostra “Cinema para Inclusão”, bem como a homenagem a Portugal com uma retrospectiva de obras do realizador João Botelho, a mostra “Olhares sobre Portugal” e a homenagem a Manoel de Oliveira, são momentos especiais na programação deste ano.

AUS - Porque razão escolheram Portugal como país homenageado?

LT - Sendo a 2.ª edição, é, contudo, o primeiro ano em que o FESTin surge “em nome próprio”. O ano passado o festival decorreu no âmbito da Semana da CPLP, este ano arriscámos antecipar ligeiramente as datas e lançá-lo de forma independente. Sendo Portugal o país anfitrião e um dos países com uma produção cinematográfica mais sólida, o mais lógico seria escolhê-lo como o grande destaque.

AUS - Em ano de crise como é que vêem a produção nacional?

LT - A produção cinematográfica em Portugal (como em todos os países lusófonos) precisa de circular mais, de ter mais espaços de exibição nos circuitos nacionais e internacionais. Na verdade, cremos que para a área do cinema a crise que se sente actualmente é apenas um pouco mais dura do que a que já se sentia antes. Antes de mais os portugueses precisam de gostar e respeitar mais a sua produção cinematográfica, os filmes e realizadores que ganham prémios lá fora, mas não alcançam no seu próprio país a visibilidade que mereciam. A crise pode ser uma oportunidade para explorar outras vias de apoios e financiamento, de entreajuda e intercâmbio entre os países que têm como capital uma língua comum, e que também poderia ser bem mais valorizada do que o é de facto.

AUS - Nesta segunda edição o festival vai decorrer em parceria com a Fundação Luso-Brasileira. Como é que surge esta aproximação?

LT - Depois de na primeira edição termos integrado a Semana da CPLP e de, este ano, termos arriscado organizar o festival como uma iniciativa independente, a Fundação Luso-Brasileira surgiu-nos como um parceiro natural, uma vez que trabalha com os mesmo objectivos de reforço e difusão da cultura lusófona, nomeadamente através da organização da Mostra do Cinema Brasileiro. A necessidade de “refrescar” a Mostra do Cinema Brasileiro e o sucesso da primeira edição do FESTin levaram-nos a unir esforços para um fim comum. Ao mesmo tempo, a experiência da Fundação constitui uma mais-valia importante para a organização de um festival que conta quase exclusivamente com o trabalho de voluntários.

AUS - Quais as vossas expectativas para a edição deste ano? Ultrapassar a fasquia dos 2 mil espectadores da edição passada é um dos objectivos?

LT - Ultrapassar esta fasquia seria muito bom e é, naturalmente, uma das nossas maiores expectativas. Se tal acontecer, parece-nos um sinal positivo de que há uma curiosidade crescente em relação à produção cinematográfica lusófona e que talvez seja possível criar outros nichos de exibição para estes filmes com menos potencial comercial. Por outro lado, seria um enorme motivo de orgulho se o FESTin se revelasse um ponto de encontro e intercâmbio que desse origem a parcerias efectivas entre os diversos participantes. O que mais desejamos neste momento é que o FESTin seja um espaço onde todos se sintam bem e representados, onde possam expressar as suas opiniões de forma construtiva e encontrar soluções para tornar os laços linguísticos e culturais em mais acções concretas.

O FESTin – Festival de Cinema Itinerante da Língua Portuguesa decorre entre 26 de Abril e 1 de Maio de 2011, no Cinema São Jorge em Lisboa. Mais informações aqui.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Banda Sonora: Era de Maggio, de Mísia e Avion Travel


«Era de Maggio», de Mísia e Avion Travel - Banda Sonora de «Passione», de John Turturro

domingo, 17 de abril de 2011

Et in terra pax, de Matteo Botrugno e Daniele Coluccini (2010)

«Et in terra pax» é uma boa primeira longa metragem, assinada pela dupla de realizadores italianos Matteo Botrugno e Daniele Coluccini, que no passado já realizaram um punhado de curtas. O último já conta também com um documentário no currículo, realizado em 2009. O argumento do filme centra-se em três histórias de jovens habitantes de um bairro pobre de Roma, onde a criminalidade reina, que se cruzam num momento chave, como alguns dos filmes mosaico realizados por Iñarritu.

Neste caso temos a história de Marco (Maurizio Tesei) que sai da prisão para voltar a cair nas malhas do crime, apesar de inicialmente não querer, Sonia (Ughetta D'Onorascenzo), que vive com a avó, estuda para ter uma vida melhor e trabalha à noite num café para conseguir juntar mais algum dinheiro, e o trio de pequenos delinquentes Faustino (Michele Botrugno), Massimo 'Nigger' (Germano Gentile) e Federico (Fabio Gomiero), que passa os dias sem trabalhar e a snifar linhas de coca.

É um filme forte e o retrato de uma realidade complexa, pois nenhuma das personagens principais tem grandes perspectivas em relação ao futuro. Mesmo a que tem, Sonia, acaba por ficar sem elas na cena que vai culminar no final do filme. Como já referi, esta é uma boa estreia da dupla nas longas-metragens, sem ser um grande filme. Nota-se que há boa vontade em fazer o filme (a cena à volta da mesa, quando todos os membros da comunidade criminosa debate a forma como encontrar os culpados de um certo crime que poderá atrair a polícia para o bairro), mas precisava de ir um pouco mais longe, sobretudo na história, que está cheia de lugares comuns. Mas com os poucos meios, Matteo Botrugno e Daniele Coluccini fizeram um bom trabalho.

Nota: 3/5

Site oficial do filme

Qualunquemente, de Giulio Manfredonia (2011)

As famosas comédias à italiana já vêm de longe e tiveram o seu auge nos anos 1950 e 1960. Ultimamente têm surgido alguns filmes curiosos que revivem esse espírito. «Qualunquemente», de Giulio Manfredonia, insere-se um pouco neste campo. Protagonizado por Cetto La Qualunque, uma personagem de televisão parecida com o Anton Chigurh de «Este País Não é Para Velhos» criada por Antonio Albanese, um comediante italiano bastante popular no país, o filme é uma sátira à corrupção política e à Máfia do Sul de Itália.

A acção decorre quatro anos depois de Cetto La Qualunque (o apelido da personagem, que em português significa um qualquer, é bastante importante para perceber a história) ter deixado a terra natal por alegadas práticas pouco limpas. Quando regressa, com uma nova família (porque sempre ligou aos valores familiares, como bom siciliano) encontra a sua vila mudada e o pior acontece: querem obrigá-lo a pagar impostos! Para acabar com esse ultraje é incentivado a candidatar-se à presidência da Câmara Municipal, contra um rival que resolveu virar-se para o lado do bem.

«Qualunquemente» é uma excelente comédia, que só peca por ser demasiado exagerado em algumas das cenas. Mas não deixa de ser um filme que nos leva as lágrimas aos olhos de tanto rir com esta caricatura de democracia, em que o candidato passa uma campanha inteira a apelar ao voto em um qualquer, que é o seu nome próprio. Se calhar até à episódios que foram mesmo baseados em cenas reais. Pelo menos os exemplos que nos chegam das notícias, assim o fazem prever. Basta vermos as assessoras que acompanham Cetto La Qualunque, que têm bons atributos, mas talvez não sejam os mais indicados para quem quer liderar uma autarquia, ou mesmo o nome do partido liderado pelo candidato: o Partido do Grelo. Isso já diz muita coisa, de uma comédia daquelas que nos faz pensar em coisas sérias a brincar.

Nota: 4/5

Site oficial do filme

Belle du jour: Gene Tierney

Gene Tierney, em «Laura», de Otto Preminger

Passione, de John Turturro (2010)

«Passione» é um daqueles belos filmes que nos faz viajar sem sair da sala de cinema. Um misto de documentário com um filme musical, a quarta longa-metragem realizada por John Turturro leva-nos às origens do actor: a cidade de Nápoles, de onde vem a sua família, e a magnífica música da cidade do sul de Itália. Com a ajuda de inúmeros intérpretes, entre os quais a fadista portuguesa Mísia, que participa em duas belas sequências cantadas, «Passione» é uma fantástica homenagem às tradições musicais de Nápoles, desde tempos longínquos aos dias de hoje.

E como definir a música de uma cidade que, como muito bem explicam o próprio actor nas poucas apresentações que faz e alguns dos napolitanos presentes no filme, foi invadida por vários povos, foi afectada por diversas catástrofes naturais e fica, no fundo, no meio de inúmeras civilizações ancestrais? É difícil, mas Turturro apresenta vários exemplos, alguns mais clássicos, outros mais modernos, prova de que as músicas de raiz tradicional continuam a influenciar as novas gerações.

E além da música e das histórias que elas contam, ligadas à própria vida da cidade (há músicas sobre amor, a maioria, traição, a máfia, etc.), temos alguns habitantes de Nápoles entrevistados que nos contam a origem da música e dos principais intérpretes das canções. Como referiu a cantora Mísia na apresentação que fez do filme (no âmbito da Festa do Cinema Italiano), «Passione» é daqueles filmes que nos dá vontade de cantar, dançar, gritar, etc., tais sãos os sentidos que desperta em nós. E poucos foram os momentos em que este meu pé não bateu no chão. Apesar de ser um filme pouco comum, merecia ser distribuído.

Nota: 4/5

Site do filme no IMDB