
Comecemos pela história. Séverine é uma mulher sexualmente reprimida que acaba por ceder à tentação de ir trabalhar num bordel clandestino, onde se transforma em Belle de Jour, ou Bela de Dia numa tradução literal, porque todas as meninas têm de ter uma alcunha e como ela só pode trabalhar até às 5h da tarde, a Madame Anais (Geneviève Page) pensa que este é o nome ideal. Este trabalho de Séverine acaba por ser fundamental para a sua evolução sexual e é onde surgem os episódios mais caricatos, sobretudo com os fetiches dos clientes da casa de passe. Tudo culmina quando Husson (Michel Piccoli), um amigo do marido de Séverine, descobre o seu segredo e ela acaba por deixar a casa de Madame Anais.
Como muitos filmes de Buñuel, «A Bela de Dia» pode ter inúmeras leituras. Mas no fundo, tudo gira à volta do sexo. Temos a libertação sexual de Séverine, que acaba por nunca ir para a cama com o marido, mas com os clientes atende os pedidos mais estranhos. Veja-se a cena do duque ou o professor submisso. Eventualmente acaba por se apaixonar por um deles e o 'romance' termina mal. Os próprios sonhos de Séverine têm praticamente todos algo a ver com sexo. Temos a personagem de Husson, presença bastante recorrente nos sonhos de Séverine, que apesar de casado frequenta prostitutas.
E como não podia deixar de ser, a crítica volta a estar presente na obra de Buñuel, nomeadamente contra os seus alvos favoritos: a burguesia, meio de onde vem Séverine, personagem que não trabalha o que poderá dar a entender que travou conhecimento com a casa de Madame Anais para ocupar o tempo, e algumas das personagens centrais; e a Igreja, que desta vez surge pouco, mas não deixa de levar a sua bicada quando vemos Séverine a chegar da primeira vez à casa de passe e surge uma cena do passado em que ela, ainda criança, rejeita tomar uma hóstia. Quando se trata de escolher o pecado, ou seja, entrar no misterioso apartamento, Séverine não hesita.
Nota: 4/5
Site do filme no IMDB
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