terça-feira, 5 de abril de 2011

Biblioteca cinematográfica: Lolita, de Vladimir Nabokov

O livro: Há muitos livros que causam polémica e «Lolita» foi um deles, por abordar uma relação amorosa entre um adulto e uma rapariga antes de chegar à adolescência. O próprio autor chegou a ponderar publicá-lo sob pseudónimo e o manuscrito foi rejeitado por algumas editoras. Daí o livro ter sido publicado primeiro em França, em 1955, e só depois, em 1958, nos EUA, apesar de ter sido escrito originalmente em inglês. Estes episódios não deixaram contudo de evitar que «Lolita» deixasse de ser considerado um dos grandes romances do século XX, apesar da controvérsia gerada.

O livro conta a história do professor Humbert Humbert, um homem de meia idade que se apaixona por uma rapariga de 12 anos, Dolores Haze, com quem acaba por se relacionar. O título vem do nome lolita, que é dado pelo professor à rapariga. Ao longo de 69 capítulos (número curioso, diria um conhecido político nosso) vemos o evoluir da relação entre as duas personagens. Primeiro o casamento entre Humbert Humbert com a mãe de Dolores, cujo único objectivo por parte do professor era precisamente aproximar-se da jovem. A mãe apenas descobre a paixão quando lê o diário do seu marido, mas quando tenta fugir com a filha tem um acidente e morre. A tragédia leva Humbert Humbert a tomar conta de Lolita e nasce o romance entre os dois.

Além da dupla protagonista e da mãe de Dolores, «Lolita» tem ainda uma grande personagem, que persegue o professor durante a sua fuga com a jovem amante: Clare Quilty. Escrito num estilo por vezes irónico, narrado por um Humbert Humbert que caminha sempre na fronteira entre o amor e os remorsos, com recurso a alguns truques de linguagem por parte de Nabokov, «Lolita» pode também ser visto como uma certa crítica à cultura americana.

Os filmes: Até à data foram feitas duas adaptações de «Lolita». A primeira, e talvez a mais conhecida, foi filmada em 1962 por Stanley Kubrick, que escolheu James Mason e Sue Lyon para os papéis principais. A Lolita de Sue Lyon e os seus óculos escuros em forma de coração ficaram como um dos ícones da obra de Kubrick. Desta adaptação há ainda a destacar a presença do genial Peter Sellers, que interpretou a personagem de Clare Quilty, que teve no cinema mais protagonismo do que no livro. Uma das curiosidades desta adaptação reside no facto de o argumento original ter sido assinado por Vladimir Nabokov, que chegou a ser nomeado para os Óscares, na categoria de Melhor Argumento Adaptado. Mas reza a lenda que esta versão do argumento acabou por não chegar ao resultado final, pois o que foi filmado terá sido um argumento trabalhado por Kubrick e James Harris, apesar de não o terem creditado.

A segunda adaptação foi filmada por Adrian Lyne em 1997 e o resultado foi um pouco diferente do primeiro filme, não chegando aos calcanhares da obra de Kubrick, sobretudo por dar mais ênfase às cenas amorosas e menos às personagens. Nos papéis principais encontramos Jeremy Irons (Humpert Humpert), Dominique Swain (Lolita) e Melanie Griffith (Charlotte Haze). Para a personagem de Clare Quilty foi escolhido Frank Langella. Na altura falou-se muito da presença de Dominique Swain, mas a carreira da actriz, que apenas tinha participado em Face Off, de John Woo, nunca chegou a levantar voo. Podemos vê-la em breve no filme «Road To Nowhere», de Monte Hellman.



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