Poucos cineastas se podem gabar de ter uma obra tão longa como o chileno Raúl Ruiz, falecido há dias, vítima de cancro. Desde 1963 e até 2010 realizou um total de 112 filmes, entre longas e curtas, ficção e documentário, o último dos quais o extraordinário «Mistérios de Lisboa», uma tarefa de peso cujo resultado esteve à altura do génio de Camilo Castelo Branco. Já em 1999 Raúl Ruiz se tinha voltado para uma outra grande obra, em vários sentidos, da Literatura mundial: «Em Busca do Tempo Perdido», de Marcel Proust.
É o último dos sete volumes desta obra de Proust, «O Tempo Reencontrado», que dá o título ao filme, que começa por nos mostrar o escritor acamado e às portas da morte. Depois de ditar um trecho do livro à sua empregada, começa a olhar para fotografias do passado e recorda a sua vida e a das personagens de «Em Busca do Tempo Perdido». Não conhecendo o material de base, apesar de ter muita curiosidade em conhecê-lo, é-me difícil comparar o filme com o livro, que é considerado uma das obras-primas da Literatura mundial.
Esta adaptação de Raúl Ruiz, que conta com um enorme elenco recheado de grandes estrelas (Catherine Deneuve, Emmanuelle Béart, Vincent Perez, John Malkovich ou Pascal Greggory, para focar apenas alguns dos nomes mais conhecidos), é um belo filme, que retrata não só uma certa sociedade francesa do final do século XIX e início do século XX, mas também as relações entre os vários membros desta sociedade, a vários níveis, focando temas como o amor, a infância, a homossexualidade ou a guerra. Tal como em «Mistérios de Lisboa» a recriação de época está bastante bem conseguida.
Mas, talvez fruto dos delírios do narrador, que é o próprio Proust que vai recordando episódios da sua vida, o filme acaba por se tornar um pouco confuso. Além do recurso a elementos oníricos, sobretudo no início do filme, os inúmeros avanços e recuos na narrativa forçam-nos a estar demasiado atentos, pois à mínima distracção corremos o risco de perder o fio à meada. Outro dos problemas em «O Tempo Reencontrado» é uma certa perda de ritmo quando começa a chegar ao final, algo que num filme com cerca de duas horas e meia pode levar o espectador a entrar em desespero. Agora falta ler a obra de Proust para poder compará-la com a sua adaptação, que pelo menos serviu para abrir o apetite.
Nota: 3/5
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