domingo, 10 de abril de 2011

A Bela de Dia, de Luís Buñuel (1967)

Será «A Bela de Dia» uma história real ou um sonho de Séverine (Catherine Deneuve), a personagem principal deste filme de Luís Buñuel? Não sabemos e reza a lenda que o realizador, um dos maiores mestres do cinema surrealista, nunca chegou a esclarecê-lo. O filme começa com um sonho e acaba num sonho/alucinação da própria Séverine. Pelo meio temos uma história bastante pontilhada de elementos oníricos, onde todos os personagens participam, de uma forma ou de outra, tão ao gosto de Buñuel.

Comecemos pela história. Séverine é uma mulher sexualmente reprimida que acaba por ceder à tentação de ir trabalhar num bordel clandestino, onde se transforma em Belle de Jour, ou Bela de Dia numa tradução literal, porque todas as meninas têm de ter uma alcunha e como ela só pode trabalhar até às 5h da tarde, a Madame Anais (Geneviève Page) pensa que este é o nome ideal. Este trabalho de Séverine acaba por ser fundamental para a sua evolução sexual e é onde surgem os episódios mais caricatos, sobretudo com os fetiches dos clientes da casa de passe. Tudo culmina quando Husson (Michel Piccoli), um amigo do marido de Séverine, descobre o seu segredo e ela acaba por deixar a casa de Madame Anais.

Como muitos filmes de Buñuel, «A Bela de Dia» pode ter inúmeras leituras. Mas no fundo, tudo gira à volta do sexo. Temos a libertação sexual de Séverine, que acaba por nunca ir para a cama com o marido, mas com os clientes atende os pedidos mais estranhos. Veja-se a cena do duque ou o professor submisso. Eventualmente acaba por se apaixonar por um deles e o 'romance' termina mal. Os próprios sonhos de Séverine têm praticamente todos algo a ver com sexo. Temos a personagem de Husson, presença bastante recorrente nos sonhos de Séverine, que apesar de casado frequenta prostitutas.

E como não podia deixar de ser, a crítica volta a estar presente na obra de Buñuel, nomeadamente contra os seus alvos favoritos: a burguesia, meio de onde vem Séverine, personagem que não trabalha o que poderá dar a entender que travou conhecimento com a casa de Madame Anais para ocupar o tempo, e algumas das personagens centrais; e a Igreja, que desta vez surge pouco, mas não deixa de levar a sua bicada quando vemos Séverine a chegar da primeira vez à casa de passe e surge uma cena do passado em que ela, ainda criança, rejeita tomar uma hóstia. Quando se trata de escolher o pecado, ou seja, entrar no misterioso apartamento, Séverine não hesita.

Nota: 4/5

Site do filme no IMDB

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