Antes de Ingmar Bergman se aventurar na realização de filmes, foi um grande argumentista. Aliás, muitos dos seus filmes seriam baseados em argumentos da sua autoria. E foi precisamente este «Tortura» em 1944 que marcou a sua estreia na escrita para cinema, dois anos antes de realizar o seu primeiro filme.
«Tortura» é um filme que tem no centro um liceu onde um dos professores é considerado um sádico tirano pelos seus alunos. São poucos os que não têm medo desta figura a quem deram a alcunha de Calígula (Stig Järrel). No seu oposto está um aluno que foi chumbado por não ter estudado a lição. Por sua vez, a fechar o triângulo das personagens principais de «Tortura» está uma rapariga, que trabalha numa tabacaria e se enamora pelo rapaz.
Com o desenrolar do filme vemos que todos têm os seus traumas pessoais e como é complicado ultrapassá-los. Uma das marcas da obra futura de Bergman, que também aqui começou a filmar algumas das cenas. Desde o professor que diz ter problemas com nervos e que o levaram a passar um tempo internado no passado ao estudante que não aguenta a pressão de ter chumbado, passando pela jovem que tem medo de estar sozinha porque alguém vai ter com ela.
Uma das partes mais expressivas de «Tortura» é precisamente o quarto da jovem, onde o jogo de sombras criado por Sjöberg está muito bem feito e faz lembrar a tempos o expressionismo alemão dos anos 1920, nomeadamente quando vemos a sombra de uma mão a aproximar-se da rapariga, numa das cenas. Poderia dizer-se que quase sentimos a presença de Nosferatu, se bem que aqui a sombra não é sobrenatural.
Filmado no final da II Guerra Mundial, «Tortura» foi visto na altura como um filme de oposição ao nazismo. Daí a figura do professor ser visto como uma autoridade demasiado forte dentro da sala, mas que na realidade não o é por dentro devido aos seus problemas psicológicos. Ao mesmo tempo, «Tortura» apresenta de certo modo o ambiente das escolas naquela altura.
Nota: 4/5
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