No final dos anos 1920, antes da chegada do cinema sonoro, o período mudo deixou-nos grandes obras, com cenários grandiosos, sendo um dos mais conhecidos o fabuloso «Metropolis», de Fritz Lang. Mas apesar de ser mais conhecido, este não foi caso único na altura. Um outro filme que se pode encaixar no mesmo estilo é «O Dinheiro», de Marcel L'Herbier. Apesar de não ser um filme de ficção científica, como o anterior, é um filme gigante (3h20, demasiado para um filme mudo, mas que compensa para quem gosta) e utiliza muito bem os cenários e as centenas de figurantes. No caso dos cenários, o grande destaque são as cenas filmadas in loco na Bolsa de Paris, que dão uma sensação de confusão que são estes sítios.
«O Dinheiro», filme baseado numa obra de Emile Zola, é uma crítica ao capitalismo. E quão actual continua a ser nos dias que correm. No centro do argumento está o banqueiro Nicolas Saccard (Pierre Alcover), dono do Banco Universal e um especulador nato, que só vive para fazer dinheiro, sem olhar a meios para atingir os seus fins. No início do filme vemos os seus planos cair por terra, quando um accionista maioritário vota contra um aumento de capital no banco. Mais tarde sabemos que este accionista anónimo era um testa de ferro para um rival de Saccard, Alphonse Gundermann (Alfred Abel), dono de uma petrolífera que pretende desmascarar Saccard.
O banqueiro resolve então voltar à carga e decide apoiar um projecto de Jacques Hamelin (Henry Victor), para valorizar as acções do Banco Universal. Mas o plano de Saccard é maior, pois outro dos objectivos é conquistar a esposa do piloto, Line Hamelin (Marie Glory), que se apercebe mais tarde dos planos do banqueiro e acaba por levá-lo a tribunal, acusando-o de fraude.
A história de «O Dinheiro» é um excelente conto moral sobre o poder e a influência do dinheiro. Mas vai muito para além de uma simples história. O filme de Marcel L'Herbier, um dos mais caros da altura, tem excelentes cenas e está muito bem filmado. Para a história ficam as cenas filmadas na própria Bolsa de Paris, como referido atrás. Uma das mais espantosas consiste numa montagem em paralelo onde a partida de Jacques Hamelin decorre ao mesmo tempo em que ocorre uma sessão na Bolsa e à medida que o avião levanta voo, também a câmara faz a mesma trajectória, atravessando a sala da mesma forma, dando um efeito fantástico. Uma grande lição de cinema, até para muitos dos cineastas actuais.
Aqui faço um aparte, se me permitem. Numa altura em que a Cinemateca Portuguesa está a atravessar algumas dificuldades, a projecção destes filmes é só mais uma prova da importância deste tipo de espaços, que devem ser defendidos por todos os que podem e gostam de cinema. Estive na manifestação, apesar de não ter ficado até ao fim, pois a sessão começou antes de acabar o encontro, e gostei de ver as dezenas de pessoas que se juntaram em defesa da instituição que tanto acarinhamos, sobretudo mais jovens. Pena que na sessão estivessem pouco mais de 10 pessoas, sendo que no final restavam apenas seis. Mas, uma vez mais, ainda é uma prova de que há amantes de bom cinema que precisam de um espaço destes para ver filmes, que de outra forma nunca poderiam ver ou descobrir num grande ecrã. Longa vida à Cinemateca e a todos os que fazem dela um espaço mágico!
Nota: 5/5
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Há 18 horas
Tenho de rever este filme, aos anos que não o vejo! Grande filme sem dúvida, lembro-me que quando o vi pela primeira vez (que o gravei numa vhs) foi, se não estou em erro, em 99 numa rúbrica que passou na sic (é de admirar eheh) que se chamava Os Filmes do Século. Durante um ano passaram filmes estupendos naquele canal (Citizen Kane, On the Waterfront, Leave Her to Heaven, Rebel Without a Cause, How Green Was My Valley, Aurora, etc etc), nunca mais passaram filmes tão bons, era uma vez por semana ou por mês já não sei mas convém dizer que era a altas horas da noite né, mas consegui-os gravar quase todos eheh
ResponderEliminarEu nunca o tinha visto e fiquei fascinado. Por isso defendo a existência da Cinemateca no último parágrafo. Já quase não há sítios para vermos estes filmes e ver em DVD ou no PC não é as mesma coisa.
ResponderEliminarRecordo-me perfeitamente desse programa, mas infelizmente na altura não ligava nada a Cinema e não acompanhei as sessões. Lembro-me também que houve uma altura em que a TVI chegou a passar filmes clássicos, num programa do Lauro António, que penso que deu origem ao Lauro Dérmio do Herman José. Já para não falar do Cinco Noites, Cinco Filmes...que raio, como é que se perdeu tanta coisa boa na televisão :(