A mania dos remakes em Hollywood é algo que não vem de hoje. Mas além de ser uma mania, quase tão irritante como a das sequelas desnecessárias, o pior é quando os remakes não vêm acrescentar nada de novo em relação ao original, que ainda está relativamente fresco na nossa memória (foi só em 2009 que Niels Arden Oplev adaptou o primeiro episódio da trilogia). A sensação que tive ao ver esta adaptação de David Fincher foi a mesma que tive há uns anos quando estreou «The Departed - Entre Inimigos», de Martin Scorsese, um remake de um dos meus filmes favoritos na altura («Infernal Affairs - Infiltrados», de Wai-keung Lau e Alan Mak). Não é um mau filme, mas desilude quem gostou do original. O tempo acabou por curar o meu problema em relação ao filme de Scorsese quando o voltei a ver mais tarde e provavelmente irá acontecer o mesmo com este filme quando o vir no futuro. A lição que retirei do filme que finalmente deu o Óscar ao realizador de «Taxi Driver» foi que para vermos um remake temos de esquecer o original.
Depois desta introdução, vamos então ao filme de Fincher, o realizador incumbido de fazer a versão americana do primeiro volume da trilogia Millennium, do sueco Stieg Larsson (quem não conhecer os livros, recomendo bastante, sobretudo este primeiro tomo). No centro da história temos uma investigação feita por Mikael Blomkvist (Daniel Craig), um jornalista caído em desgraça depois de uma reportagem que em vez de furo saiu furada, que é contratado por Henrik Vanger (Christopher Plummer) para descobrir a verdade sobre o desaparecimento de uma sobrinha. Esta investigação acaba por trazer à luz do dia os segredos mais obscuros da família Vanger, que no passado teve ligações a movimentos nacionalistas. Para ajudá-lo na sua tarefa, Mikael conta com a ajuda da jovem hacker Lisbeth Salander (Rooney Mara). Todos estes ingredientes tornam «Millennium 1 - Os Homens Que Odeiam as Mulheres» uma história negra q.b. para corresponder ao que temos visto anteriormente na obra de Fincher.
Como disse lá mais acima, «Millennium 1 - Os Homens Que Odeiam as Mulheres» não é um mau filme, pois estamos perante uma obra de um dos realizadores mais regulares do actual panorama de Hollywood. Goste-se ou não do seu meio de origem (os videoclips), David Fincher é um daqueles nomes que sabe o que faz quando está na cadeira de realizador. E aqui nada falha: uma boa direcção de actores, boas interpretações (Rooney Mara está muito bem, mas é difícil esquecer a Lisbeth Salander de Noomi Rapace), um ambiente negro bastante adequado à série,uma bela fotografia que nos leva mesmo a ter frio na gélida Hedestad onde decorre parte da acção e uma banda sonora quase genial, uma vez mais assinada pela dupla Trent Reznor e Atticus Ross que já tinha trabalhado com Fincher no filme anterior. Só a versão de «Immigrant Song», a banda sonora destacada esta semana e que surge no genérico inicial, é simplesmente viciante. O resto é tal e qual o que a dupla já tinha feito em «A Rede Social»
Tudo isto está bem. O diabo está nos detalhes, como diz o ditado popular. E esses detalhes estão espalhados pelo filme. Por exemplo, compreende-se que as personagens falem inglês, faz todo o sentido visto ser uma adaptação americana. Não faz sentido é grande parte das personagens ter um ligeiro sotaque. O mesmo acontece com alguns elementos dos cenários, sobretudo quando vemos as personagens a pegar em livros e revistas e reparamos que estas publicações são em sueco. São pequenos pormenores, que a juntar ao facto de o remake em si não trazer nada de novo em relação ao original, que acabam por desiludir. Para quem não viu o filme de Niels Arden Oplev, talvez este seja um grande filme (tirando estes pequenos detalhes, até é). Mas para quem ainda tem a primeira adaptação fresca na memória, o mais recente filme de David Fincher acaba por ser uma grande desilusão. Talvez daqui a alguns anos a minha opinião em relação seja diferente. Por agora, é esta.
Nota: 3/5
Site oficial do filme
Site do filme no IMDB
Fúria Sangrenta & A Fortaleza dos Imortais
Há 9 horas
Eu até gostei do Departed. Até porque é diferente do Inffernail Affairs, não é por exemplo como o remake do Psycho que pode ter os seus méritos mas é plano a plano idêntico ao filme de Hithcock.
ResponderEliminarSendo um remake está condenado a ter a mesma história que o original (ou não veja-se Asas do Desejo e Cidade dos Anjos).
Este é um bocado como o Departed talvez.
Fiquei com a sensação é que o Sueco consegue contar praticamente as mesmas coisas em menos tempo. Fincher estica-se principalmente no final. Depois percebe-se porquê, tem a ver com a forma como ele retrata a relação dos dois, diferente do sueco (como é no livro? :P)
A banda sonora é bom sim, uma das razões que mais me entusiasmava para ver o filme.
Também estranhei o facto de supostamente ser tudo sueco e eles falarem inglês com sotaque. É o máximo até onde podem ir num filme americano cujas personagens são estrangeiras lol.
E gostei muito da Rooney Mara, por vezes fez-me esquecer a outra confesso. Quando está com pouca roupa por exemplo :P
Eu do Departed só consegui gostar mesmo da segunda vez que o vi e reconheço que é um grande filme. Mas temos de nos esquecer do original. Pelo menos comigo teve de ser assim porque gosto mesmo muito do Infernal Affairs.
ResponderEliminarNo que diz respeito ao sueco, é a tal coisa, como gostei bastante, este pareceu-me que não veio trazer nada de novo. Aliás, nem sequer podiam mudar a história porque no essencial tem de ser fiel ao livro (e por falar nisso, penso que há uma parte no final do filme do Fincher que é completamente diferente do livro, mas confesso que me distraí um pouco no final da sessão e perdi o fio à meada por essa altura :S mas pelo menos uma das cenas é do segundo livro, isso tenho quase a certeza. Relativamente à relação entre os dois, penso que está melhor explicada e mais fiel ao livro nesta adaptação).
A banda sonora foi feita por uma grande dupla, nada a assinalar.
Esses pequenos pormenores fizeram-me só um bocado de confusão, mas pronto.
Eu não consegui esquecer a primeira Lisbeth, apesar de também achar que a Rooney Mara está muito bem. Nesse aspecto da pouca roupa também tenho de concordar :)
E em relação ao product placement, não achaste excessivo?
ResponderEliminarIsso passou-me ao lado. Por acaso é daquelas coisas que nunca reparo muito, já é tão normal
ResponderEliminarEsta crítica mereceu destaque na rubrica «A “Polémica” do Mês» do Keyzer Soze’s Place, disponível aqui: http://sozekeyser.blogspot.com/2012/01/polemica-do-mes-8.html
ResponderEliminarCumps cinéfilos!
Obrigado Sam. É sempre bom ver o nosso trabalho reconhecido :)
EliminarCumprimentos cinéfilos
Esta é a melhor review que li deste filme, precisamente por teres enveredado pela melhor perspectiva sobre este caso.
ResponderEliminarO quanto concordo e subscrevo totalmente toda a review, princiapalmente a inteligente expressão "para vermos um remake temos de esquecer o original." Tudo verdade! Há tempos vi o Departed na tv e já o achei melhor...
Diria que neste remake há decisões que não têm a mesma lógica que o original apresentava, assim como o original faz ainda uma manutenção do tom misterioso continuamente, algo que no de Fincher é a espaços. O final do original é igualmente cativante e pede para se ver o resto, enquanto que no do Fincher é um final simplesmente aborrecido e anti-climax.
Quanto á discussão daqui, realmente eu esperava ao menos que tivessem adaptado a história à realidade americana e não permanecer com tudo sueco. Assim o filme parece um hibrido estranho.
Só reforça a ideia que sempre tive da forma dos americanos importarem filmes estrangeiros com potencial de serem sucesso em terras americanas: faz-se um remake em Hollywood, a que chamo de importação industrial, para o filme não ter legendas.
Obrigado ArmPaulo Fer. Aprendi bastante sobre remakes precisamente com os dois filmes que dou como exemplo («Infernal Affairs» e «The Departed»).
ResponderEliminarPenso que este remake faz parte da lógica de Hollywood de tentar fazer dinheiro com algo que já teve sucesso e alguém quer capitalizar esse sucesso à força toda. Para mim não faz sentido, sobretudo quando o original já é bastante bom e este não traz nada de novo. Nada contra a adaptação do Fincher, que acho boa, mas lá está, não me diz nada porque já tinha visto o outro. Talvez este esteja melhor a nível técnico. E claramente há sempre essa tentativa de tirar as legendas aos filmes, por isso é que estreiam tão poucos filmes estrangeiros nos EUA.
O final deste é mais fiel ao livro do que o filme sueco, que confesso já não me lembrar bem. Mas como dizes que é diferente, então não tem muito a ver com o livro. Mas também não nos podemos esquecer que o sueco já foi feito com a intenção de ser uma trilogia em filme. Penso que não é o caso deste remake, não sei. Daí o primeiro talvez ter o tal final com um climax mais bem conseguido.
A questão da adaptação à realidade americana acho que não faria muito sentido, até porque uma grande parte da história remete precisamente para aspectos culturais da Suécia. Se fossem por aí, acho que o resultado final iria ficar bastante descaracterizado. O que me fez um bocado confusão foi mesmo ter elementos em sueco e as personagens a falarem em inglês. Mas são opções e eles lá saberão porque as tomaram.
Cumprimentos
Loot: "E em relação ao product placement, não achaste excessivo?"
ResponderEliminarEu achei um excesso o cameo do logo dos Nine Inch Nails na camisola do hacker/dealer. Podia ser de outra banda qualquer (uma banda de metal ou punk, por exemplo).
Da mesma forma achei que o genérico inicial, apesar de ser bastante bom, nada faz pelo filme, que até o coloca como um filme de aventuras (que não é) ou à lá James Bond, mostrando como indicação spoiler quais são as personagens heróicas para adorar, no remake. Percebe-se imediatamente que há muito investimento por trás deste remake e coloca logo o foco nas personagens intencionalmente, quando é perfeitamente desnecessário. O argumento é que nos deve levar a descobrir a saber.
acrescento, o que disse noutro espaço do Sam(uel):
"O filme do Fincher está bem feito (som, cinematografia, planos de camera e tal mas...), tudo isto num serviço que lembra o estilo de Zodiac.
Bom filme quando o sueco é uma obra excelente... que poucos quiseram ver por nao ser americano ou feito por gente sem o estatuto de Hollywood. Penso eu...
Classificação:
original sueco - 9/10
remake americano - 7/10"
Por acaso eu gostei da referência aos NIN. Acho que foi uma brincadeira que fizeram ao Trent Reznor e não é uma banda que destoa na cena. eu acredito que aquele senhor ouve NIN logo para mim funciona e NIN é grande :)
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