Se há filmes que recorrem à ficção para retratar uma sociedade, «Os Gatos Persas» é certamente um desses filmes. O filme do iraniano Bahman Ghobadi, que chega às salas dois anos após a sua realização e após ter passado no DocLisboa também em 2009, parte da história de Negar (Negar Shaghaghi) e Ashkan (Ashkan Koshanejad), dois jovens apaixonados de Teerão que sonham sair do país para dar um concerto com a sua banda de Indie Rock em Londres. O problema é que para saírem do Irão têm de arranjar passaportes e vistos falsos.
Ao longo desta busca para concretizarem o seu sonho, que é feita com a ajuda do fura vidas Nader (Hamed Behdad), vão travando conhecimento com outros músicos que tocam música como eles, mas em sítios escondidos da capital iraniana, pois se forem descobertos pelas autoridades, o mais certo é serem presos. Com «Os Gatos Persas», assim se chama a banda fictícia de Negar e Ashkan (os dois jovens têm contudo uma banda real, chamada Take It Easy Hospital, cujas músicas podem ser ouvidas na banda sonora), Bahman Ghobadi apresenta um mundo cultural riquíssimo escondido debaixo das barbas dos ayatollahs que são pouco avessos à modernidade.
Este é um universo que não fica atrás de muitas cidades europeias ou dos EUA, onde jovens criam bandas dos mais variados estilos. Neste filme encontramos bandas de heavy metal, indie rock ou mesmo rappers. A única diferença é que em vez de tocarem em garagens ou em estúdios, têm de tocar ou ensaiar em locais como estábulos, no topo de edifícios, onde utilizam lençóis para abafar o som da bateria, ou em prédios em construção. E os concertos são combinados quase em segredo, daí que quando conseguem juntar 400 pessoas no mesmo espaço os jovens já ficam contentes.
Sempre filmado com a câmara à mão e meio à revelia das autoridades, que muito possivelmente não iriam aprovar um filme destes, «Os Gatos Persas» é um excelente filme, que tanto serve para contar a história de uma juventude com muitos sonhos para cumprir («Os Gatos Persas» foi feito pouco tempo antes da revolução verde, a primeira do mundo árabe, mas que não deu os resultados esperados pelos manifestantes) como para apresentar que mesmo em condições difíceis há quem lute por uma vida melhor e tudo faça para continuar a fazer o que mais gosta. E vale a pena descobrir que nem tudo é cinzento em regimes fechados (o próprio título original remete para isso, ao referir que ninguém conhece os gatos persas, numa tradução literal), apesar de o final ser bastante revoltante.
Nota: 5/5
Site oficial do filme
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