Um ano depois o IndieLisboa cresceu. De uma sala (o Cinema São Jorge, que encerrou para obras logo a seguir à primeira edição do Indie), o festival passou a ocupar o King e o Fórum Lisboa. Em 2005 foi também a primeira vez que a organização escolheu um país convidado como herói independente, honra que coube à Argentina. A propósito desta homenagem ao cinema que se faz no país sul-americano, esteve presente em Lisboa o realizador Lisando Alonso, que apresentou alguns dos seus filmes e integrou o júri da competição principal. Deste cineasta, hoje considerado de culto, tive a oportunidade de assistir ao filme «La Libertad».
As restantes memórias desta segunda edição do Indie, organizada um pouco em cima do joelho dado o curto espaço temporal entre as duas primeiras edições, vão para o outro herói independente, o chinês Jia Zhangke, que foi alvo de um ciclo integral durante o festival, e para um dos filmes que continua a ser um dos meus preferidos de todas as edições do certame: «Aaltra», a genial estreia da dupla Gustave de Kervern e Benoît Delépine.
Infiltrados e Infernal Affairs II, de Wai-keung Lau e Alan Mak - o meu primeiro contacto com esta magnífica trilogia, que Martin Scorsese mais tarde iria utilizar como base para «Entre Inimigos», não se deu no Indie, pois o primeiro (e melhor) capítulo teve estreia comercial. A ideia da organização do Indie era, a propósito da suposta distribuição em sala, fazer uma antestreia da trilogia, passando-a no festival em três sessões seguidas. A trilogia nunca chegou ao circuito comercial e porque a logística de um espectador de festival não é tarefa fácil, tive de deixar cair o terceiro episódio, que apenas veria mais tarde em DVD. Em substituição foi ver um outro filme, que acabaria por estrear, quando quase ninguém pensava que tal acontecesse. Mas a experiência de ver estes dois episódios em sala compensou.
Aaltra, de Gustave de Kervern e Benoît Delépine - quando referi ali em cima que tinha trocado o terceiro episódio da trilogia «Infernal Affairs» por um outro filme, os grandes responsáveis foram dois senhores belgas. Gustave de Kervern e Benoît Delépine trouxeram à segunda edição do Indie aquele que é para mim, ainda hoje, um dos meus filmes preferidos de todos os que tive oportunidade de conhecer no festival. Uma comédia negra, com toques de Kaurismaki (o realizador finlandês tem um pequeno e delicioso cameo no final), que pode muito bem ser definido como um road movie em cadeiras de rodas, como foi apresentado na altura. Com uma descrição destas, dificilmente seria de esperar ver Aaltra a chegar às salas. Acabou por chegar.
Plataforma, de Jia Zhangke - apesar de ser um dos homenageados e mesmo tendo sido alvo de uma retrospectiva integral no festival, foi difícil acompanhar o ciclo dedicado a Jia Zhangke. Tive a sorte de assistir a «Plataforma», filme que acabou por servir de porta de entrada para a obra deste cineasta chinês, cujas mais recentes longas metragens tenho vindo a acompanhar, pois é dos raros casos em que a distribuição portuguesa se lembra de estrear filmes de realizadores deste país.
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