Martin Scorsese fez um filme para um público mais jovem. E em 3D. Ditas desta forma, assim simples, as duas frases anteriores poderiam parecer mentira há alguns anos. Mas hoje, neste ano da graça de 2012, não são. Martin Scorsese, o realizador de «Taxi Driver», «Tudo Bons Rapazes» ou o mais recente «The Departed - Entre Inimigos», conseguiu a proeza de juntar num só filme aquelas duas características que lhe desconhecíamos, criando uma obra singular no seu percurso, que só não é de todo estranha aos seus fãs devido à homenagem que faz aos primórdios do Cinema e a um dos grandes nomes dos primeiros anos da Sétima Arte, que levou a magia a entrar directamente no grande ecrã: George Mélies.
Baseado num livro de Brian Selznick, «A Invenção de Hugo» narra as aventuras de Hugo Cabret (Asa Butterfield), uma criança órfã que vive numa estação de comboios de Paris nos anos 1930, onde trata da manutenção dos relógios, métier que lhe foi ensinado pelo tio alcoólico. Durante as suas divagações diárias trava conhecimento com o dono de uma loja de brinquedos, a quem rouba peças para reconstruir um autómato que o pai de Hugo tinha encontrado antes de morrer. É durante esta tentativa de reconstrução do autómato que Hugo conhece Isabelle (Chloë Grace Moretz), filha do dono do loja, que mais tarde as duas crianças descobrem ser George Mélies (Ben Kingsley).
Este filme não podia ser mais diferente das obras anteriores de Martin Scorsese. Aqui não há gangsters nem mafiosos (o mais próximo que temos disso é um Sacha Baron Cohen a fazer de guarda da estação, mau como as cobras, mas mesmo assim, longe de ser um grande vilão), apenas uma história simples que nos leva a conhecer um pouco mais a magia da Sétima Arte, com a ajuda de um dos pioneiros dos efeitos especiais. E a descoberta do Cinema pelos dois jovens protagonistas é das mais belas sequências de «A Invenção de Hugo». Talvez seja precisamente devido à presença de Mélies (e alguns dos seus filmes e a sua filmagem são recriados no filme de Scorsese) que este filme tenha sido feito em 3D, actualmente a técnica que mais aproximará a Sétima Arte da magia. Não tive oportunidade de ver esta versão, mas diz quem viu que está bastante bem conseguida e Scorsese já admitiu ter ficado fascinado com as potencialidades da tecnologia.
Apesar de alguns bons momentos, o grande defeito de «A Invenção de Hugo» é que não parece ser um filme realizado por Martin Scorsese, mas antes por Steven Spielberg. Que por acaso até tem um filme novo nas salas por estes dias e recentemente lançou uma adaptação de Tintim em 3D. O fascínio da descoberta do Cinema está lá, mas aparentemente falta ali um rasgo de génio do realizador nova-iorquino. O que não significa que «A Invenção de Hugo» não deixa de ser um belo filme, apesar de ser uma 'carta fora do baralho' no conjunto da obra de Martin Scorsese.
Nota: 3/5
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