sábado, 2 de abril de 2011

Fantasia Lusitana, de João Canijo (2010)

«Fantasia Lusitana» é um excelente retrato de Portugal. Pegando sempre em imagens de arquivo, o realizador João Canijo conseguiu mostrar dois países diferentes: um visto pelos olhos da propaganda da ditadura liderada por Salazar e outro visto pelo olhar de três estrangeiros que passaram por Lisboa durante a época retratada no filme. E este período é o da II Guerra Mundial, conflito em que Portugal se manteve 'neutro'. Esta neutralidade foi aproveitada até ao expoente máximo pelo regime para mostrar a força de Salazar para nos deixar fora do conflito que estava a destruir a Europa. Sem narração actual, ou seja, Canijo aproveitou apenas o som dos filmes de época recolhidos, este é quase um país das maravilhas, onde as contas públicas estão em ordem, e que mesmo em tempos difíceis é capaz de organizar uma Exposição do Mundo Português que demonstra que Portugal está acima de qualquer guerra.

O outro país é narrado por três refugiados que passaram por cá durante a II Guerra Mundial, quando Lisboa servia de porta de saída para melhores destinos. E a imagem que estes três estrangeiros - Antoine de Saint-Exupéry, o escritor de «O Principezinho», Alfred Döblin, o autor de «Berlin Alexanderplatz», e Erika Mann, filha de Thomas Mann, - aproxima-se mais da dura realidade. Um país pobre, com uma população pouco escolarizada e onde os refugiados se vêem presos e têm de enfrentar duras condições.

Numa altura em que voltamos a sofrer na pele uma crise bastante complicada, «Fantasia Lusitana» quase que pode ser visto como um grito de alerta para o que se está a passar, quando muitos nos tentam convencer que as coisas não estão tão difíceis como parecem e nos iludem com falsas mensagens de que tudo está bem. E poucas vezes um filme centrado num passado mais ou menos longínquo conseguiu ser tão actual.

Nota: 4/5

Site do filme no IMDB

2 comentários:

  1. O filme surpreendeu-me pela positiva, um dos que mais gostei o ano passado. Felizmente tive oportunidade de o assistir na presença do realizador e conversar com ele no fim. Curioso que ao ver o filme só me fez lembrar muitas das situações actuais do nosso país...

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  2. Como eu te compreendo. Vi-o hoje porque não o consegui apanhar quando estreou, nem no Indie. É triste como as coisas por cá parece que não mudam.

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