Pelo que tenho lido nos últimos dias, este parece ser um daqueles filmes que irá gerar ódios e paixões. No meu caso, fico-me pelo meio termo, pois «Drive - Risco Duplo» é um filme que não aquece nem arrefece. Tal como já tinha acontecido quando vi a anterior obra de Nicolas Winding Refn (aqui). Vendo os dois filmes em pouco tempo encontramos alguns aspectos que fazem com que os dois sejam um pouco semelhantes: o excesso de violência estilizada, poucos diálogos, uma bela fotografia e uma grande banda sonora.
Em «Drive - Risco Duplo» muda um aspecto. A acção já não decorre na Idade Média, mas nos dias de hoje. No centro da acção encontramos um duplo de Hollywood e funcionário de oficina que participa como condutor em assaltos nas horas vagas. Tal como a personagem Um-Olho de «Valhalla Rising - Destino de Sangue», também neste caso a personagem principal não tem nome próprio. Esta dupla vida e o facto de ter travado conhecimento com a vizinha do lado, cujo marido está preso, vão mudar a vida do condutor, quando este aceita participar num assalto com o vizinho para que este possa saldar a dívida. Só que o assalto corre mal e o condutor engendra um plano de vingança para tentar descobrir o que se passou.
Um dos problemas de «Drive - Duplo Risco» (e sei que ao dizer isto corro o risco de entrar em contradição) é que tudo parece estar no lugar certo. Mas quando começamos a retirar as camadas, o filme parece um pouco vazio. Está bem filmado, não há dúvidas. Só a sequência inicial vale por muitos filmes de acção que por aí andam. Peca contudo ao insistir na tal estilização da violência, o que também já tinha acontecido no anterior filme de Nicolas Winding Refn. E aqui fico-me apenas pela cena do elevador (podia falar de mais uns quantos, mas iria estragar as surpresas a quem gosta deste tipo de cenas), filmada em câmara lenta. Recurso, aliás, bastante utilizado no filme e que às vezes se torna um pouco irritante.
A estética e a banda sonora muito anos 1980 adequam-se perfeitamente à história, que consegue fugir precisamente ao tal filme de acção mais convencional. E isso é também um dos pontos fortes. Já as actuações, tirando o protagonista Ryan Gosling, que prova uma vez mais a sua versatilidade (este papel não poderia ser mais diferente do que vimos nos recentes «Nos Idos de Março» e «Amor, Estúpido e Louco»), ficam um pouco aquém do esperado. A dupla de mafiosos então, interpretada por Albert Brooks e Ron Perlman, parece ser bastante forçada. Fazendo um trocadilho com o filme, quase que podíamos dizer que foi ali enfiada a martelo. Mesmo que as duas personagens não sejam melhores amigos, falta ali qualquer coisa para aquela relação entre mafiosos funcionar.
Não quero com isto dizer que «Drive - Risco Duplo» seja um mau filme. Nada disso. É um daqueles filmes que se vê bem e até enche o olho. Quem gosta de Cinema, sobretudo quem não quer ver mais um daqueles filmes de acção chapa 4, não sai defraudado da sessão. O problema é mesmo quando começamos a pensar um pouco mais a sério nele, por vezes mesmo durante o visionamento, e parece um pouco vazio. Mesmo sendo um dos filmes obrigatórios do ano, não consigo perceber tanto alarido. Nem a favor, nem contra. Talvez o meu problema tenha sido o facto de ter entrado na sessão com as expectativas demasiado elevadas.
Nota: 3/5
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