Apesar da sua curta carreira (seis filmes, um dos quais para televisão, e duas curtas metragens) como realizador, Jacques Tati deixou uma marca bastante original na história do cinema francês. «Há Festa Na Aldeia», realizado em 1949, foi a sua primeira longa-metragem para Cinema, depois de duas curtas. Neste filme Tati ainda não interpreta o Senhor Hulot, personagem que o tornou famoso, mas o carteiro François, figura que já tem algumas características do que seria no futuro o já referido Senhor Hulot, nomeadamente os gags visuais. Neste caso, complementados por diálogos, algo que não acontece tanto nos filmes protagonizados por Hulot.
Em «Há Festa Na Aldeia» encontramos o François na sua tarefa quotidiana da entrega de cartas numa pequena aldeia, no dia em que se realiza a festa anual da povoação. Além de carteiro François é também um verdadeiro homem dos sete ofícios (dêem-lhe algo para arranjar e ele resolve o problema), o que acaba por atrasar consideravelmente a entrega da correspondência. Mas é durante a festa da aldeia e com a chegada dos donos de um carrossel e de bancas de jogos que vai piorar a situação. Entre paragens para beber um copo de vinho e ajudar quem precisa de ajuda, François é convidado para ver um filme sobre os carteiros americanos e os seus métodos de trabalho, completamente diferentes dos que está habituado. E vê-lo a fazer a volta à americana é um delírio, só ao alcance de poucos.
Tal como na sua restante obra, este é um filme que vive muito dos gags visuais. Alguns não têm nada de novo, como as cenas da mosca, mas há outros, quase sempre protagonizados também pela bicicleta de François na segunda metade do filme, que estão muito bem conseguidos. Acaba por fazer lembrar alguns filmes mais clássicos, do período mudo, que viviam muito deste tipo de sequências. Mas, como boa comédia que se preze, tem também algumas boas falas para nos arrancar alguns sorrisos. E como sabemos que as personagens de Tati nunca foram de muitas palavras, nada como estar atento aos sábios reparos de uma anciã, que conhece todos na aldeia e funciona como uma espécie de narradora. «Há Festa Na Aldeia» ainda não é Tati no seu máximo, mas é uma bela porta de entrada no seu universo.
Nota: 4/5
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