Este filme não é uma adaptação de uma autobiografia escrita por Nicolae Ceausescu, o homem que liderou, para o bem e para o mal, o Partido Comunista Romeno (PCR) e os destinos da Roménia entre 1965 e 1989. Até porque tal obra não deverá existir, pelo menos que se conheça. O mais recente filme de Andrei Ujica é um documentário feito apenas e só com imagens de arquivo do antigo ditador romeno, onde podemos acompanhar o período que vai desde a morte de Gheorghiu-Dej, o seu antecessor, até ao julgamento, onde se encontra acompanhado pela sua companheira de sempre Elena, que iria ditar o seu destino final, no dia de Natal de 1989.
Não sendo uma autobiografia oficial de um líder comunista, este fabuloso exercício cinematográfico mostra ao longo de três horas inúmeros episódios de um dos regimes socialistas mais sui generis do século XX (apesar de ser alinhado com a Rússia soviética e com o Pacto de Varsóvia, a Roménia foi um dos primeiros países do bloco socialista a receber um líder norte-americano, Richard Nixon, e chegou mesmo a condenar a invasão da Checoslováquia em 1968), de forma coerente, o que levou o realizador a optar por um título com uma enorme carga irónica. Não é, mas podia ser uma autobiografia de Nicolae Ceausescu.
De resto, o caso romeno, apesar das suas particularidades, não deveria ser muito diferente dos seus restantes camaradas. Vivia para a propaganda, que se vê nas inúmeras festas de aniversário (do líder, do partido, da libertação do fascismo, etc.), para a defesa da igualdade entre os povos, para a burocracia (veja-se por exemplo a cena em que Ceausescu propões inúmeros comités para uma fábrica). Este documentário mostra tudo isso e ao mesmo tempo mostra-nos um retrato de um século XX bastante diferente do que era o cenário do Ocidente.
Sem nunca recorrer a voz off, mais do que nunca aqui as imagens valem mesmo por mil palavras, Andrei Ujica só falha num pormenor: a falta de contextualização das imagens e personalidades que vão aparecendo. Se para quem conhece a História é fácil perceber o que se passa, quem a desconhece perde um pouco a noção dos episódios, a não ser quando estes elementos surgem nas próprias imagens. O mesmo acontece com as personalidades que vão visitando ou recebem o casal Ceausescu. Sé é fácil reconhecermos Nixon ou a família real britânica, não será de todo fácil para a maioria dos espectadores reconhecer outras personalidades, mesmo alguns líderes soviéticos como Brejnev. «A Autobiografia de Nicolae Ceausescu» é assim um daqueles documentários históricos que conseguem ser uma janela para o passado, não tão longínquo como isso.
Nota: 4/5
Site oficial do filme
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